CINEMA

Luc Besson transforma Drácula num romântico sofredor

Versão do diretor francês para o romance de Bram Stoker, que estreia nesta quinta-feira (7/8), acentua o caráter desiludido e trágico do personagem

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No livro, Conde Drácula é uma força do mal que ameaça a moral da sociedade vitoriana, representada pela figura pura, submissa e casta da jovem Mina. Foi Francis Ford Coppola, em seu “Drácula de Bram Stoker” (1992), quem primeiro ofereceu uma releitura do vampiro, tratando-o como um amante do século 15, dilacerado pela perda da esposa e condenado a viver eternamente por se voltar contra Deus. Ele passa séculos esperando cruzar com a reencarnação de sua Elizabeta e acredita encontrá-la em Mina.


É essa mesma linha que segue “Drácula: Uma história de amor eterno”, do cineasta francês Luc Besson (“O profissional”, “Lucy”), que estreia nesta quinta-feira (7/8) nos cinemas. Besson, diferentemente de Coppola, conta a história pela perspectiva do Conde Drácula, transformando-o numa espécie de herói byroniano, que transgride os padrões morais da sociedade sem perder a simpatia do público.


A trama se inicia no final do século 15. Conde Drácula (papel do ator e cantor Caleb Landry Jones) é o príncipe da Transilvânia que, em nome da Igreja, parte para os campos de batalha contra os mouros. Para proteger Elizabeta (Zoë Bleu) de possíveis retaliações, recomenda que ela se abrigue fora do visado castelo.


Morte em emboscada

A princesa acata a recomendação, mas, a caminho do novo refúgio, morre numa emboscada. Sem saber da tragédia, Drácula continua na guerra, até retornar vitorioso. Ao descobrir a morte da amada, mata o papa. Como maldição, é condenado a viver eternamente, alimentando-se de sangue humano.


Por mais que guerras e carnificinas fizessem parte de sua vida, matar em nome de Deus é algo com que ele não concorda. “Deus não ficaria mais satisfeito se vivêssemos em paz?”, pergunta ao sumo pontífice, antes de partir para a batalha. A frase – irônica e incômoda – antecipa traços da personalidade de Drácula que serão revelados ao longo do filme: um ser humanizado, consciente das incoerências humanas e das hipocrisias religiosas.


Drácula passa 400 anos recluso em seu castelo, atormentado pela própria imortalidade. Tudo muda quando o jovem Jonathan Harker (Ewens Abid) chega ao local – o motivo da visita não é explicado no filme, mas, a julgar pelo romance de Bram Stoker (1847-1912), subentende-se que ele está ali para assessorá-lo na compra de propriedades em Londres.


Durante o jantar, Jonathan menciona que está noivo e mostra uma foto de Mina, despertando o interesse de Drácula. A partir daí, a história segue os rumos do romance: o conde aprisiona Jonathan, viaja para Londres atrás de Mina, ataca sua melhor amiga e é caçado por um grupo de caça-vampiros.


Busca pelo rejuvenescimento

Ele, no entanto, não é um monstro vil. Não escolhe suas vítimas aleatoriamente. Pelo contrário, leva uma vida resignada, recusando-se a matar – alimenta-se apenas de sangue de ratos. Com isso, assume uma aparência decrépita e repulsiva. Só volta a desejar viver ao ver a foto de Mina. Então, retoma o consumo de sangue humano para rejuvenescer e parte para encontrá-la.


Em Londres, aproxima-se de Mina, despertando nela um conflito entre a razão e o desejo, fruto de uma conexão inexplicável. A relação se intensifica, marcada por sedução, culpa, lembranças nebulosas de uma vida passada e dilemas morais – afinal, ela está noiva de Jonathan.


Drácula tenta convencê-la de que estão ligados além do tempo e da morte. Mas, no fim, a história flerta com a tragédia. O vampiro é confrontado não apenas pelos caçadores, mas também pelos próprios dilemas éticos, entregando-se a um desfecho melancólico e profundamente romântico.


O longa é uma coprodução entre França e Reino Unido. De acordo com a emissora France 24, “Drácula: Uma história de amor eterno” é o filme francês de maior orçamento do ano e chega aos cinemas como tentativa de “renascimento” artístico de Luc Besson.

Carreira em xeque


O diretor enfrentou uma crise milionária após o fracasso de “Valerian e a cidade dos mil planetas” (2017), além de ter sido acusado de estupro pela atriz holandesa Sand van Roy – alegações que ele sempre negou e que foram arquivadas em 2023 por falta de provas.


Tal “renascimento” artístico se manifesta num filme visualmente deslumbrante e emocionalmente carregado – algo um tanto subjetivo levando em consideração a recente biografia do diretor. Besson abre mão do horror clássico para explorar a dimensão trágica e romântica da figura do vampiro.


Ainda que não escape de polêmicas, como a repetição de clichês da lógica amorosa tradicional, o cineasta produz uma obra coerente com sua proposta: um Drácula vulnerável, intenso e atemporal.


“DRÁCULA: UMA HISTÓRIA DE AMOR ETERNO”
(Reino Unido/França, 2025, 129 min.) Direção: Luc Besson. Com Caleb Landry Jones, Zoë Bleu e Christoph Waltz. Estreia nesta quinta-feira (7/8), nos shoppings BH, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Itaú, Minas, MonteCarmo, Partage, Pátio, Ponteio e Via.

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