ARTES CÊNICAS

Espetáculo de dança 'Bambo' estreia hoje (12/8) defendendo a liberdade

Montagem da Ananda Cia de Dança Contemporânea será apresentado nesta terça-feira à noite, no Parque Municipal, com entrada franca

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O que significa ser livre em uma sociedade que impõe regras invisíveis para enquadrar o que é “normal”? Essa é a pergunta que permeia “Bambo”, espetáculo da Ananda Cia de Dança Contemporânea, que estreia nesta terça-feira (12/8), no Parque Municipal Américo Renné Giannetti. A montagem não se limita a defender a liberdade do indivíduo oprimido, mas também propõe libertar o opressor das normas sociais segregadoras e excludentes.

“Eu mesma, ao longo da vida, já me peguei julgando e recriminando as pessoas com base em uma normatividade que não existe. Eram críticas à maneira de se vestir, falar e comportar”, conta a fundadora da companhia, Anamaria Fernandes. Ela assina a dramaturgia e dirige o espetáculo ao lado de Heleno Carneiro.

De maneira lúdica e sutil, os corpos dos bailarinos Luana Magalhães e Samuel Carvalho traduzem a ideia de que todos podem ser o que quiserem. Mas isso não significa que não enfrentarão desafios. Em boa parte da performance, os dançarinos precisam se moldar aos elementos cênicos – uma gangorra, tábuas e uma corda de slackline – numa situação de submissão à condição imposta. De vez em quando, essa relação se inverte e eles passam a controlar os objetos em cena.

Certo versus errado

Essa interação entre corpos e elementos cria um campo de negociação constante. O simples ato de viver torna-se um território vigiado, delimitado por fronteiras invisíveis que definem o que a sociedade considera certo ou errado, muitas vezes sem amparo científico ou filosófico. “Basta lembrarmos a fala de Damares (Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos; e atual senadora): ‘Menino veste azul e menina veste rosa’”, compara Anamaria.

Nessa perspectiva, a gangorra é peça central de “Bambo”. Ela representa a alternância do lugar de destaque, funcionando como metáfora do mundo externo, da sociedade que dita regras. Revela como as pessoas tentam se equilibrar diante dessas normas impostas e como os corpos se adaptam ou encontram um espaço de liberdade dentro desse contexto.

O objeto é uma referência clara à performance “See-saw”, que a coreógrafa norte-americana Simone Forti estreou na década de 1960. Na intervenção da artista, dois intérpretes movimentavam-se sobre uma longa tábua apoiada em um cavalete, transformando o objeto não apenas em um “instrumento de equilíbrio para duas pessoas”, mas também em “um organismo vivo no jogo da tensão e do movimento”, conforme explicou sua criadora.

Anamaria ressignifica a gangorra ao inserir na performance questões de identidade aliadas ao conceito de liberdade. Embora não faça referência direta à causa LGBTQIA+, “Bambo” carrega em sua essência a defesa das pautas e reivindicações desse grupo. “Achei interessante trazer a gangorra de ‘See-saw’ para trabalhar questões de violência nas relações humanas. A Ananda já fez um espetáculo que aborda a violência contra a mulher. Então, surgiu a ideia de falar da violência contra a população LGBTQIA+”, explica Anamaria.


“O Brasil, atualmente, lidera o ranking de países que mais matam pessoas LGBTQIA+, e a maioria das vítimas é de pessoas trans. Conhecemos as estatísticas, mas também vemos isso acontecer no dia a dia. Por exemplo, violência contra crianças cuja gestualidade não corresponde aos padrões normativos. É um pai que dá um tapa no filho porque ele segura uma bolsa de forma afeminada”, continua a diretora.

Diversidade

Por se identificar como mulher cis – cuja identidade de gênero coincide com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer –, Anamaria convidou artistas trans para ajudar na concepção de “Bambo”. Entre eles, estão o codiretor Heleno Carneiro e o músico Karim Angelo, responsável pela trilha sonora executada ao vivo.


“Sou de 1969. Na minha época, não se discutia construção identitária – pelo menos, não no meu universo. Nunca me perguntei se eu era mulher cis ou não, porque tudo que não era cis era considerado homossexualidade. Isso não ocorria apenas por falta de informação, mas também porque regras sociais latentes e invisíveis sempre ditaram o mundo, sem a necessidade de serem explicitamente faladas. Essas regras influenciaram fortemente as escolhas das pessoas e a construção de suas identidades”, afirma Anamaria.


“Bambo”, portanto, procura quebrar essas regras. Para isso, além da dramaturgia e da performance, lança mão do figurino assinado por Nazca Dias. As roupas foram pensadas para não definir gênero, permitindo a transformação e representando a fluidez ou a transição a partir de peças que possibilitam ver diferentes gêneros em um só. Em algumas cenas, por exemplo, Samuel Carvalho calça sapatos de salto alto e Luana Magalhães veste um bermudão jeans. Os dois chegam até a vestir, juntos, uma única blusa, emulando a diversidade de gêneros em um único ser.

Giro em BH

Após a estreia, o espetáculo seguirá para o Centro Cultural Venda Nova (14/8), Praça Cristo Rei (16/8), Praça Duque de Caxias (também em 16/8) e Parque Lagoa do Nado (17/8). Com entrada gratuita e itinerante, “Bambo” convida o público a se equilibrar na gangorra invisível das normas sociais, refletindo sobre a liberdade e o direito de ser quem realmente se é.


PROGRAME-SE

• 14/8, às 10h, no Centro Cultural Venda Nova (Rua José Ferreira Santos, 184, Jardim dos Comerciários)
 16/8, às 10h, na Praça Cristo Rei, no Barreiro
• 16/8, às 16h, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza
• 17/8, às 10h, no Parque Lagoa do Nado (Rua Min. Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã, Portaria 2)


“BAMBO”

Espetáculo da Ananda Cia de Dança Contemporânea. Direção: Anamaria Fernandes e Heleno Carneiro. Dramaturgia: Anamaria Fernandes. Elenco: Luana Magalhães e Samuel Carvalho. Nesta terça-feira (12/8), às 19h, Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Entrada franca.

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