Grupo Galpão se apresenta de graça na Praça da Liberdade
Companhia encena ‘De tempo somos’, espetáculo que revê sua trajetória em formato de musical, neste domingo (21/9), como atração do Quintal do Memorial
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Com 43 anos, o Grupo Galpão soma hoje 26 espetáculos. Três deles estão em seu repertório atual. Neste domingo (21/9) a companhia deixa de lado a imersão na obra de José Saramago em “(Um) Ensaio sobre a cegueira” – um acontecimento teatral deste 2025 – para se voltar para a própria história.
“De tempo somos – Um sarau do Grupo Galpão” é a atração do Quintal do Memorial, projeto do Memorial Minas Gerais Vale. A montagem será apresentada às 19h, na Praça da Liberdade, encerrando a programação do evento, que terá a presença de DJs.
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Em pouco mais de uma hora, e com 25 canções, o Galpão repassa, por meio da música, seus grandes momentos, no palco e nas ruas. A costura é feita por textos. O sarau foi lançado em 2014 e se tornou um dos espetáculos mais apresentados do grupo – está se encaminhando para chegar às 250 apresentações.
“De tempo somos” marca ainda a estreia das atrizes Lydia Del Picchia e Simone Ordones como diretoras. O espetáculo nasceu para o palco e ganhou ruas e praças. “Esse é um dos motivos da longevidade”, comenta Lydia. “No momento em que foi para a rua, foi para qualquer lugar”.
Espetáculo sem cenário
Com essa montagem, o Galpão completou, em 2024, sua passagem por todos os estados brasileiros. “Fizemos, no final do ano passado, os quatro que faltavam: Amapá, Rondônia, Acre e Roraima. Como não tem cenário, ele tem essa facilidade de mobilidade.”
A gênese de “De tempo somos” remonta a 25 anos atrás, conta Lydia. “Em 2000, a gente estava sem patrocinador, sem a agenda muito recheada e o Chico (Pelúcio) propôs que aproveitássemos o tempo para estudar um pouco mais música.”
Os estudos musicais logo envolveram o cantor, compositor e arranjador Fernando Muzzi, que já trabalhava com o grupo na época. Ele começou uma série de oficinas com os atores, e o que era estudo foi se tornando um pocket show, que, por seu lado, se tornou o espetáculo “Um trem chamado desejo” (2000), dirigido por Pelúcio.
“Nosso desejo de fazer um espetáculo musical veio dessa época e foi atravessando os anos”, conta Lydia. Em 2013, durante uma temporada de “Os gigantes da montanha”, quando o Galpão voltou a trabalhar com o diretor Gabriel Villela, a música voltou com tudo.
Era uma turnê no Vale do Jequitinhonha. Na cidade de Jequitinhonha, numa noite de folga, com a lua cheia dominando o sítio onde a trupe se hospedava, eles começaram a cantar numa roda de cerveja. Luiz Rocha e Regina Souza eram os músicos convidados do espetáculo. Foi Rocha quem começou a puxar o repertório de “Romeu e Julieta”. “Ali fortaleceu, de novo, a ideia de um espetáculo musical”, comenta Lydia.
Exercício do desejo
De volta a Belo Horizonte, os atores começaram, efetivamente, a estudar um repertório para um espetáculo que levasse a música de suas tantas montagens até ali para o centro da cena. “A gente não tinha agenda, nem projeto aprovado, tampouco dinheiro para fazer. Ele nasceu como um exercício do nosso desejo”, diz Lydia.
O Galpão sempre foi coletivo. Em toda montagem, atores dirigem uns aos outros, em workshops preparatórios. Na época, Lydia e Simone dirigiram alguns deles. Foi Pelúcio quem sugeriu que as duas dirigissem o espetáculo, o primeiro do Galpão que não tem história nem personagens. A seleção das canções foi democrática, com todo mundo dando pitaco.
“Romeu e Julieta”, o clássico do grupo mineiro, ganhou um pot-pourri. O repertório traz também “Lua” (de “A rua da amargura”), “Serra da Boa Esperança” (de “Pequenos milagres”), “Canção dos atores” (de “Um Molière imaginário”), assim como fragmentos de textos de autores como Eduardo Galeano, José Saramago, Nelson Rodrigues, Charles Baudelaire e Paulo Leminski.
Uma questão definida logo no início foi que o grupo não trabalharia com os arranjos originais das canções. “Queríamos dar uma repaginada, a intenção não era fazer uma cópia”, afirma Simone. Para reunir o repertório, foi pensada uma “temperatura do tempo do cantar”. Eles começaram o espetáculo pensando no outono, seguiram para o inverno, o verão e terminaram na primavera.
Ter as duas atrizes dirigindo seus colegas no grupo – que até então só havia tido uma diretora, Yara de Novaes, que assinou o espetáculo “Tio Vânia” (2011) – foi uma experiência nova para o Galpão. “Foi muito positivo, pois acho que há uma camada feminina no espírito da peça”, diz Simone.
QUINTAL DO MEMORIAL
Neste domingo (21/9), a partir das 13h, na Praça da Liberdade, em frente ao Memorial Minas Gerais Vale. O espetáculo “De tempo somos – Um sarau do Grupo Galpão” será apresentado às 19h. Gratuito.