Beth Goulart volta a BH com o monólogo ‘Simplesmente eu, Clarice Lispector’
Espetáculo que estreou em 2009 e entrelaça a vida da escritora e suas personagens tem sessões de sexta (19/9) a domingo no Sesiminas, com ingressos esgotados
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Fisgada pela escrita de Clarice Lispector ainda na adolescência, a atriz Beth Goulart teve um encontro tão significativo com a autora que se estendeu pelo resto da vida e desaguou, em 2009, na estreia de “Simplesmente eu, Clarice Lispector”.
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Beth Goulart traz o monólogo a Belo Horizonte neste fim de semana – com ingressos já esgotados – no contexto das comemorações de seus 50 anos de carreira. Filha do lendário casal de atores Nicette Bruno e Paulo Goulart, ela começou no teatro aos 13 anos e ganhou projeção nacional em novelas da Globo, como “O clone” e “Paraíso tropical”.
Beth recorda que, ao entrar em contato pela primeira vez com a escrita da ucraniana naturalizada brasileira, teve a sensação de que Clarice “olhava para ela e a conhecia por dentro”.
Desde a estreia, o espetáculo percorreu quase 300 cidades no Brasil. “Sou fascinada pela capacidade que Clarice Lispector tem de olhar dentro da gente, de conseguir perceber sutilezas da humanidade que nos conectam uns aos outros. Ela tem uma capacidade de percepção muito sutil sobre essas questões internas. Consegue enxergar o poder divino por trás das coisas mais simples do cotidiano. Tudo isso me encanta profundamente na obra dela”, afirma.
Carreira no teatro
Esse é o terceiro solo da carreira da atriz, que já protagonizou “Perdas e ganhos”, inspirado no livro homônimo de Lya Luft (1938-2021), e “Dorotéia minha”, baseado nas cartas de amor entre o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) e a avó de Beth.
“Simplesmente eu, Clarice Lispector” foi desenvolvido ao longo de dois anos de pesquisa sobre a obra da autora. “É um teatro sem muitos elementos cênicos e muito centrado na figura do intérprete. O ator é o grande condutor do espetáculo”, explica Beth Goulart, que, em cena, interpreta uma figura híbrida entre ela mesma e Lispector.
A atriz se desdobra em quatro personagens da obra de Clarice, cada uma representando facetas diferentes da escritora. Joana, de “Perto do coração selvagem”, simboliza o impulso criativo. Ana, do conto “Amor”, é uma dona de casa dedicada ao marido e aos filhos. Lori, de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, personifica o próprio sentimento do amor, observando como ele se manifesta no cotidiano.
Por fim, a protagonista do conto “Perdoando Deus” traz traços de ironia e humor. Clarice como personagem também aborda temas como solidão, angústia e mistério, além de seu processo de escrita e sua maneira de encarar a vida.
Mudanças proporcionadas pelo tempo
A estrutura do texto se mantém desde a primeira sessão, mas a atriz reconhece que ela mesma mudou bastante com o tempo. “Esse encontro com Clarice foi responsável pelo meu amadurecimento como artista, não só como atriz, mas também como criadora. Acredito que Clarice tenha me dado esse impulso para confiar na minha capacidade criativa”, afirma.
A atriz comenta que hoje tem mais domínio do fazer teatral e do trabalho como intérprete. Ela ainda conta que, ao longo de tantos anos mergulhada na obra de Clarice Lispector, pôde encontrar muitas similaridades entre ela e a autora.
“Achei em Clarice uma série de pontos de intersecção entre ela e eu. Sempre achei que o trabalho do ator é parecido com o do autor, porque vivemos personagens que não somos nós, sem deixar de sermos nós mesmos. Criamos novos universos, personagens e vidas, além de nós mesmos. Acho que isso é muito similar ao nosso trabalho como intérpretes.”
O monólogo esteve na capital mineira, em 2010, na programação do FIT-BH. Agora, Beth retorna à cidade trazendo a experiência e a maturidade acumuladas ao longo dos anos. “O teatro tem essa força de ser ao vivo e de ser um momento único, efêmero. E se ele for muito potente dentro de você, ele se torna eterno. É uma arte que vive naquele momento que jamais se repetirá”, diz.