Filme "Capeta do Vilarinho" traz de volta figura folclórica de BH
Curta-metragem dirigido por Leo Good God é uma homenagem à lenda que circulava pelos bailes de Venda Nova nos anos 1980
compartilhe
Siga noQuem vive em Belo Horizonte conhece bem as figuras folclóricas da cidade. Há a Loira do Bonfim, no Cemitério do Bonfim, a Maria Papuda, no Palácio da Liberdade, e, mais importante, o Capeta da Vilarinho, ser dançante que assombrou os bailes da cidade nos anos 1980.
Leia Mais
“Quando aconteceu a lenda, eu tinha apenas 8 anos. Mas lembro que cresci com esse mistério que ficava no inconsciente coletivo da cidade”, relembra Leo Good God, diretor do curta-metragem “Capeta do Vilarinho”. O filme em homenagem à lenda belo-horizontina estreia nesta sexta-feira (19/9), às 19h, no Centro Cultural Lá da Favelinha.
A sessão de hoje conta com a presença do elenco e de Leo, responsável também pelo roteiro e pela montagem do filme. Na próxima quinta-feira (25/9), o curta será exibido novamente em sessão comentada no Cine Santa Tereza, às 14h, e entra em circuito de festivais de cinema em seguida.
Para aqueles não familiarizados com a lenda, o Capeta da Vilarinho foi um homem charmoso que, há cerca de 40 anos, frequentou uma das famosas festas na Quadra da Vilarinho, antiga propriedade de Francisco Fillizzola (1945-2025). Misterioso, com uma boina na cabeça, ele chamou a atenção do público e dançou com as mulheres. Ao longo da noite, o movimento foi tanto que o acessório caiu e revelou os dois chifres na cabeça do rapaz.
No curta, há a presença do Capeta, interpretado por Kdu dos Anjos, mas quem ganha destaque é a mulher que dançou com ele. A trama acompanha Joyce tentando lidar, no presente, com a experiência de ter estado junto ao Capeta, enquanto flashbacks levam o público de volta à noite do baile, em 1988. Aruana Zambi e Jéssica Pierina interpretam, respectivamente, as versões adulta e jovem da personagem.
Leo Good God costuma adaptar lendas da capital mineira para o cinema, como fez com “Acaiaca” (2016), retratando as ideias folclóricas por trás do edifício na Avenida Afonso Pena. Desta vez, escolheu o Capeta da Vilarinho pela importância social. “Sempre achei que a população de Venda Nova, a população da Vilarinho, principalmente o povo preto daquela região, é um povo muito importante para a cidade”, diz.
Joyce é uma mulher negra e mãe solo que mora com a filha, também mãe solo, e a neta. Após anos do acontecimento com o Capeta, ela ainda tenta se livrar da maldição e do julgamento. “Ao longo da história, você vai percebendo o sofrimento da personagem. Vai perceber como essa entidade vai assombrando ela durante a vida toda”, explica o diretor.
Pesquisa do projeto
Leo buscou diferentes fontes para a pesquisa do projeto. Entre elas, o diretor cita as revistas do quadrinista Celton, pseudônimo de Lacarmélio Alfêo de Araújo, e a música “Melô do capeta”, ou “Melô do Alex”, transmitida na década de 1990 no “Programa Acorda Paschoal”, da Rádio Extra FM.
Além das obras, o diretor procurou por reportagens sobre o tema e foi assim que conheceu Ricardo Malta, um “porta-voz da lenda”, como afirma Leo. Ricardo tem deficiência visual e afirma que perdeu a visão após vencer uma disputa de dança com o Capeta, sendo amaldiçoado por isso. O homem cedeu entrevistas ao diretor para a construção do roteiro e participa em uma das cenas de baile do curta.
“Capeta do Vilarinho” é um drama com elementos do suspense, marcando o primeiro trabalho de Leo Good God no gênero. Para conseguir recriar os bailes e o figurino da época, o projeto contou com recursos do edital BH nas Telas 2023, da Secretaria Municipal de Cultura. Após a exibição em festivais, até outubro de 2026, o filme será disponibilizado para canais abertos.
“CAPETA DO VILARINHO”
(Brasil, 2025, 25min). Direção: Leo Good God. Com Aruana Zambi, Jéssica Pierina, Kdu dos Anjos e Ricardo Malta. Estreia nesta sexta-feira (19/9), às 19h, na 1ª Mostra de Cinema do Cine Clube Favelinha, no Centro Cultural Lá da Favelinha (Rua Dr. Argemiro Rezende Costa, 191, São Lucas).
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco