Uma adaptação de “O estrangeiro”, de Albert Camus, dirigida pelo francês François Ozon, e um thriller político sobre uma crise nuclear realizado pela norte-americana Kathryn Bigelow foram as principais estreias de terça-feira (2/9) no Festival de Cinema de Veneza.
Para filmar “O estrangeiro”, que relata a transformação na vida de um modesto funcionário na Argélia sob a colonização francesa, após a morte de sua mãe, Ozon reencontrou os atores Benjamin Voisin e Rebecca Marder, com quem já havia trabalhado em “Verão de 85” (2020) e “O crime é meu” (2023), respectivamente.
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Nesta adaptação bem-sucedida em preto e branco da obra do existencialista francês Albert Camus (1913-1960), Benjamin Voisin interpreta Mersault, um personagem recluso, apático e de poucas palavras.
“Eu teria adorado filmar na Argélia, teria gostado de filmar em Argel. Filmamos em Marrocos e correu muito bem, em Tânger", disse Ozon em coletiva de imprensa. O cineasta aludiu às “relações complicadas” entre a França e a Argélia.
Para ele, seu filme deveria oferecer “uma visão atual sobre esta história”. Ozon lamentou que, apesar de haver tantas “famílias francesas com vínculo com a Argélia”, não tenha sido “feito um trabalho histórico suficiente de introspecção”.
Casa Branca
A outra grande estreia desta terça-feira tem a assinatura de Kathryn Bigelow, que apresenta “Casa de Dinamite”, um thriller político ambientado na Casa Branca, cuja trama envolve um míssil lançado por um agressor desconhecido em direção aos Estados Unidos.
A cineasta de 73 anos, que realizou o oscarizado "Guerra ao terror", escalou para este filme Idris Elba e Rebecca Ferguson. “Senti que era importante trazer essa conversa”, afirmou. “Este é um tema global, o das armas nucleares: estamos realmente vivendo em uma casa de dinamite", disse.
“O estrangeiro” e “Casa de Dinamite” estão entre os 21 filmes que competem pelo Leão de Ouro, que será atribuído no próximo sábado (6/9) pelo júri presidido pelo americano Alexander Payne e integrado pela atriz Fernanda Torres
“Dead man's wire”, de Gus Van Sant, também foi exibido na terça, mas fora de competição. O novo filme do diretor americano de 73 anos conta a história de Tony Kiritsis, um homem que, sufocado pelas dívidas, tomou como refém seu credor, diretor de uma empresa de créditos hipotecários.
Na seção Horizontes, dedicada a novas tendências, a surpresa vem das mãos do americano-colombiano Stillz, conhecido por dirigir videoclipes de artistas como Bad Bunny e Rosalía, e que apresentou no Lido “Barrio triste”, seu primeiro longa-metragem.
O filme segue um grupo de jovens no final dos anos 1980 em um bairro empobrecido de Medellín.
A história começa com o roubo de uma câmera de um jornalista, com a qual os jovens acabam mostrando um mundo cheio de violência, mas também de solidão e vulnerabilidade, principalmente por meio do olhar de Juan, interpretado por Juan Pablo Baena.
Também competirá pelo prêmio de melhor filme de estreia o espanhol Gabriel Azorín, por “Anoche conquisté Tebas”, sobre um grupo de amigos portugueses que visitam as termas romanas e acabam conhecendo os soldados que as construíram há centenas de anos.