O Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil recebe, neste fim de semana, a estreia do espetáculo “Júri popular”, que acentua o conceito de interativo. O que se passa em cena é um julgamento, cujo veredicto é dado pela plateia. Com texto e direção de Amaury Júnior, a montagem tem no elenco Amilton Zanine, Iza Madhu, Louyse Pereira, Márcia Gonçalves, Chris Vaúna, Cristian Starley, Douglas Oliveira, Marcela Marcos, Natália Corval e o próprio diretor.
Amaury Júnior destaca que a proposta é que cada sessão seja experiência única, pois o desfecho é construído coletivamente a partir das escolhas da audiência. De acordo com ele, a ideia surgiu da premissa fundamental do teatro, arte que só se concretiza na presença do público.
“Quis fazer algo provocativo para a plateia, que a fizesse sentir, de fato, pertencente à cena. 'Júri popular' tira a pessoa do lugar de mero espectador”, ressalta Amaury.
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O público é convidado a intervir em alguns momentos, mas sua principal participação é mesmo no final, segundo o diretor. O réu é o médico responsável por um procedimento que resultou em consequências inesperadas. O fictício Caso Oliver entrelaça direito e moralidade, que se fundem e se confundem no desenrolar da trama.
Entre argumentos acalorados, depoimentos intrigantes e reviravoltas inesperadas, o público é instigado a refletir sobre o peso de um julgamento – não apenas legal, mas também ético e humano. Escrito há dois anos, o texto é propositalmente atravessado por ambiguidades, afirma Amaury Júnior.
“Construí circunstâncias que favorecem o impasse, com argumentos dúbios e questões até mesmo falaciosas. Propus uma situação em que não é fácil tomar partido”, destaca o autor.
Projeto internacional
A peça se alinha com “The jury experience”, espetáculo imersivo internacional que combina teatro e jogo para simular um julgamento realista. Esse modelo de atração passou por Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e Portugal.
No Brasil, o experimento cênico faz eco à realidade. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, por tentativa de golpe de Estado, vem mobilizando atenções no país e no exterior.
O diretor acredita que este fato pode servir de estímulo para que as pessoas queiram ver sua peça. “Não tem relação direta, porque o assunto abordado no espetáculo não é político, no sentido estrito da palavra, mas acredito que pode, sim, aguçar a curiosidade”, pontua.
Ele destaca uma diferença fundamental entre o caso do ex-presidente e a ficção no teatro: as evidências. “Me parece meio óbvio que Bolsonaro será condenado, por tudo o que já se levantou e já se sabe sobre a tentativa de golpe. Para o espetáculo, eu precisava de algo mais em aberto, sem provas cabais que pudessem levar o público a declarar o réu culpado ou inocente. Em 'Júri popular', trabalhamos muito mais no terreno da dúvida.”
Filmes de tribunal
Hollywood tem longa tradição dos chamados “filmes de tribunal” – quase subgênero produzido desde meados do século passado.
“Doze homens e uma sentença” (1957), “Anatomia de um crime” (1959), “Questão de honra” (1992), “O povo contra Larry Flint” (1996) e “Jurado nº 2” (2024) são alguns desses títulos.
Amaury Júnior diz apreciar o filão, mas ressalta que evitou recorrer a essas fontes. “No meu processo de criação, procuro me afastar de referências e de assuntos correlatos para não ser influenciado e poder tentar alcançar algo mais original”, diz.
“JÚRI POPULAR”
Peça de Amaury Júnior. Sábado (6/9), às 20h, e domingo (7/9), às 19h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil (Praça Sete, Centro). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma Eventim.