O cantor e compositor paranaense David Mour, de 30 anos, utilizou versos de “Exagerado demais” (“Acontece que a vida é breve/ Pra gente não correr atrás”) como uma espécie de mantra. “O que tenho feito é correr atrás dos meus sonhos”, afirma ele, que com essa música se tornou o vencedor do 55º Festival Nacional da Canção (Fenac).

A final do evento, realizada em Boa Esperança, no Sul de Minas, ocorreu na noite de sábado (6/9). Mour levou o prêmio de R$ 23 mil, além do Troféu Lamartine Babo. É o segundo que ele tem em casa, em Londrina. Em 2022, também foi o primeiro colocado do Fenac, com a canção “Juro”.

As duas músicas integram seu primeiro álbum, “Amuleto” (2023). Enquanto “Juro” é uma balada, que ele defendeu com o pianista Fábio Caetano, desta vez foi diferente. Selecionou “Exagerado demais” não só por causa da letra, mas porque foi gravada com banda. 

“Queria muito tocar com os amigos de Três Pontas”, conta ele, a respeito do grupo que acompanha os concorrentes do Fenac. Desde 2022, quando estreou no festival, Mour participou de todas as edições. 

“Não participei de muitos (festivais) na minha carreira, mas desde a primeira vez, vi como o Fenac dá valor aos músicos. Esse suporte é muito importante para o artista independente. Além do mais, o público abraça a música”, acrescenta.

Sem mineiros

Evento do gênero mais tradicional do país, o Festival Nacional da Canção começou em 25 de julho, em Tiradentes. Até a finalíssima, neste fim de semana, houve etapas classificatórias nas cidades de São Tomé das Letras, Perdões, Três Pontas, Coqueiral e Nepomuceno. Trinta semifinalistas chegaram a Boa Esperança e 10 disputaram a final. Não houve compositor mineiro nesse último grupo. 

A edição deste ano trouxe um recorde: 1,5 mil canções inscritas, vindas de 25 estados. Delas, 120 participaram das etapas classificatórias, tanto presenciais quanto on-line. 

Além dos candidatos, o festival reúne grandes nomes da música brasileira em shows com entrada franca, geralmente na praça principal de cada cidade.

A final em Boa Esperança teve como atração Vanessa da Mata, que apresentou o show “Todas elas”. Na sexta (5/9), o cantor Fred Izak levou Henrique Portugal, tecladista do Skank, e George Israel, saxofonista do Kid Abelha, como convidados do show “Líricas”. 

Na temporada de 2025, subiram ao palco Paulo Ricardo, Renato Teixeira, João Ramalho, 14 Bis, Tuia & Guarabyra, Silva e Nando Reis. 

Os Beatles fizeram Mour, aos 8 anos, se apaixonar pela música. “Minha irmã mais velha me apresentou a eles. Aquilo me tocou de uma maneira que eu nunca tinha sentido”, conta o paranaense, que começou a aprender violão sozinho, em casa. Mais tarde, teve aulas e, a partir dos 14, fez as primeiras composições. Tímido, a música lhe "abriu a cabeça". 

Inglaterra

A licenciatura em música, na Universidade Estadual de Londrina, ocorreu simultaneamente à carreira de Mour na noite. Como muitos cantores e compositores, ele começou tocando em barzinhos. Teve banda até se decidir pela carreira solo, em 2019. 

O marco nessa trajetória foi a bolsa na Universidade de Leeds Beckett, em Leeds, na Inglaterra. Mour viveu um ano fora, onde fez mestrado em trilha sonora. “'Exagerado demais' foi terminada em 2021, na Inglaterra”, diz.

Professor e motorista

Em Londrina, ele vive como muitos artistas independentes. Faz shows em eventos e barzinhos, dá aulas no Conservatório Carlos Gomes e, quando a grana aperta, recorre a bicos, como motorista de aplicativo. Atualmente realiza, ao lado do pianista Fábio Caetano, projeto dedicado ao repertório de Milton Nascimento. 

Sobre o Fenac, Mur só tem uma certeza: em 2026, deve participar novamente. “Com certeza, pois fiz muitas amizades. Todos os anos fico esperando chegar o momento do festival, a conexão com novos artistas é uma parte muito bonita do projeto”, finaliza.


VENCEDORES

MELHOR CANÇÃO (presencial)*

. 1º lugar: “Exagerado demais”

De David Mour (Londrina, PR). Prêmio: R$ 23 mil e Troféu Lamartine Babo

. 2º lugar: “Cura”

De Valéria Velho, interpretada por Thaiz Lossio (Tietê, SP). Prêmio: R$ 17 mil e troféu

. 3º lugar: “A sede justa de falar de amor”

De Márcia Cherubin e Zé Alexandre (Santo André, SP). Prêmio: R$ 13 mil e troféu

. 4º lugar: “Rosa dos ventos”

De Bruno Batista, interpretada por Selma Fernandes (São Paulo, SP). Prêmio: R$ 8 mil e troféu

. 5º lugar: “Guarda chuva”

De Rô Acunha (Santa Maria, RS). Prêmio: R$ 6 mil e troféu

MELHOR INTÉRPRETE

. Luíza Britto

Por “Olho d’água” (de Luíza e Jardim Amorim), de Salvador (BA). Prêmio: R$ 5 mil e troféu

MELHOR CANÇÃO (on-line)

. 1º lugar: “Lágrimas de um até breve”

De Cristian Sparandir e Lauras Dalmás (em parceria com Adriano Sperandir e Caio Martinez), de Osório (RS). Prêmio: R$ 7 mil e troféu

. 2º lugar: “Canta”

De Valéria Rodrigues Dias Velho, interpretada por Graziela Medori (Tietê, SP). Prêmio: R$ 5 mil e troféu

* Classificados do 6º ao 20º lugar receberam prêmio em dinheiro

compartilhe