Uma das peças mais comentadas dos últimos anos, “Prima Facie”, texto da australiana Suzie Miller, ganhou montagem brasileira estrelada por Débora Falabella e dirigida por Yara de Novaes, que vem acumulando prêmios desde a estreia, em abril de 2024, no Rio de Janeiro. Primeiro solo teatral da atriz, o espetáculo chega a Belo Horizonte para cumprir temporada a partir desta sexta-feira (19/9) até 20 de outubro, no CCBB-BH.

Desde que estreou em Londres, em 2022, “Prima Facie” seguiu uma trajetória retumbante. A história de uma advogada que tem acusados de violência sexual entre seus clientes ganhou diversas montagens e atualmente é encenado em países como Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, Turquia, entre muitos outros.

A montagem brasileira rendeu a Débora Falabella os prêmios Shell e APCA de melhor atriz. “Prima Facie” conquistou também cinco troféus no Prêmio APTR – atriz, direção, cenografia (André Cortez), iluminação (Wagner Antônio) e figurino (Fábio Namatame) – e está indicada em quatro categorias no Prêmio Bibi Ferreira, com resultado previsto para 15 de outubro: melhor peça, melhor atriz, melhor direção e melhor desenho de luz.

O sucesso é de crítica e também de público. A peça já contabiliza mais de 80 mil espectadores, sessões extras e constantes debates no meio jurídico. Durante a temporada em Brasília, “Prima Facie” recebeu a ministra do STF Cármen Lúcia, o ex-ministro do STF Ayres Britto e a subprocuradora geral da República, Raquel Dodge, para uma conversa após uma das sessões. A temporada carioca trouxe à luz temas como a representatividade feminina no judiciário e a legislação de violência sexual.


Esferas de poder

Em cena, Débora vive a bem-sucedida advogada Tessa, que, vinda de uma família pobre, precisa encarar uma crise que a obriga a rever uma série de valores, além de refletir sobre o sistema judicial, a condição feminina e as relações conturbadas entre as diversas esferas de poder.

A atriz destaca a excelência da dramaturgia. “É um texto muito bem construído, que trata de um tema duro e espinhoso, a violência contra a mulher, uma questão mundial, e faz isso contando uma grande história”, afirma.

Ela atribui o êxito da montagem a questões que vão além da cena. Em Londres, a versão filmada passou a ser usada no treinamento de novos juízes, e alguns magistrados chegaram a rever a forma como orientam o júri depois de assistirem ao espetáculo, segundo a atriz.

“No Brasil, a peça também tem provocado reflexões e gerado encontros importantes com representantes do mundo jurídico, com discussões sobre a forma como a sociedade enxerga a questão da violência sexual”, destaca.

Débora afirma que o maior desafio de interpretar essa personagem é dar conta do arco emocional que ela atravessa. “Tessa inicia a peça de forma muito solar, como uma advogada criminalista brilhante, em plena ascensão, mas, em determinado momento, despenca em um abismo. Transitar por esses extremos no palco requer uma entrega profunda e constante, para sustentar ao longo de quase duas horas a complexidade dessa trajetória, com toda a intensidade e presença que a personagem exige”, diz.

Ela comenta que é comum, ao final das sessões, mulheres da plateia a procurarem para compartilhar suas histórias. “Esses relatos são muito impactantes. As mulheres saem do espetáculo profundamente identificadas.” A reação do público jogou por terra o medo inicial que a atriz tinha de encarar um solo. “Ficava receosa de me sentir sozinha no palco, mas isso não aconteceu. A relação com o público é muito direta, e a ligação que se tem com ele em um monólogo é única”, comenta.

A atriz destaca o papel da diretora Yara de Novaes, com quem tem um longo histórico de colaborações. “Yara é minha parceira artística, minha grande amiga, minha família. Foi uma alegria imensa voltarmos a trabalhar juntas em 'Prima Facie'. Ela soube me guiar nesse processo me dando liberdade, mas, ao mesmo tempo, com uma condução muito segura e ideias, como sempre, geniais. A direção dela tem a capacidade de potencializar um texto já brilhante e de criar imagens que ampliam ainda mais a história”, diz.

No cinema como Cacilda Becker

Débora Falabella interpreta a protagonista do longa-metragem “Cacilda Becker em cena aberta”, cuja estreia está prevista para o ano que vem. O filme é dirigido por Júlia Moraes e tem Mariana Ximenes, Júlia Stockler, Augusto Madeira e Rodrigo Bolzan no elenco. A protagonista se transforma cena a cena na história, fundindo-se às personagens que marcaram a carreira de Cacilda Becker (1921-1969). As filmagens foram no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro.

“PRIMA FACIE”
De: Suzie Miller. Direção: Yara de Novaes. Com Débora Falabella. Estreia nesta sexta-feira (19/9), no Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De sexta a segunda, às 20h, com recursos de acessibilidade (Libras e audiodescrição) aos sábados. Até 20/10. Excepcionalmente em 6/10 não haverá apresentação. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis semanalmente às quartas-feiras no site e na bilheteria do CCBB-BH.

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