A finitude e, especialmente, a afirmação da vida são os temas centrais de “Imortalidades”, novo livro do escritor, economista e professor Eduardo Giannetti. Ele lança a obra em Belo Horizonte nesta terça-feira (23/9), no projeto Sempre um Papo. O debate com o público será seguido de sessão de autógrafos.


Ao longo de 430 páginas, o autor apresenta pequenos ensaios – alguns limitados a um parágrafo ou uma frase – em que trata de como se manifesta na experiência humana, em diferentes épocas e culturas, a ambição de transcender à transitoriedade do corpo.

Como buscamos projetar a existência para além da nossa finitude? O que é feito de quem se foi? O que podem nos dizer a filosofia, a ciência e as religiões face ao enigma da morte? Estas são algumas perguntas que “Imortalidades” propõe ao leitor.


Divisão em seções


Giannetti observa que, apesar de ser composto por 235 ensaios independentes, “Imortalidades” não é um livro de fragmentos. Os textos, ele diz, foram cuidadosamente entremeados e entrelaçados. “Acredito que a opção por dividir a obra em várias seções dá ao leitor a oportunidade de respirar enquanto lê. É um diálogo que se dá entre autor e leitor. Não quero que o leitor aceite o livro do começo ao fim; quero que a cada seção ele dê uma parada, respire e avalie”, afirma.


A motivação para se debruçar sobre o tema, segundo o escritor, é a natural preocupação que o ser humano tem com o que é a vida e com o que vem depois dela.

“O escrito mais antigo de que há registro, a epopeia de Gilgamesh, que data de mais de 4 mil anos, tem como tema a busca pela planta do rejuvenescimento. Quando Gilgamesh vê que não encontrará a imortalidade, ele entende que ela virá pela lembrança de gerações futuras, a partir do momento em que se tornar um grande governante”, diz.

Tipos de imortalidade


Esse entendimento diz respeito a um dos tipos de imortalidade, que o autor identifica no livro como “expectativas terrenas”. Outros três compõem o leque de possibilidades na busca pela perpetuação: a extensão radical da vida biológica, as esperanças supraterrenas associadas aos credos religiosos e o presente absoluto das experiências extáticas. Giannetti cita as pesquisas genéticas e certa expectativa com relação à inteligência artificial como forma de dar ao ser humano a opção de viver para sempre.


Com relação às expectativas terrenas, ele evoca Machado de Assis. “Ele dizia que quando não houver mais o Império Britânico, Shakespeare ainda será lembrado; quando não se falar mais a língua inglesa, falar-se-á de Shakespeare. Diz respeito ao título que se dá aos membros da Academia Brasileira de Letras [imortais]”, diz, referindo-se à entidade para a qual ele próprio foi eleito em 2021. Sobre o presente absoluto, ele explica que são os momentos eternos.


“São as eternidades de segundos, para usar uma expressão de Manuel Bandeira. Se os átomos podem destruir uma cidade, por que não podem abrigar a eternidade pelo êxtase místico, amoroso ou artístico, pelos estados alterados de consciência produzidos por substâncias psicoativas ou pelas experiências de quase morte? Pessoas que passaram por isso, as experiências de quase morte, declaram ter vivido momentos de plenitude e de paz para além da compreensão humana”, comenta.


Debate filosófico


Giannetti evoca o debate filosófico entre imortalistas e mortalistas. Os primeiros são aqueles que desejam prolongar a existência indefinidamente, conforme diz, citando uma conversa vazada recentemente entre os presidentes da China e da Rússia, Xi Jiping e Putin. Do outro lado, ele aponta, estão aqueles que acreditam que a beleza da vida e o que há de prazeroso e instigante na existência está justamente na sua efemeridade.


“Quatro autores modernos escreveram obras de ficção que convergem nessa perspectiva: Machado de Assis, com 'O imortal'; Simone de Beauvoir, em 'Todos os homens são mortais'; o tcheco Karel Capek, em 'O caso Makropulos'; e Borges, em 'O imortal'. Nos quatro enredos, os personagens saem em busca do elixir da vida eterna, encontram a imortalidade, passam-se os séculos e os milênios e eles se entendiam, perdem o sabor de viver e passam a buscar desesperadamente o elixir da morte.”

“Imortalidades”

De Eduardo Giannetti

Editora Companhia das Letras

432 páginas

R$ 74,92, o livro físico, R$ 44,90, o e-book

O escritor participa do Sempre um Papo nesta terça-feira (23/9), às 19h30, no Teatro José Aparecido de Oliveira, da Biblioteca Pública Estadual (Praça da Liberdade, 21, Funcionários). Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço.

 

compartilhe