Nos últimos dois anos, o Graveola se apresentou de forma esporádica, com shows quase sempre restritos a Belo Horizonte. Após mais de duas décadas de carreira e um período de desaceleração, o grupo anunciou oficialmente sua despedida dos palcos.
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O comunicado, feito na última segunda-feira (22/9), surpreendeu os fãs, mas não se tratou de uma decisão repentina. Segundo José Luiz Braga, o Zelu, fundador da banda, o fim vinha sendo maturado há algum tempo. Para ele, a Graveola chegou a um ponto em que reverenciava demais o próprio passado e precisava abrir espaço para novas experiências.
“Tem músicas que a gente toca há 20 anos. Chegou um momento em que queremos nos ressignificar musicalmente e ter mais liberdade individualmente. O que impulsiona esse movimento é também a vontade de não ficar preso ao passado e criar caminhos para o novo”, explica.
Laboratório artístico
Formada em 2004, em BH, a banda nasceu da afinidade estética e política entre amigos que decidiram empreender um projeto coletivo. Ao longo da carreira, lançou sete discos que marcaram a cena independente e conquistou o público com músicas como “Insensatez”, “Talismã” e “Dois lados da canção”. O último álbum, porém, é de 2021.
Definida como um “laboratório artístico coletivo”, a Graveola sempre esteve em constante transformação, com diversas formações e sonoridade eclética. “A gente tinha a intenção de furar bolhas e espalhar nossa música pelo mundo. Foi um momento especial de afirmação política e de identidades”, diz Zelu.
Inúmeros músicos já passaram pelo grupo, entre eles estão nomes como Luiza Brina e Luiz Gabriel Lopes. Hoje, a formação conta com Zelu Braga, Amanda Barbosa, Joana Bentes e Thiago Corrêa. “Foram muitos ciclos. A gente sobreviveu até aqui”, comenta o fundador da banda, único remanescente da formação original.
Inclusive, afirma Zelu, o peso de ser o fundador e integrar desde 2024 o Graveola, influenciaram a sua decisão de encerrar a banda. “A responsabilidade de honrar toda essa história ficou muito concentrada em mim. Achei que a ruptura seria o melhor caminho para continuarmos produzindo música de um modo mais leve e explorando possibilidades diferentes.”
Um dos primeiros grupos independentes a usar a internet como ferramenta de difusão e sustentabilidade financeira, o Graveola influenciou uma geração de músicos. “Acho que conseguimos ter importância histórica para a cena musical da cidade, do estado e do país. Encorajamos uma série de iniciativas e coletivos que vieram depois”, avalia o vocalista.
Se nas décadas anteriores Belo Horizonte revelou bandas como Skank e Jota Quest, hoje há uma tendência crescente de projetos individuais, tornando grupos cada vez mais raros. “É raro ver coletivos com relevância. A Graveola serviu de inspiração e mostrou que era possível criar e se manter coletivamente”, pontua Zelu.
O grupo prepara um show de encerramento para marcar a despedida dos palcos. A apresentação será na Autêntica, em 1º de novembro, com convidados especiais e músicos que passaram por formações anteriores. A apresentação conta com o apoio do Festival Novos Encontros, parceiro que está viabilizando o evento. Dois anos atrás, a Graveola já havia se apresentado no mesmo festival ao lado da sensação carioca Ana Frango Elétrico. A cantora Coral está confirmada como atração de abertura da noite.
Novos voos
Além disso, o público terá acesso a um álbum novo, já em fase de gravação, com músicas inéditas e releituras que homenageiam a trajetória da banda. “Senti que era importante lançar o álbum para celebrar esta formação mais recente e aproveitar o talento de todos que estão aqui hoje. É uma configuração de banda muito boa”, conta Zelu.
A despedida não se estenderá por turnês longas, como tem sido feito atualmente por outros grupos no país. “Nossa despedida será um álbum e um show. A ideia não é passar um ano inteiro nos despedindo”, explica.
Zelu adianta que a produção musical continuará, mas de outras formas. O músico também deve lançar um EP solo no início do ano que vem. Para o público que vai sentir saudades, ele sugere revisitar toda a história da banda. “Todos os músicos que já passaram pelo coletivo e que hoje fazem parte dele vão continuar produzindo música. É importante que o público apoie esses artistas individuais.”
FESTIVAL NOVOS ENCONTROS
Com Graveola e convidados. Sábado, 1º de novembro,
às 21h, na Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312 –
Santa Efigênia). Ingressos: R$ 120 (inteira) e
R$ 60 (meia), à venda pelo Sympla.