Pélico conheceu Ronaldo Bastos em 2012. Eles estavam numa festa na casa da cantora Catto, como foi mencionado recentemente neste jornal. A admiração entre os dois foi imediata e mútua, de modo que o um dos principais letristas do Clube da Esquina e o cantor paulistano mantiveram contato nos anos seguintes e estreitaram a amizade. No entanto, somente em 2019, veio a proposta em forma de mensagem de celular: “Pô, vamos fazer uma música!”, enviada por Bastos.
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O niteroiense de 77 anos, que já compôs com Milton Nascimento, Celso Fonseca, Gal Costa, Lulu Santos e Marina Lima, buscava se reinventar. Com a resposta afirmativa de Pélico, expressa por uma melodia enviada ao letrista, nasceu a canção “Infinito blue”. O single defende o amor como experiência transformadora, mágica, quase transcendental, combinando imagens visuais (“luz”, “sombra”, “estrelas”) e espirituais (“céu”, “cruz”, “destino”) para criar uma atmosfera onírica e simbólica.
“O Ronaldo é um craque, né?”, ressalta Pélico, em entrevista por telefone. “Quando ele me mandou a mensagem sugerindo que fizéssemos uma música, eu estava em Portugal. Mandei a melodia, ele escreveu a letra, mas a canção acabou engavetada por causa da pandemia. Voltei para o Brasil em 2022 e ele me cobrou. Queria saber o que tinha acontecido com o single. Propus, então, que, em vez de ficarmos só naquela canção, compuséssemos um álbum inteiro”, conta o paulistano.
Foi assim que nasceu “A universa me sorriu – Minhas canções com Ronaldo Bastos”, já disponível nas plataformas digitais. Produzido por Jesus Sanchez, o disco traz 10 faixas que a dupla vinha compondo desde setembro do ano passado, presencialmente.
Lírica imagética
Quando se encontraram pela primeira vez para compor, Pélico estava nervoso. “Eu estava indo fazer música com um dos meus ídolos, afinal”, lembra ele. “Falei o que estava sentindo. O Ronaldo virou para mim e disse: ‘Rapaz, eu também estou nervoso, porque nunca fiz isso. Com Milton, Lô (Borges), Lulu (Santos), eles me mandavam a melodia e eu trabalhava sozinho. Vai ser a primeira vez que vou compor com alguém olho no olho’”, relembra Pélico.
A experiência foi maravilhosa, segundo o músico paulistano, representando, de certa forma, uma renovação artística. Sempre compositor autoral e introspectivo, Pélico costumava escrever letras centradas em temas afetivos. No novo disco, contudo, ele abre mão da centralidade criativa e dá espaço para a lírica imagética, poética e simbólica do parceiro de composição.
A essência sonora de Pélico se mantém. As melodias privilegiam o violão de nylon – quase sempre tocado por João Erbetta – e os demais instrumentos se encaixam com harmonia em cada faixa.
As letras de Bastos, por sua vez, abordam sentimentos primitivos, como amor, melancolia e medo. Em “Sua mãe tinha razão”, o poeta se expõe, contando que, mesmo sem ter certeza da reciprocidade de um amor, resolveu se entregar à relação. Já em “Luz da manhã”, revela o temor de se abrir para o amor. E na faixa-título, lembra que a “mãe sempre dizia que o tempo não apaga a cicatriz”.
Outros parceiros
Algumas faixas têm outros parceiros além de Bastos. “Sua mãe tinha razão”, por exemplo, foi composta por Pélico, Bastos e Leo Pereda. E o terceiro compositor de “É melhor assim” é o pernambucano Otto.
O disco traz ainda participações especiais de Silvia Machete, Catto e Marisa Orth – que manteve carreira musical na década de 1980, integrando o Grupo Luni, ao lado de Natália Barros, Théo Werneck, André Gordon, Fernando Figueiredo, Kuki Stolarky, Lelena Anhaia, Gilles Eduar e Lloyd Bonnemaison.
Marisa canta em “É melhor assim”, sobre um homem que cai na real após viver uma paixão platônica. “Essa música tem certa ironia, por isso decidimos chamar Marisa para cantar”, explica Pélico. “Ela adorou e até brincou: ‘Nossa, eu não sabia que os homens projetavam também o amor’.
A canção surgiu por iniciativa de Otto, continua Pélico. “Estávamos em uma festa, quando ele me chamou de lado e me convidou para fazer uma música. Disse que já tinha uma parte pronta, a frase ‘Ela não quer mais gostar de mim’. E acrescentou: ‘Pronto, agora você termina a música’”, diverte-se. “Aí, o Ronaldo e eu tivemos que finalizar.”
“A UNIVERSA ME SORRIU”
• Álbum de Pélico e Ronaldo Bastos
• Produção de Jesus Sanchez
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
FAIXA A FAIXA
• “A universa me sorriu”
• “Infinito blue”
• “Sua mãe tinha razão”
• “Marinar”
• “É melhor assim” (feat. Marisa Orth)
• “Louva-a-Deus”
• “Sem parar” (feat. Silvia Machete)
• “O amor ficou”
• “Luz da manhã”
• “Deusa mística (para Catto)”