O músico Arnaldo Brandão costuma dizer que sempre gostou de criar bandas para depois encerrá-las. Com o Hanoi Hanoi, porém, a história foi diferente. Segundo ele, a permanência do grupo está diretamente ligada ao público mineiro. “Não consegui acabar porque o público de Minas Gerais é muito fã da gente. E a gente adora o público mineiro”, afirma.

Criado no Rio de Janeiro em 1985, a partir do fim da banda Brylho, o Hanoi Hanoi consolidou-se em Minas Gerais como uma das formações mais lembradas do rock nacional dos anos 1980. Foi no estado que o grupo construiu uma base de fãs sólida e onde ocorreram alguns de seus momentos mais importantes – entre eles, a gravação do DVD (disponibilizado no YouTube) e álbum “30 anos na insanidade”, registrado ao vivo em Nova Lima, que marca o reencontro da banda depois de 22 anos do último lançamento.

A ligação com Minas surgiu sem estratégias de marketing, pois, na época, a banda não contava com grandes gravadoras para bancar esse tipo de investimento. O caminho, relembra Arnaldo, foi orgânico. “Eu agradeço muito às rádios de Belo Horizonte. Não tinha jabá. Os radialistas começaram a tocar nossos discos por vontade própria, graças a um divulgador chamado Abraão, que levava as fitas. O público foi pedindo e acabou adotando a banda.”

Ainda segundo o vocalista, em outros estados, o Hanoi Hanoi é sobretudo associado ao hit “Totalmente demais”, regravado por Anitta em 2016 para trilha sonora da novela homônima da Globo.


Inéditas

Disponível nas plataformas desde a última sexta-feira (26/9), o novo trabalho reúne 21 faixas – entre elas, 19 sucessos e duas inéditas –, e foi gravado em 2017, mas só foi lançado agora, após atrasos provocados pela pandemia e por um longo processo de mixagem. “A gente estava finalizando a mixagem quando veio a pandemia. Isso esfriou tudo. Além disso, quisemos caprichar no resultado final, por isso o lançamento só acontece agora”, explica Arnaldo.

A formação atual conta com Arnaldo Brandão, Sérgio Vulcanis, Ricardo Bacelar e Marcelo da Costa. A gravação conta com participação dos mineiros de Samuel Rosa, Flávio Renegado e Affonsinho Heliodoro, este último integrante da formação original do Hanoi.

“O repertório está muito dentro da gente. Foram mais de 2 mil shows. Quando entro no palco com eles, parece que a gente tocou ontem”, relata o tecladista e guitarrista Ricardo Bacelar, que abriu o estúdio Jasmin, em Fortaleza, para realizar parte da produção. O espaço já recebeu nomes como Gilberto Gil, Toninho Horta e Roberto Menescal, além de ter sido palco de gravações anteriores do Hanoi Hanoi.


Pegada rock

A escolha do repertório, explica Bacelar, foi natural. “São as músicas mais representativas da trajetória, com um recorte mais rock”. O desafio maior, conta Arnaldo Brandão, foi manter a disciplina durante os encontros. “Quando esses velhos amigos se encontram, conversam mais do que tocam. Cada um cheio de histórias, casos, idiossincrasias da vida moderna”, brinca.

As duas novidades do projeto são as faixas “Idiota” e “Tá tudo podre”. A primeira nasceu como “Midiota”, mas um erro de impressão fixou o título atual. “Ela fala desse mundo da internet, que abriu um leque de possibilidadzes sem volta, tanto para o bem quanto para o mal”, explica Arnaldo. Já “Tá tudo podre” é definida como uma canção de protesto, abordando crise climática, vacinas e política. “É sobre essa sensação geral de negatividade que a gente vive”, completa.


Tributo a Tavinho

O trabalho também presta tributo a Tavinho Paes (1955-2024), poeta e letrista do Hanoi Hanoi, que morreu em outubro do ano no passado, em decorrência de duas cirurgias feitas após sofrer infarto. Ele compôs as duas inéditas em parceria com Arnaldo, idealizou cenários e vídeos para o DVD e chegou a gravar uma performance de poesia.

“Tavinho era amor e ódio. Muito radical em alguns aspectos, mas também bem-humorado e generoso. A gente morre de saudade dele”, diz Arnaldo. Foi ele quem sugeriu o nome Hanoi Hanoi, inspirado na revista de ficção científica Métal Hurlant, na qual cidades orbitais recebiam nomes duplos, como “Nova York Nova York”.

Apesar da longa espera, o resultado chega como celebração do legado da banda amada por tantos mineiros. “Foi superemocionante entrar no palco com os meus amigos de novo. Parecia que a gente estava vivendo aquele filme de muitos anos atrás”, diz Bacelar. Arnaldo completa: “É um prazer enorme reencontrar os amigos e lançar esse DVD agora. Estou muito feliz com isso”, diz.

  

“30 ANOS NA INSANIDADE”
• Álbum e DVD de Hanoi Hanoi
• 21 faixas
• Jasmin Music
• Disponível nas plataformas
digitais e no YouTube

FAIXA A FAIXA
• “Coração Geiger”
• “Pensamento”
• “Algumas mulheres”
• “Tá tudo podre”
• “Fausto Brasil”
• “Felicidade zen”
• “Fanzine”
• “Jovem”
• “Ideologia”
• “Ano do dragão”
• “Totalmente demais”
• “Plic plic”
• “O tempo não para”
• “Cheira a confusão”
• “Nem Sansão nem Dalila”
• “Saideira”
• “Bonsucesso 68”
• “Noite de prazer”

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