A Outra Banda da Lua lança primeiro disco após saída de Marina Sena
Grupo de Montes Claros incorpora dois novos integrantes e grava ‘Entre a terra e o sol’. Álbum que define a nova sonoridade chega às plataformas na sexta (3/10)
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Com o lançamento do disco “Entre a terra e o sol”, A Outra Banda da Lua mostra que é muito mais do que a antiga banda de Marina Sena. A saída da popstar não deixou atritos, tampouco fez o grupo querer apagar a história ao lado dela, mas é sobretudo por meio do nome da artista que ainda são lembrados pelo grande público.
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A mudança abriu espaço para que os músicos pudessem se mostrar mais e ampliar a relação com a música. Primeiro disco lançado em cinco anos, o projeto marca uma virada importante na carreira do sexteto e carrega referências que vão de Téo Azevedo (1943-2024) aos Beatles.
O projeto teve uma gestação longa, iniciada logo após Marina decidir seguir carreira solo. A saída dela do posto de vocalista principal trouxe dúvidas entre os integrantes sobre os rumos da banda. Encerrar as atividades, no entanto, nunca esteve em pauta. “A gente sabia que ia continuar, mas a questão era como. Essa busca virou o eixo desse trabalho”, conta o baixista Matheus Bragança.
Agora, os quatro membros que estão desde o início – Matheus Bragança, Edssada, André Oliva e Mateus Sizilio – dividem a frente do palco e assumem juntos as vozes. A formação ganhou reforços com o percussionista Daniel Martins e o baterista Davi Ramos, o Dadau.
Fases de produção
Durante o ano de 2021, o grupo fez uma longa pré-produção em home estúdio, testando diversas possibilidades e composições para entender o que cabia ou não no disco. A gravação foi finalizada já em 2022, o audiovisual foi gravado em 2023, e entre 2024 e 2025 a banda trabalhou na pós-produção.
A ideia era criar algo ainda não explorado pelo grupo. “A gente teve esse cuidado de trabalhar bem os detalhes em todo o processo. É dificultoso para nós que estamos fora dos grandes centros”, diz Bragança – o grupo surgiu em 2015, em Montes Claros,e todos os integrantes ainda moram na cidade do Norte de Minas.
“Esse disco é especial por termos tido tempo para fazer uma produção bem feita, testar possibilidades, testar músicas e ver como funcionavam em cada momento”, comenta Edssada.
Produzido pelos integrantes André Oliva e Matheus Bragança entre Belo Horizonte e Montes Claros, o álbum traz como referência maior o mineiro Marku Ribas (1947-2013), expoente do samba rock. As imagens de divulgação foram feitas no Rio São Francisco, entre Pirapora e Buritizeiro. “Enquanto banda, amamos a obra de Marku Ribas e como ele trabalhou a música”, diz Ed.
A autoprodução trouxe uma visão mais ampla dos processos de criação. “Experimentamos vários timbres e camadas”, afirma Braga. Ele aponta que a experimentação é a principal diferença da nova fase do grupo. “Aprimoramos o processo e provocamos em nós mesmos essa busca pelo novo, pelo mergulho na própria obra e nas referências”, conta.
Sertão mineiro
O disco explora temas ligados à paisagem do sertão mineiro e às experiências do dia a dia, como o calor, a natureza em transformação, a amizade, o amor e a saudade. A influência catrumana, movimento idealizado pelo antropólogo João Batista de Almeida Costa que valoriza o Norte de Minas como berço do estado e seu papel na formação da sociedade mineira, marcou a concepção artística do trabalho.
“Entre a terra e o sol” apresenta 12 faixas distribuídas em dois movimentos, o primeiro de caráter mais solar e o segundo, mais noturno. A sonoridade do disco mais uma vez é um grande caldeirão de influências, unindo rock, pop e psicodelia, sempre com muito groove. Em resumo, a identidade sonora está profundamente ligada à origem norte-mineira, ao mesmo tempo em que abraça experimentações contemporâneas, como sintetizadores e beats.
“Somos músicos conscientes da música que existe no mundo, mas muito enraizados no que vivemos. Esse contexto cultural pulsa naturalmente em nossas músicas, mesmo que elas caminhem para outras vertentes e linguagens. A arte nos possibilita eliminar fronteiras e desde o início A Outra Banda da Lua foi isso”, afirma Edssada.
Marina Sena comunicou sua saída do grupo em agosto de 2020 para se dedicar à carreira solo. O fim da parceria foi marcado pelo lançamento do EP “Catapoeira” em janeiro de 2021. Bragança observa que o grupo não tem intenção de se distanciar da história com ela. “Marina é uma amiga muito próxima, parceira e artista que admiramos. Ver o sucesso dela nos grandes festivais é como se a gente estivesse lá também”. André Oliva, inclusive, acompanha a nova turnê de Marina ao violão.
Com o novo disco, A Outra Banda da Lua quer mostrar que “o regional legal” pode dialogar com expressões contemporâneas. “Estamos nos interiores do Brasil, mas conseguimos dialogar com o mundo, expressando uma arte autêntica, que não é apenas regional, embora mantenha suas raízes”, diz Edssada. O grupo pretende cair na estrada e integrar a rota dos grandes festivais no próximo ano.
“ENTRE A TERRA E O SOL”
• Disco de A Outra Banda da Lua
• 12 faixas
• Alá Comunicação e Cultura
• Disponível nas plataformas a partir desta sexta-feira (3/10)