MÚSICA BRASILEIRA

Fernanda Abreu revisita ‘Da lata’, 30 anos depois do lançamento

Cantora e compositora prepara documentário em formato making of, remix, vinil e livro, em torno do disco que consolidou sua carreira

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“Fernanda Abreu – Da lata 30 anos”, projeto (documentário, livro, vinil, remix e futura turnê) que celebra o aniversário do mais importante álbum da garota sangue bom, apelido que a acompanha desde essa época, nasceu de uma “limpeza de gavetas”.


Em outubro de 2024, Paulo Severo, amigo das antigas de Fernanda (quando diretor era chamado de videomaker), ligou para ela. Estava limpando antigas fitas VHS e havia encontrado muito material dela, em especial do álbum “Da lata” (1995).


Tinha registrado a gravação do disco no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro; a mixagem no Soul II Soul Studio, em Londres; a sessão de fotos feita com Walter Carvalho; a gravação dos clipes no Sambódromo; a estreia do show no Canecão. “Vamos fazer um documentário”, disse ela, de pronto.


Cantora, compositora e bailarina, Fernanda, de 64 anos, é também obstinada. Em um ano, conseguiu realizar os quatro produtos derivados do álbum. Depois da première no Festival do Rio, o doc segue no circuito de eventos do gênero para depois ser lançado em algum canal ou streaming.


O livro, da editora Cobogó, já está à venda. O vinil será viabilizado pelo Clube do Vinil, da Universal Music (a curadoria é de Charles Gavin). Em 13 de novembro, sai o remix de “Garota sangue bom”, assinado por From House to Disco, projeto de Livia Lanzoni e Bruna Vasconcelos. Em 2026, Fernanda pretende viajar com o show deste álbum – datas, cidades e tudo o mais ainda estão em aberto.


Samba funk

“‘Da lata’ foi meu primeiro disco de ouro, o trabalho com que lancei minha carreira fora do Brasil, a afirmação da minha linguagem, o samba funk. E talvez seja o último disco da era analógica, já que em 1997 a gente já estava gravando em Pro Tools”, conta ela.


O álbum emplacou os hits “Veneno da lata” (com a participação de Herbert Vianna), “Garota sangue bom” (com Fausto Fawcett), “Um dia não, outro sim”, “Brasil é o país do suingue” e “Babilônia rock”.


O documentário, ao acompanhar a feitura do dico por meio de imagens da época entremeadas por entrevistas atuais com as pessoas que fizeram parte dele (33 entrevistados, de Herbert Vianna ao poeta Chacal), radiografa também o modus operandi da música pop brasileira da época, algo impensável nos dias de hoje.


“Já tive uns dois ou três convites para fazer um documentário da carreira. Vamos esperar mais um pouquinho, quando eu tiver uns 70”, conta Fernanda sobre a resposta que deu a realizadores interessados.


O doc “Da lata 30 anos”, dirigido por Paulo Severo, traz um recorte muito específico. “Acho que ele deu uma pincelada para quem é leigo, da nova geração, entender um pouco sobre quem é Fernanda Abreu. E traz também para essa geração uma informação preciosa, que é o mundo analógico. Hoje, eu componho aqui (do celular). Ninguém se encontra mais como era em estúdio”, comenta.


Registro da criação

O filme acompanha tudo, desde como Fernanda, que já tinha dois álbuns (“SLA 1 e 2”, de 1990 e 1992) encontrou, a partir do funk carioca, da lata, do Rio do morro e do asfalto, a sonoridade que queria. A câmera de Severo é sempre muito próxima – “Ele vivia com a câmera para lá e pra cá, ficava num cantinho, e a gente até esquecia dele”, conta Fernanda – e mostra como as coisas realmente se davam: a criação (com gente como Herbert Vianna, Chacal e Fausto Fawcett) acontecia no calor da hora, entre debates (por vezes, embates).


O maior deles rolou entre os dois principais produtores – Liminha e o britânico Will Mowat, do grupo Soul II Soul, que estava no auge na época. Os dois não se suportavam. Cada qual produziu quatro canções – o mineiro Chico Neves também assinou duas, mas a treta se deu com os dois primeiros.


Os depoimentos atuais são leves, com elogios de um lado e de outro. Na época, a coisa foi feia. Um não queria ver o outro pela frente – Fernanda fez um trabalho de contenção, em especial de egos. “Sou uma virginiana bem organizada e sou carinhosa. Mas sei o que quero, sou a maestrina da orquestra. Quando é para ser mais dura, eu sou, mas sei ser flexível também. Acho que a negociação é uma arte feminina.” Os dois não poderiam nem se encontrar no estúdio – no Rio e em Londres. “Não abri, em nenhum momento, que estava um ti-ti-ti com o outro.”


Ela foi também, e durante um bom tempo, a única mulher na sala. Foram dois meses de gravação, mais um de mixagem. Quando o disco ficou pronto, Fernanda levou um banho de água fria. Na audição, o chefão da gravadora EMI da época foi categórico: “Esse disco não vai dar certo. Você está lançando um disco de samba no momento em que o Lulu Santos está arrasando com ‘Assim caminha a humanidade’, que a dance music finalmente está pegando no Brasil”.


Nem é preciso dizer o quão arrasada Fernanda ficou. Tanto que o mesmo executivo a chamou para dizer que tinha uma pessoa na Europa e que achava que lá fora o trabalho iria vingar. Era Bruno Boulay (também presente no doc), à frente do selo Totem. “Da lata” foi lançado no Brasil e na França, com seis meses de diferença. As previsões estavam erradíssimas: o disco foi sucesso aqui e lá fora.


“Quando o tempo vai passando, você ganha outra perspectiva. Mas quando fiz o ‘Da lata’, só tinha vontade de fazer um som diferente, que a pessoa ouvisse e pensasse ‘esse som só pode ser feito no Brasil”, diz Fernanda.


LIVRO “FERNANDA ABREU – DA LATA 30 ANOS”
Organização de Fernanda Abreu e Luiz Stein. Cobogó, 156 páginas. R$ 180

VINIL “DA LATA”
O álbum será comercializado somente no Clube do Vinil. Informações no site Clube do Vinil

REMIX “GAROTA SANGUE BOM”
Assinado por From House to Disco, será lançado nas plataformas digitais em 13 de novembro

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