LANÇAMENTO MUSICAL

Carminho dá voz às mulheres em "Eu vou morrer de amor ou resistir"

Novo álbum da artista portuguesa tem suas raízes no fado, mas incorpora elementos da música experimental e revela-se abertamente feminista

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Com um pé fincado no fado tradicional e a cabeça no que o mais português dos gêneros musicais pode ser na atualidade, a cantora e compositora Carminho acaba de lançar seu novo álbum, “Eu vou morrer de amor ou resistir”. O trabalho reforça seu lado autoral, já que ela assina oito das 11 faixas, além de assumir a produção-executiva, em parceria com Miguel Isaac. A artista diz que buscou entrelaçar, neste novo rebento, tradição, poesia e diferentes texturas.

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“Estou permanentemente a experimentar, a trabalhar o fado, porque o que mais me interessa é o processo e o pensamento que me vem quando estou a fazer um disco, e talvez o resultado final mostre isso”, diz. Ela afirma que o novo disco é uma continuidade clara de seus dois últimos álbuns, “Maria” (2018) e “Portuguesa” (2023). Carminho diz que a linha que os une é a tentativa de misturar ideias que o fado lhe transmite, não só poéticas.

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Ela ressalta que, desde “Maria”, tem buscado novas temáticas e novas possibilidades de escrita e composição que aproximem o fado tradicional de novas propostas. “Isso até mesmo do ponto de vista formal, dos instrumentos, o que estão lá a fazer e como podem conviver, que aspectos sonoros podem trazer, buscando outras regiões que o fado tradicional não tem”, diz. No novo álbum, as tradicionais viola de fado e guitarra portuguesa convivem com mellotron e vocoder, que modula e sintetiza sua voz.


Multiplicidade artística


Carminho diz, contudo, que “Eu vou morrer de amor ou resistir” é muito calcado na ideia de voz como elemento primordial no fado. Ela afirma que o gênero pode estar apenas na voz, que, no entanto, comporta multiplicidade artística. “Há uma ideia da fadista que é muito segura de si, muito afirmativa, mas, de repente, essa intérprete tem dúvidas, tem conflitos, tem ideias discordantes. Pode haver ambiguidades, e todas essas vozes cantam também quando uma intérprete canta”, ressalta.

Ela observa que o título do novo trabalho expressa exatamente essa ambiguidade e também encerra a ideia de subverter um caminho. “Quando digo que 'Eu vou morrer de amor ou resistir', não se trata apenas de contrariar uma certa tendência fatalista, às vezes machista. Continuamos todos a morrer de amor, não há nada a fazer, mas a possibilidade de resistir também me interessa cantar”, diz, citando como exemplo a faixa “Sofrendo da alma”, poema de Amália Rodrigues que musicou.


Carminho também compôs sobre os versos da poeta experimental portuguesa Ana Hatherly (1929-2015), na canção “Saber”, que diz: “Saber / é saber saber-te / sabermo-nos unir / unirmo-nos é conhecermo-nos / sabermos ser / por fim sermos / é sabermos”. Ela observa, a propósito, que a presença das mulheres é notável em todo o trabalho, a começar pela participação especial de Laurie Anderson nesta faixa, fazendo um contraponto, sussurrando a letra da canção em inglês.


Inspirações


Grandes vozes femininas do fado, como as de Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição e de sua mãe, Teresa Siqueira, lhe serviram de inspiração, bem como os conjuntos de guitarras portuguesas. As referências incluem outras duas mulheres que inovaram a cena musical em âmbito global. Uma delas é a cantora estadunidense Annette Peacock, uma das pioneiras da música eletrônica, desde os anos 1960, cuja obra é marcada por forte liberdade estética e emocional, segundo Carminho.

A outra, ela diz, é a produtora e compositora Wendy Carlos, uma das precursoras no uso de sintetizadores, autora das trilhas dos filmes “Laranja mecânica” e “O iluminado”, ambos de Stanley Kubrick. “Essas mulheres tiveram um papel admirável ao experimentarem novas possibilidades de uso das vozes femininas. Sem elas, eu não teria feito este álbum. As duas mostraram que as mulheres e suas vozes podem romper padrões. Isso fica claro quando uso o mellotron e o vocoder”, diz.


Ela ressalta que, a cada faixa do novo álbum, sua voz pode revelar diferentes estados de espírito, diferentes mulheres e até diferentes épocas. “O disco contém a ideia da ancestralidade das minhas influências. Sou influenciada por minha mãe e por essas outras mulheres da minha escuta. São vozes que atravessam a intérprete que sou. Quando uma cantora canta, traz consigo todas as outras cantoras. Há um passar testemunho no fado, um atravessamento temporal”, salienta.

Vinda ao Brasil

Carminho virá ao Brasil em novembro, lançando “Eu vou morrer de amor ou resistir”, dentro da programação do Festival Fado 2025, com apresentações no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília, entre os dias 23 e 26.

Ao longo de mais de 20 anos de carreira, a cantora e compositora construiu uma relação de proximidade com a cultura do país – já gravou com Chico Buarque, Caetano Veloso, Marisa Monte e Milton Nascimento, além de ter lançado um álbum dedicado a Tom Jobim.

“EU VOU MORRER DE AMOR OU RESISTIR”

De Carminho

11 faixas

Sony Music

Disponível nas plataformas digitais

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