MÚSICA

Ivan Lins conta por que se ‘autoexilou’ em Portugal por um período

Cantor e compositor de sucessos como ‘Madalena’ revê a carreira no show que marca sua chegada aos 80 anos e tem apresentação única em BH, nesta sexta (10/10)

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No Brasil, Ivan Lins é o artista das multidões, de “Começar de novo”, “Madalena”, “Dinorah Dinorah” e um tanto de canções que fazem parte da história da música nacinal. Fora, em especial nos Estados Unidos, é o papa do jazz – Ella Fitzgerald foi a primeira a gravá-lo, numa lista em que também estão Sarah Vaughan, Manhattan Transfer, George Benson.


“A música brasileira é muito mais consistente do que a americana. Não sou só eu que sou considerado jazzista lá fora: Milton Nascimento, Djavan, Edu Lobo, Marcos Valle. Fomos criados numa época em que a nossa música tinha forte apelo popular e consistência artística. Nos outros países, quando o cara bota um acorde mais sofisticado, acaba sendo considerado jazzista”, afirma.


Oitenta anos de vida, completados em 16 de junho passado, e 55 de carreira, são desfiados no show “Ivan Lins – 80 anos”, que chega nesta sexta (10/10) a Belo Horizonte, com apresentação única no Palácio das Artes – os últimos ingressos estão à venda.


“Meu show, mesmo no Brasil, sempre valorizou o músico que sou e os que trabalham comigo. Ou seja, tem improviso. Nesse, como tem muito mais músicas, os solos ficaram menores. Mas não abro mão deles, porque a minha concepção de jazz é liberdade, e você poder criar na hora, de acordo com o que está sentindo”, afirma.


“Esperança e amor”

“Ivan Lins – 80 anos” foi concebido pelo próprio e por seu filho, o ator e cantor Cláudio Lins, que assina a direção do espetáculo. Não foi uma tarefa fácil fazer um retrospecto – Ivan tem cerca de 800 músicas gravadas. “Como dar conta dessa história? Optamos por assuntos mais ligados à realidade em que estamos vivendo. Partimos para canções que tratam de esperança e amor, coisas mais positivas.”


A única inédita é “Meninos de Gaza”, parceria com Simone Guimarães. “Já que estamos vivendo em um planeta com tanta violência e estupidez, acho que essa música retrata muito bem (esse período)”, diz ele, que sempre demonstrou coerência com suas posições. Passou uma temporada grande em Portugal – “Eu me autoexilei durante quatro anos, longe desses caras que estavam aí, mas sempre voltava (para o Brasil para trabalhar)”. Só retornou ao Rio de Janeiro quando Lula foi eleito.


“Acho que todo artista tem que ser responsável pela obra que produz, tem que agir como um agente transformador com o que fala para as pessoas. Ao mesmo tempo, quando tem muita gente junta, a música age quase sempre como um discurso político. Então tem que ter muita responsabilidade na mensagem”, comenta.


O show começa de forma emocionante, conta Ivan, com um vídeo nos telões que perpassa momentos de sua trajetória. É muita história de um músico que tinha muito para dar errado. Filho de militar, o engenheiro naval Geraldo José Lins, mais tarde economista, Ivan é autodidata.


Banda do colégio

O piano só chegou definitivamente depois de uma frustrada tentativa de tocar trompete – na banda do colégio militar. Avesso a aprender teoria, tirava tudo “de ouvido”. Educação formal mesmo só teve mais tarde, em 1972, quando já era conhecido.


Durante um ano, teve aulas com Wilma Graça, pianista de formação erudita que se tornou referência como professora de Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo e Francis Hime. “Ela me ensinou muito sobre harmonia, me deu noções de arranjo, abriu minha cabeça. Passei a entender o que fazia pois, teoricamente, eu não tinha noção. Era tudo intuitivo.”


A música tampouco foi o caminho desenhado para ele. O pai queria que ele seguisse outra carreira. Ele seguiu o protocolo e se formou em Química Industrial. Numa entrevista de emprego, saiu com a convicção de que aquele não era o seu lugar – o chefe da empresa pediu autógrafos para a família.


Ivan ganhou o Brasil no início da década de 1970, quando defendeu “O amor é o meu país” no 5º Festival Internacional da Canção. Mas seu melhor cartão de visitas veio por meio de Elis Regina, com a gravação de “Madalena” (1971). Grande demais no Brasil, Ivan seguiu na década de 1980 para os EUA e, de lá, para o mundo, onde permanece até hoje – em setembro, fez shows no Japão; na semana que vem, se apresenta na Califórnia.


Grande músico e ótimo contador de histórias, ele se lembra de um momento célebre. Miles Davis ouviu os discos dele e decidiu gravá-lo. Ivan comenta a conversa telefônica que tiveram, imitando, com graça, a voz gutural da lenda. “‘Man, you are a fucking songwriter. I chose 28 songs, man. I think I have to do a fucking double album’ (Escolhi 28 músicas, acho que vou ter que fazer um álbum duplo).”


Do lado de cá da linha, Ivan “só ouvindo e agradecendo”. Miles continuou: “Your arrangements, too many notes” (muitas notas em seus arranjos, disse o mestre do minimalismo). Miles disse para Ivan que teria que cortar as notas pela metade. O tal disco, que seria coproduzido por Quincy Jones, com quem Ivan já tinha uma relação, nunca saiu. O trompetista morreu em setembro de 1991, cerca de oito meses depois dessa única conversa.

Ouça Ivan Lins contando a conversa com Miles Davis:

Made with Flourish


Disco de sambas

Pela primeira vez, Ivan Lins vai lançar um disco só com sambas, finalizado na semana passada. O trabalho, que vai ser lançado pelo Selo Sesc, reúne parcerias com Martinho da Vila, Chico Buarque e Nei Lopes e as participações de Zeca Pagodinho, Mart’Nália, Diogo Nogueira e Xande de Pilares.

IVAN LINS
Show nesta sexta (10/10), às 21h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: Plateia 1: a partir de R$ 225; Plateia 2: a partir de R$ 175; Plateia superior: a partir de R$ 115. À venda na bilheteria e no Eventim.

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