O Museu Inimá de Paula recebe, a partir desta quarta-feira (8/10), uma grande retrospectiva do artista plástico Fernando Pacheco, intitulada “Esconderijo”, que reúne trabalhos que vêm sendo desenvolvidos há décadas e também obras inéditas, feitas especialmente para a exposição.

A mostra é composta por 260 pinturas em papelão e cartão de embalagens comerciais, da série “O papel do artista”, e por criações avulsas em outros suportes.


O conjunto traz pinturas em madeira, pinturas sobre papel em pequenos formatos e 30 pinturas sobre telas, em grandes dimensões, realizadas este ano. “Esconderijo” inclui, ainda, uma homenagem a Inimá de Paula, com três retratos que Pacheco pintou do amigo e patrono do museu.

Sobre a série “O papel do artista”, ele diz que é um trabalho que atravessa toda a sua trajetória, que começou como uma alternativa de produção e que acabou incorporado ao seu cotidiano.


“É uma provocação, no sentido de que para desenvolver a linguagem artística na pintura não é necessário ir a uma loja comprar telas. Uso como suporte caixas desmontadas de embalagens. Tudo o que estiver ao alcance da mão é válido”, afirma. “Comecei usando esse material alternativo, incorporando seus vincos e cortes, e ele acabou virando parte integrante da minha obra.”

Ele destaca que, para essa série, pinta de maneira espontânea, quase visceral, o que explica o grande volume de obras.


Livro e audiovisual

“O papel do artista” já gerou um livro, que une arte e filosofia ao longo de 200 páginas, e vai render, ainda, no próximo ano, um registro audiovisual. Sobre os outros trabalhos que compõem a exposição, Pacheco ressalta que eles podem ser lidos de forma isolada, mas também formam um corpo único, já que estão todos inseridos dentro de sua proposta artística.

“As pinturas inéditas que fiz exclusivamente para essa mostra, por exemplo, cada uma tem sua própria identidade e sua própria reflexão, mas formam um grande painel”, diz.


Com relação às pinturas em madeira, ele conta que vêm sendo produzidas há mais tempo, na casa ateliê que mantém em Saquarema, no litoral do Rio de Janeiro. Pacheco conta que, antes de se tornar uma praia “incrementada”, em função das competições de surfe, era praticamente selvagem.

“Eu ia passear e encontrava muita madeira velha, restos de barcos, que eu catava e nos quais fazia inserções de pinturas. É uma outra forma de mostrar minha relação com suportes variados, saindo da tela convencional”, comenta.


As pinturas em madeira também fazem parte de uma série, batizada “Sopro do deserto”, por se tratar de um suporte que simplesmente lhe chega ao sabor do acaso. Como “Esconderijo” tem um caráter retrospectivo, apesar da presença de obras inéditas, o artista considerou importante mostrar as diferentes facetas de sua produção.

“É um traçado da minha trajetória na arte. Nasci em São João Del-Rei, mas moro em Belo Horizonte a vida inteira, então casou maravilhosamente para fazer essa celebração no Inimá de Paula”, diz.


Território humano

Pacheco chama a atenção para o fato de que o título da exposição alude a duas instâncias. Uma delas, ele diz, é concreta, porque muitas das obras expostas estavam “escondidas” em suas gavetas e agora vêm à luz.

“Outro sentido, mais conceitual, é que minha pintura é ligada ao território humano. Através dessas obras, busco revelar situações que normalmente ficam no esconderijo da alma, os desejos, sonhos, fantasias, segredos, mistérios, tudo isso que muitas vezes permanece irrevelado”, explica.


Ele pontua que são, em muitos casos, imagens que se valem de metáforas para perscrutar e trazer à tona questões que habitam os recônditos da alma.

“A proposta da minha arte é ser território onde esses mistérios e essas fantasias de cada um possam encontrar pontos de diálogo”, afirma. Pacheco não hesita em dizer que o ser humano é a matéria-prima de suas criações. “A grande mudança que a gente deseja está dentro de cada um, e a arte é um excelente caminho para que essa mudança possa florescer”, diz.


No que diz respeito aos três retratos de Inimá de Paula que integram a exposição, ele conta que foram feitos em dezembro de 1984.

“Eu era bem mais jovem, tinha uns 40 anos, e ele já estava com mais de 70, mas, apesar da diferença de idade, ficamos muito próximos, por meio da pintura. Inimá era um grande retratista, então foi um pouco de cara de pau pedir que ele posasse para mim. Como estou expondo agora no museu que leva o nome dele, quis fazer essa homenagem.”.


“ESCONDERIJO”
Individual de Fernando Pacheco, a partir desta quarta-feira (8/10) até 30/11, no Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1.201, Centro), com horário de visitação às terça, quartas, sextas e sábados, das 10h às 18h30; quintas, das 12h às 20h30; domingos e feriados, das 10h às 16h30. Acesso gratuito.

compartilhe