Três histórias de amor na Cidade do México movidas pela obsessão. Um jovem apaixonado pela cunhada, um homem casado de meia-idade caído por uma modelo, e um pai que não vê a filha há muitos anos. Os cachorros estão por toda parte nessas narrativas, entrelaçadas por um acidente brutal.


“Amores brutos” (2000), longa de estreia de Alejandro González Iñárritu, foi um acontecimento. De volta nesta quinta (9/10) aos cinemas em cópia restaurada – e, a partir de 24/10, na Mubi –, foi também um divisor de águas para sua equipe. O ator Gael García Bernal era um ilustre desconhecido até então.


O diretor de fotografia Rodrigo Prieto estava de partida para os Estados Unidos. Adiou a mudança por conta do filme de Iñárritu, com quem havia trabalhado em publicidade. Foi “Amores brutos” que o levou a trabalhar, logo depois, em “8 Mile: Rua das ilusões” (2002), de Curtis Hanson, “A última noite” (2002), de Spike Lee, e “Alexandre” (2004), de Oliver Stone.


Com quatro indicações ao Oscar, Prieto é, há 12 anos, o fotógrafo dos filmes de Martin Scorsese. Tem conversado com Iñárritu para que voltem a trabalhar juntos – o projeto mais recente da dupla é “Biutiful” (2010).


A seguir, a entrevista de Prieto a um grupo de jornalistas latinos do qual o Estado de Minas participou.


O acidente de carro é o ponto de convergência das três histórias. Como foi filmá-lo?
Havia nove câmeras e tínhamos apenas uma tomada. Escondemos uma câmera em uma caçamba. Uma ficava no alto de um telhado, mas nunca foi usada.

As outras estavam em ângulos que tinham a ver com os personagens. O principal de tudo foi que um dos carros era controlado remotamente. Não havia ninguém dirigindo o carro da modelo com o cachorro: era um manequim.

Então aquele carro tinha que estar na velocidade certa para que o acidente [com o outro, dirigido pelo personagem de Bernal] ocorresse no momento exato. O carro grande era reforçado, e assim os dublês estavam seguros. Mas ninguém teria sobrevivido no outro carro [controlado remotamente]. Esse foi o truque que Alejandro Vazquez, da área de efeitos visuais, projetou.


Cada um dos três segmentos tem suas particularidades. Qual deles foi mais desafiador?
Buscamos uma unidade visual para o filme, mas, ao mesmo tempo, queríamos que cada história tivesse sua própria linguagem. A de Octavio e Susana [a primeira], com as brigas de cães, é mais cinematográfica.

As lentes são um pouco mais fechadas e a câmera se move com uma energia muito particular, como os próprios cachorros e os jovens. Na história de Valeria [a modelo] as lentes são mais abertas e a câmera é mais estática. E a história do Chivo [o homem que quer reencontrar a filha] usamos lentes teleobjetivas porque queríamos dar a sensação de espionagem, de ver as coisas de longe, pois o personagem geralmente fica parado observando.

O desenvolvimento do filme mostrou tantos contrastes que um apartamento de classe média e uma casa de classe alta [cenários do segmento da modelo], na Cidade do México, pareciam não se encaixar. Sem dúvida essa parte foi a mais difícil para mim.

O acidente de carro foi muito difícil, e quase não conseguimos. Mas foi emocionante. Por outro lado, a história do Octavio e da Susana talvez tenha sido a mais fisicamente difícil de fazer, pois não havia janelas nos lugares certos na casa da família. Porém, fotograficamente, entendi muito bem os personagens. Tanto que são eles os de quem me lembro com mais carinho.


A liberdade que teve com “Amores brutos” mudou quando você passou a trabalhar com Hollywood?
Depende muito do diretor. A vontade de experimentar é intrínseca a mim, e tive a sorte de trabalhar com muitos diretores que permitem ideias diferentes. Há aqueles que buscam uma estética muito clara e precisa. É o caso do Ang Lee [o trabalho em “O segredo de Brokeback Mountain” valeu a Prieto, em 2006, sua primeira indicação ao Oscar].

Ele é muito específico quanto ao tipo de lente, ao enquadramento. Dá liberdade na iluminação, mas Ang Lee projeta inteiramente o trabalho de câmera, enquanto outros diretores deixam tudo nas minhas mãos.

Sou muito flexível nesse sentido e nunca senti que Hollywood me force a trabalhar de alguma forma. Os diretores me contratam pelo que viram no meu trabalho, certo? Mas, no geral, posso colocar minhas ideias na mesa.


“AMORES BRUTOS”
(México, 2000, 154min.) – Direção: Alejandro Iñárritu. Com Gael García Bernal, Emilio Echevarría e Goya Toledo. O filme reestreia hoje (9/10), na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes às 15h30, e no Pátio 8, às 16h50 e 20h40 (exceto sáb e dom) e 18h10 e 21h50 (somente sáb e dom). No dia 24/10 ele será lançado na Mubi.

compartilhe