Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Maurício Maestro são a atual formação do Boca Livre, que surgiu em 1978 - (crédito: Leo Aversa/Divulgação)
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Foi uma espécie de “Eureka” de Arquimedes. Maurício Maestro e David Tygel – oriundos do grupo vocal Momento 4 – haviam convidado Zé Renato (do grupo Cantares) e Cláudio Nucci (do grupo Semente) para um ensaio, em meados de 1978.
Bastaram poucas músicas para perceberem a química entre eles e concluírem que, se formassem um quarteto, a coisa teria liga. Mas faltava o nome. Foi então que Maurício teve seu “momento Eureka”: “Boca Livre!”, sugeriu. O nome foi prontamente aceito.
Desde então, o grupo vem compondo e “bocalivreando” – termo que Zé Renato gosta de usar em tom bem-humorado – canções de parceiros. Com sonoridade puxada para o folk brasileiro, o Boca Livre surgiu como contraponto ao batidão da dance music, que começava a se popularizar – basta lembrar que, em 1977, vieram As Frenéticas; em 1978, Tim Maia lançou “Disco Club”; e, em 1979, a novela “Dancin’ Days” estreou na TV Globo.
“Quando mostramos para as gravadoras nosso projeto de grupo vocal, nenhuma quis a gente. Disseram que aquilo nunca daria certo”, lembra Zé Renato, sem perder o bom humor.
A história, porém, mostrou que os executivos da indústria fonográfica estavam completamente equivocados. Entre idas e vindas de integrantes – inclusive do próprio Zé Renato – e um hiato de dois anos devido a discordâncias políticas, o Boca Livre – hoje composto por Zé Renato, Lourenço Baeta, David Tygel e Maurício Maestro – segue em atividade, perto de completar 50 anos e com diversos prêmios no currículo, inclusive o Grammy Internacional de Melhor Álbum de Pop Latino por “Pasieros”, gravado em 2011 e lançado apenas em 2022.
Parte dessa história se reflete no repertório que o grupo apresenta no Palácio das Artes, no próximo dia 31. Como convidado, o grupo terá o Trio Amaranto, formado pelas irmãs Flávia, Lúcia e Marina Ferraz. “Elas são muito musicais e completamente abertas ao novo. Deu muito certo”, elogia Zé Renato.
As irmãs Flávia, Lúcia e Marina Ferraz, do Trio Amaranto, já desenvolveram trabalhos com Zé Renato e Maurício Maestro, do Boca Livre
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Arranjos para septeto
O que eles vão apresentar juntos ainda é segredo. “Deve ser alguns dos maiores sucessos do Boca Livre e uma ou outra do Amaranto”, sugere Flávia. A ideia, segundo ela, é elaborar arranjos inéditos para septeto – função que coube a Maurício Maestro.
Da parte do Boca Livre, presença garantida no setlist são “Toada”, “Caravana”, de Geraldo Azevedo; “Diana”, dos mineiros Toninho Horta e Fernando Brant; e “Panis et circenses”, d’Os Mutantes. “Estamos voltando com outras músicas que há um bom tempo não tocamos”, diz Zé Renato, citando “Chegou no vento”, de Vinicius Cantuária, e “Amor de índio”, de Beto Guedes.
Embora se apresentem juntos pela primeira vez, o Amaranto mantém uma relação antiga com os integrantes do Boca Livre – uma história de admiração mútua e pequenos encontros, ao longo dos últimos 27 anos.
O primeiro contato direto ocorreu em 2003, durante o Festival Internacional de Corais (FIC). Com menos de 10 anos de carreira e prestes a lançar o álbum “Brasilêro”, o trio belo-horizontino foi convidado pelo festival para participar de um bate-papo com o Boca Livre, no mesmo Palácio das Artes onde vão se reencontrar no fim deste mês. Na época, Maurício Maestro, Lourenço Baeta, Fernando Gama e Cláudio Nucci formavam o grupo.
Parceria com Zé Renato
Em 2015, a pedido da cantora Luiza Lara, o Amaranto gravou “Cartas marítimas”, que teve arranjos elaborados por Maurício Maestro. E, durante a pandemia, o trio desenvolveu com Zé Renato versões para “A primeira luz”, de Zé Renato e Fernando Brant; “Cantar”, de Godofredo Guedes; e “O canto em nós”, de Zé Renato e Zeca Baleiro.
“A gente continuou com muita vontade de retomar essa parceria com o Zé Renato. Então, quando acabou o período de isolamento social, ele veio a Belo Horizonte e desenvolvemos juntos um show infantil, que chegou a rodar pelo interior”, conta Flávia, referindo-se à turnê de “O canto em nós – Para crianças”.
Depois da turnê, não houve mais trabalhos conjuntos até agora. Surpresas à parte no repertório, a certeza que se deve ter é que ambos os grupos devem entregar uma performance vocal impecável.
BOCA LIVRE Show com participação do Trio Amaranto. Em 31 de outubro (sexta-feira), às 21h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos à venda por R$ 300 (inteira / plateia 1), R$ 250 (inteira / plateia 2) e R$ 200 (inteira / plateia superior), na bilheteria ou pelo site Eventim. Meia-entrada na forma da lei. Mais informações: (31) 3236-7400.