Dito (Rubens Menezes) retorna à sua cidade natal e tem aproximadamente 15 horas para impedir um prédio público de desabar. A tensão e o desamparo movem “10 graus de inclinação”, novo espetáculo da Confesso Escola de Teatro, que parte de uma situação-limite para falar de responsabilidade coletiva e desigualdade.


Dirigido por Henrique Vertchenko, com assistência de Luiz Dias, o espetáculo terá apresentações desta sexta (17/10) a domingo, no Teatro Cidade. Os atores em cena são estudantes do módulo avançado da Confesso.


A dramaturgia de “10 graus de inclinação” é uma adaptação do filme “O idiota” (2014), do cineasta russo Yuri Bykov. Na história original, um encanador é chamado para resolver um vazamento. No entanto, a situação é mais complicada do que parece e revela que o prédio está prestes a cair.


“Já tinha o desejo antigo de adaptar esse filme. Ele tem um eixo muito concreto e um argumento potente. Mas, quando decidimos trazê-lo para o Brasil, a história se expandiu. Criamos uma ficção poética, ambientada em uma pequena cidade industrial brasileira”, afirma Henrique Vertchenko.


Reencontros

A adaptação coloca Dito como um jovem que, após passar anos estudando em outra cidade, está reencontrando familiares, amigos e uma ex-namorada. O retorno é complicado para o protagonista.


“É um mote bastante comum em outras narrativas. Esse jovem que sai, volta e reencontra um lugar que não é mais o mesmo”, comenta o diretor. “Isso deflagra o desgaste das relações, as expectativas que as pessoas têm em torno dele e também o que ele pretende, como outra forma de subir na vida dentro daquela sociedade”, diz.


Em meio aos reencontros, o personagem recebe uma ligação que o chama para o prédio em ruínas. Os habitantes são, em sua maioria, trabalhadores da fábrica local. As autoridades, que poderiam ajudar a resolver o problema, estão celebrando o aniversário da prefeita.


Para construir a dramaturgia, o processo foi coletivo. “Munidos desse eixo central, começamos a improvisar, criar outras situações, outros personagens e núcleos. Deixamos de lado a realidade russa e levamos tudo para uma cidade qualquer do interior do Brasil”, explica o diretor. Além da referência cinematográfica, o grupo se inspirou em obras de autores como os russos Górki e Tchekhov, o israelense Hanoch Levin e o francês Jean-Luc Lagarce.


A cenografia e os figurinos, com direção de arte assinada por Luiz Dias, primam pela simplicidade. As roupas se assemelham àquelas usadas cotidianamente pelo elenco. No cenário, ferro e madeira dão forma a um prédio em constante transformação.


“Queríamos que esses elementos estivessem presentes desde o começo, moldando a criação. É uma visualidade inspirada na construção civil, maleável, que vai sendo transformada ao longo do espetáculo”, comenta Vertchenko.


O elenco de 15 atores se reveza em vários papéis – com exceção de Rubens Menezes. Dividido entre três núcleos principais – os moradores do prédio, a família do protagonista e os membros da administração pública –, o grupo desempenha em torno de 40 personagens.


“Desde o início, o elenco experimentou personagens de todos os núcleos. Aos poucos, alguns foram se fixando mais em um ou outro, mas o jogo de trocas continua forte. É um exercício bonito de aprendizado, de se desdobrar, mudar de figurino, de corpo, de tom. Essa fluidez é algo que a gente quis trazer também para a encenação”, afirma o diretor.


“10 GRAUS DE INCLINAÇÃO”
Montagem da Confesso Escola de Teatro. Nesta sexta (17/10) e sábado (18/10), às 20h, e domingo (19/10), às 19h, no Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro). Ingressos: R$ 30, à venda na plataforma Sympla.

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

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