Série resgata a emocionante saga de Maguila
A glória e o drama do boxeador, que morreu ano passado, são relembrados nos quatro episódios de 'Prefiro ficar louco a morrer de fome', no Globoplay
compartilhe
SIGA
A plataforma Globoplay exibe “Maguila – Prefiro ficar louco a morrer de fome”, série documental em quatro episódios dirigida por Rafael Pirrho, contando a trajetória de José Adilson Rodrigues dos Santos (1958-2024), o popular Maguila, boxeador peso-pesado que despontou nos anos 1980 como promessa do boxe brasileiro.
Mais que apenas uma série sobre boxe, “Maguila” emociona ao trazer uma história de vida repleta de altos e baixos e uma trama familiar surpreendente. Por trás da aparência divertida e de suas hilariantes aparições em programas de TV, Maguila foi um personagem por vezes trágico, que superou imensas dificuldades financeiras.
Leia Mais
A série explora desde o nascimento do boxeador sergipano, em 1958, numa família pobre de Aracaju, até sua morte em São Paulo, aos 66 anos. O pai era estivador analfabeto, e a pobreza fez com que o jovem de 14 anos migrasse para São Paulo em 1972 para trabalhar na construção civil.
O boxe foi a salvação financeira de Maguila, que começou em lutas amadoras no início dos anos 1980 e tornou-se profissional logo depois, recebendo cachês de fome.
Cheque
O ator e diretor David Cardoso, astro da pornochanchada, é entrevistado no filme e conta que ficou com tanta pena de Maguila ao saber o valor de um de seus prêmios que presenteou o lutador com um cheque no mesmo valor.
A grande virada na vida e carreira de Maguila ocorre ainda na primeira metade da década de 1980, quando o jornalista esportivo Luciano do Valle, depois de sair da Globo, emplaca na TV Bandeirantes o “Show do esporte”, atração que ocupava cerca de 10 horas na programação dominical da Band.
Trunfo
Valle começa a exibir vôlei, basquete, Fórmula Indy e até sinuca (tornando astro o jogador Rui Chapéu). Vê Maguila, lutador carismático e forte que costumava nocautear a maioria dos adversários no Brasil e América do Sul, como um trunfo para alavancar a audiência da Band.
A tática deu certo, e a Band passou a obter excelentes índices de audiência com as lutas de Maguila, tornando o pugilista um astro nacional. As derrotas para o argentino Daniel Falconi e o holandês Andre van den Oetelaar, ambas em 1985, foram marcos do boxe na TV brasileira, e as duas revanches, em 1986, ambas vencidas por Maguila por nocaute, foram assunto nacional.
A série conta em detalhes essa “parceria” de Maguila com Luciano do Valle. É bonito ver o jornalista e apresentador retratado como um profissional que teve papel fundamental na promoção do esporte no Brasil.
Mike Tysson
Maguila continuou vencendo seus combates até o fim da década de 1980, incluindo a vitória muito contestada, por pontos, contra o norte-americano James “Quebra-Ossos” Smith, e chegou a 1989 com o impressionante cartel de 35 vitórias e apenas duas derrotas, para Falconi e Oetelaar. À época, a imprensa brasileira dizia que Maguila estava credenciado para enfrentar o então imbatível Mike Tyson.
Mas a sonhada luta contra Tyson nunca aconteceu. Antes, Maguila enfrentou o poderoso Evander Holyfield, e a luta terminou no segundo assalto com um nocaute brutal. A derrota abalou Maguila, que, menos de um ano depois, foi nocauteado novamente, dessa vez pelo veterano George Foreman.
Os dois primeiros episódios da série contam a ascensão do pugilista até a luta contra Holyfield. Os dois finais tratam da decadência esportiva do lutador, sua transformação em astro televisivo, com participações em programas jornalísticos e cômicos, e sua complicada relação familiar.
Maguila passa a sustentar vários parentes e gasta boa parte de suas economias, reunidas pela esposa e empresária, Irani, em presentes para irmãos, tios e sobrinhos, entre outros.
Encefalopatia
O pugilista começa a sofrer problemas cognitivos, resultado das incontáveis pancadas que levou na cabeça e causaram uma encefalopatia traumática crônica.
O último episódio é o mais triste e comovente, lidando com os últimos anos de vida do pugilista, já fragilizado pela doença. Duas sequências são particularmente emocionantes: a visita de Maguila ao enterro do amigo Luciano do Valle, em 2014, e o reencontro com o rival argentino Daniel Falconi.
Essas imagens ajudam a elevar “Maguila” de simples série sobre o esporte brasileiro a um drama humano dos mais profundos.
“MAGUILA – PREFIRO FICAR LOUCO A MORRER DE FOME”
• Série documental com quatro episódios. Direção: Rafael Pirrho. Disponível no Globoplay