LuizGa troca o formato voz e violão por performance com banda em álbum ao vivo, e Leandro César, associado à música instrumental, solta a voz em ‘Sentido’
Formado em Comunicação Social pela PUC-MG, com pós-graduação em Comunicação Digital pela mesma instituição. Criador do projeto A Cena na Quarentena, com uma série de entrevistas realizadas com artistas de diversas áreas durante a pandemia (todas disponív
"Luizga electric microbigband - live in Lisbon" é o registro de um show que o músico mineiro fez no encerramento de residência na capital portuguesa crédito: Daniela Gandra/Divulgação
Músicos de uma mesma geração, que despontou a partir de meados dos anos 2000 e é marcada por trocas criativas, Leandro César e Luiz Gabriel Lopes, de assinatura artística LuizGa, acabam de lançar novos trabalhos que aprofundam e alargam suas pesquisas, interesses e buscas estéticas.
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O primeiro chega com “Sentido”, um álbum de canções que aproxima a música caipira da música de câmara. O segundo apresenta “Luizga electric microbigband – Live in Lisbon”, gravado em Portugal, onde mora atualmente.
Cantor e compositor que esteve na origem de bandas como Graveola, Rosa Neon e Tião Duá, entre outras, LuizGa explica que o álbum – resultante do registro ao vivo de um show no espaço Bota, em Lisboa – nasceu a partir de uma residência artística de seis meses no local. “Fui provocado a trabalhar com um grupo maior de músicos. Tenho a base muito forte no formato voz e violão, na linguagem solo, mas também tem a coisa da banda, que de tempos em tempos acabo fazendo”, diz.
Ele e outros seis músicos – Jori Collignon (teclados e eletrônica), Bárbara Rodrix e Beatriz Nande (vocais), Afrogame e Theu Nasci (percussão) e Femme Falafel (teclados e coros) – fizeram um show de encerramento da residência, executando um repertório de 20 músicas, majoritariamente de sua lavra, das quais sete foram selecionadas para o álbum, que também ganhou uma versão audiovisual. “Cada elemento da banda acaba trazendo uma característica muito especial para esse disco”, afirma.
Recorte revisionista
“Pé da laranjeira”, “Arqueiro voador”, a recente “Colo” e “Embalagem”, do repertório do Rosa Neon, são algumas das músicas registradas. Somam-se a “Alguém cantando”, de Caetano Veloso, e “Ora bom dia”, do cabo-verdiano Orlando Pantera (1967-2001). “Teve uma vontade minha de fazer um recorte que fosse meio revisionista, com canções que já têm outros fonogramas, mas que pediam um como esse, com banda”, comenta LuizGa.
Ele destaca que uma característica marcante do álbum é a crueza. “É um trabalho cheio de imperfeições, numa perspectiva de preservar a coisa mais natural, sem ficar editando muito. É uma escolha estética, um gesto político de acreditar que, num mundo dominado pelos robôs, pela IA, essa característica do que é humano, naturalmente e charmosamente singular e imperfeito, é muito mágica. Prefiro me filiar a essa produção agroecológica e sem conservantes”, diz.
Reconhecido por seu trabalho na música instrumental e por ser um construtor de instrumentos e esculturas sonoras – algo que traz de seu período como aprendiz de Marco Antônio Guimarães, do Uakti –, Leandro César quis, com “Sentido”, voltar às origens. Ele diz que a canção é sua escola, é o que ouvia em casa quando criança, e que ela sempre esteve presente. Metade das 10 músicas do álbum foi composta durante a pandemia, e a outra metade está diluída no tempo, a partir de 2013.
Em “Sentido”, que tem 10 canções, Leandro César mescla música de câmara e caipira André Fernandes Xavier/Divulgação
Baú cheio
“Eu já estava com o baú de canções cheio, sentindo a necessidade de colocar essas músicas no mundo. O disco começou a ser produzido na virada de 2020 para 2021. Foi um processo lento, que se estendeu até 2023, período em que fiquei experimentando as músicas. 'Sentido' tem uma nostalgia, um desejo de estar mais próximo da canção novamente”, destaca Leandro, acrescentando que, no período da pandemia, se mudou para Igarapé, onde foi criado, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Ele diz que o ambiente em que o álbum foi feito acabou por determinar uma característica marcante. “Essas canções têm uma energia que transita pelo ambiente rural, sem ser caricato, mas que tem a ver com mato, com natureza, com água, com plantar e colher, porque venho desse lugar”, diz. Ele observa, no entanto, que a vestimenta dessas composições tem verniz camerístico, com duetos de violino e violoncelo, marimbas, contrabaixo acústico, oboé, sanfona e fagote.
Outra marca do álbum, é o cuidado com a voz. “Sempre cantei, mas cantava junto, com banda, fazendo uma segunda voz. No meio disso tudo, teve esse processo, que é profundo, íntimo, de descoberta de uma voz”, afirma. “Sentido” conta com algumas participações especiais – de Ceumar, em “Tudo parou”, da qual é coautora; de Sérgio Santos, em “Ouro sagrado”; e de Nath Rodrigues e Jasmim Godoy, em “Fé na estrada”, parceria de Leandro com Sérgio Pererê.