Graduanda em jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No jornal Estado de Minas, atuou como estagiária no caderno de cultura entre 2023 e 2024, quando assumiu o cargo de repórter no mesmo caderno.
A escritora Leda Maria Martins falará sobre seu livro "Performances do tempo espiralar", que inspirou o tema desta edição do festival crédito: Rafael Motta/divulgação
Ao completar 30 anos, o Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN) se expande além do mês de novembro e programa atividades também para os meses de março e maio do ano que vem. A abertura da edição 2025 ocorre nesta segunda-feira (17/11).
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Sobre a decisão de prolongar o FAN, a presidenta da Fundação Municipal de Cultura, Bárbara Bof, afirma: “O festival precisa ser um lugar de encontro a partir de uma política que esteja presente o ano inteiro, que se desdobre para além desses encontros e garanta que os direitos culturais, os direitos de existir e de habitar determinados espaços existam de forma contínua”.
Segundo a gestora, não adianta tentar concentrar toda a produção de artistas negros da cidade em novembro, uma vez que essa produção se dá “de janeiro a dezembro, de segunda a segunda, 24 horas por dia”.
“Não queremos conversar sobre a arte negra somente no mês de novembro. Não queremos falar sobre as infâncias apenas em outubro, sobre os indígenas somente em abril ou sobre as mulheres em meses específicos”, afirma.
Assim, ao completar três décadas de existência, o FAN não só celebra sua trajetória, como também revisita seus modos de fazer, em uma edição voltada a explorar a memória e o próprio percurso, para apontar novos caminhos.
Novo formato
O festival inaugura um novo formato nesta 13ª edição, dividido em três fases. A primeira ocorre de hoje até a próxima sexta-feira (21/11). A programação de abertura, no Teatro Francisco Nunes, prevê um ritual conduzido por mestras e mestres de diferentes tradições religiosas e culturais. Participam Pai Ricardo, Rainha Belinha, Padre Mauro, Mam’etu Muiandê e Sidney D’Oxóssi.
Em seguida, acontece um encontro com a escritora, pesquisadora e dramaturga Leda Maria Martins, autora do livro “Performances do tempo espiralar” (Cobogó). O eixo central da pesquisa de Leda inspira o tema desta edição do evento: “Tempo espiralar e a cidade em movimento”. Segundo a pensadora, o tempo espiralar é uma noção em que passado, presente e futuro coexistem.
O pensamento ressoa no festival como uma forma de compreender o movimento contínuo entre memória e futuro – ideia que orienta também a revisão dos 30 anos do FAN. Como sintetiza Barbara Bof, a proposta é revisitar 1995 para analisar a trajetória do festival e compreender como a cidade respondeu a tais manifestações.
A cantora e compositora carioca Teresa Cristina é a convidada da banda mineira Congadar para apresentação conjunta, nesta noite, no teatro Francisco Nunes Paulo Lacerda / Divulgação
Show de abertura
Na sequência da programação de abertura, a banda mineira Congadar e a cantora Teresa Cristina se apresentam juntos pela primeira vez, unindo tambores, vozes e teatralidade. Quem deseja participar deve retirar os ingressos pela plataforma Sympla.
Ao lado de Teresa Cristina, a banda de Sete Lagoas leva ao palco uma sonoridade que combina tambores afro-mineiros e guitarras elétricas. O grupo reúne os percussionistas e vocalistas Carlos Saúva, Filipe Eltão, Wesley Pelé e Bruno Batista, além de Giuliano Fernandes (guitarra), Marcão Avellar (contrabaixo) e Sérgio DT (bateria).
Saúva lembra com carinho da edição de 2011 do festival, ano em que assistiu a uma apresentação de Nei Lopes. “Tenho uma admiração muito grande pelo projeto”, afirma. O encontro com Teresa Cristina ocorreu em um evento de samba na cidade natal dos músicos e resultou na regravação de “Promessa ao Gantois”, dos Tincoãs, lançada em junho deste ano. No show, a Congadar inicia a apresentação sozinha e, em seguida, recebe Teresa para dividir o repertório, incluindo a nova parceria e algumas surpresas.
Programação na Funarte
A primeira edição do FAN contou com grandes nomes, como Elza Soares, Beth Carvalho e Dona Ivone Lara. Desde 2003, o evento é realizado bienalmente. Bárbara Bof conta que o início do festival também marcou o começo das políticas de valorização dos movimentos sociais e da presença das manifestações artísticas e culturais de pessoas negras na cidade.
Neste ano, a curadoria foi feita em parceria com o Instituto Periférico. Além da noite de abertura no Teatro Francisco Nunes, a primeira fase do festival inclui atividades na Funarte, com lançamentos de livros, sessão de filmes sob curadoria da Semana de Cinema Negro, espetáculos, contação de histórias, performance do Bloco Magia Negra, além de ciclos de conversa sobre memória, patrimônio e sustentabilidade.
Em março, o FAN retorna com ações dedicadas à ancestralidade, incluindo encontros, oficinas e celebrações em territórios, terreiros e quilombos. Já em maio, a 13ª edição encerra o ciclo com shows, exposições e atividades formativas, que ainda serão confirmadas.
“É impossível para o festival, em uma única edição, atender a todas as demandas das políticas públicas. Mas muitas das atrações que são pensadas aqui também resultam da escuta desses agentes da cidade”, afirma Bárbara Bof.
Atividades paralelas
Até o próximo domingo (23/11), os espaços do Circuito Liberdade recebem programação gratuita dedicada à valorização da cultura negra e ao combate ao racismo. Na quarta-feira (19/11), a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais recebe a escritora Madu Costa para um mergulho na obra de Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra da América Latina.
Na quinta (20/11), o MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal oferece atrações infantis, como a contação de histórias “Djalminha e os segredos do fundo do mar”, que apresenta figuras negras importantes para a ciência brasileira, e o show “Música de preto”, da musicista Michelle Oliveira.
De quinta a sábado (22/11), o Museu dos Brinquedos propõe o projeto “Afrobrincar - brincadeiras daqui e de lá”, com atividades voltadas para crianças e suas famílias. A programação completa está em no site do Circuito Liberdade.
13ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE ARTE NEGRA DE BELO HORIZONTE Abertura hoje (17/11), a partir das 19h, no Teatro Francisco Nunes (Av. Afonso Pena, 1321 - Centro), com Leda Maria Martins, Teresa Cristina e Grupo Congadar. Entrada gratuita com retirada de ingressos pelo Sympla. Programação completa em no site da prefeitura.