Lia de Itamaracá e Daúde lançam álbum com inéditas de Otto e Emicida
Artistas pernambucana e baiana somam forças em "Pelos olhos do mar". Disco, produzido por Pupillo e Marcus Preto, traz 10 faixas, incluindo também releituras
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Cantoras de diferentes gerações, representantes de linguagens musicais distintas, a pernambucana Lia de Itamaracá, de 81 anos, e a baiana Daúde, de 64, encontram um lugar de confluência no álbum “Pelos olhos do mar”, que chegou às plataformas na última quinta-feira (27/11), com lançamento também em formato físico. Com produção de Pupillo e Marcus Preto, o disco traz 10 faixas, entre inéditas, compostas especialmente para o projeto, e releituras.
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Emicida, Karina Bhur, Russo Passapusso e Otto assinam, respectivamente, “Santo Antônio da boa fortuna”, “Bordado”, “Florestania” e a faixa que dá nome ao álbum. Entre as regravações, constam “A galeria do amor”, de Agnaldo Timóteo; “As negras”, de Chico César; e um pot-pourri de cocos – “Bar do Hermínio” (Dona Célia do Coco), “Galo cantou” (Selma do Coco) e “Xô, xô, meu sabiá” (domínio público) –, gênero pelo qual, junto com as cirandas, Lia é mais reconhecida.
“Pelos olhos do mar” é pródigo em participações especiais. Às vozes das duas somam-se às de Céu, Assucena, Isaar, Juliana Linhares, Biu Baracho e Dulce Baracho, Lígia Fernandes, Ceycyly Fulni-Ô e Otto. Além de assinar a produção, Pupillo comparece tocando bateria e percussão, pilotando os eletrônicos e fazendo o coro, numa formação que traz ainda outros instrumentistas consagrados, como Pedro Baby (guitarra e violão) e Fábio Sá (baixo).
Encontro nos palcos
Uma série de apresentações conjuntas precedeu o encontro de Lia e Daúde no estúdio. A cantora baiana lembra que, há cerca de 10 anos, integrou o elenco de um show que, além de Lia, contava também com Zezé Motta e Rita Benneditto. A partir dali, ela conta, as duas protagonistas de “Pelos olhos do mar” começaram a se entrosar mais, participando uma dos shows da outra. Daúde diz que foi de Beto Hees, produtor e empresário de Lia, a ideia de um trabalho conjunto.
“Ele morava na Alemanha, onde atuava como DJ, colocando músicas minhas para as pessoas dançarem. Eu já conhecia a obra de Lia, me era muito familiar. Depois de algumas colaborações em shows, Beto propôs que fizéssemos esse trabalho juntas, como uma espécie de fechamento que, na verdade, é o início de um ciclo, abre uma porta”, destaca. Ela ressalta que “Pelos olhos do mar” é um registro que reflete tanto a afinidade artística quanto a admiração mútua.
“A gente tinha essa vontade, esse desejo do encontro. A minha realidade musical e a dela se entrelaçam porque isso é Brasil. É música brasileira, é cultura popular, é cultura urbana. Não existe um bloqueio, é música. A arte tem esse poder da diversidade e de contajgiar”, diz, aludindo às tradições da música pernambucana que Lia representa e aos elementos da negritude que ela própria, ainda nos anos 1990, vestiu de contemporaneidade.
Repertório
No que diz respeito às regravações, Daúde explica que foram escolhas que partiram das duas. “A interpretação é algo muito sagrado para mim, porque tem a ver com a emoção que sinto quando canto cada música. Pensei no que caberia bem dentro deste projeto. Já a Lia tem esse trânsito pelo universo dos cocos e das cirandas”, diz. A veterana artista pernambucana acrescenta que quis também registrar um lado menos conhecido de sua produção.
“Sou muito chorosa com bolero, que é uma coisa que canto há muito tempo, porque escutava no rádio e tinha vontade de gravar”, diz Lia. Daúde pontua que uma afinidade quase espiritual encurta a aparente distância de estilos que marcam o trabalho de cada uma. “Tem a questão da confiança e do respeito. Não existe competição. A Lia tem uma coisa de ancestralidade, e digo isso não porque seja uma palavra da moda, mas porque enxergo os meus nela”, ressalta.
Lia reforça esse laço de união. “O que mais me chama atenção no trabalho de Daúde é a matéria espiritual, o modo como ela canta e dança e o que isso me transmite, que é paz, amor e tranquilidade”, diz. A baiana diz que estar ao lado da parceira nesse projeto traz uma atmosfera de aconchego. “É um estar em casa. Tem a questão de sermos pretas, mas não é só isso. Lia precisa se sentir segura no território em que pisa, e nesse sentido ela é muito parecida comigo”, afirma. n
Shows na agenda
No mesmo dia em que “Pelos olhos do mar” chegou às plataformas, Daúde e Lia de Itamaracá deram a largada aos shows de lançamento. Elas já se apresentaram na sexta (28/11) e ontem (29/11) em São Paulo e, neste domingo (30/11), sobem ao palco do Sesc Taubaté também na capital paulista.
A banda que há muitos anos acompanha Lia, formada por Deco (trombone e vocal), Max (bateria), Lígia Fernandes (guitarra, vocal e direção musical), Erick Amorim (teclados, synth e vocal) e Tonyboy (percussão) dá o suporte para a turnê, que, depois deSão Paulo, tem uma primeira escala prevista para cidades nordestinas e deve engrenar no próximo ano.
“É um grande começo, porque o Nordeste é um grande celeiro musical e a gente sai da bolha, do eixo Rio-São Paulo. Estamos desenhando a circulação para o ano que vem, mas ainda sem datas definidas. Espero que possamos passar por Minas Gerais”, diz Daúde.