Se James Garfield e Charles Guiteau são duas figuras esquecidas da história norte-americana – e é assim que eles são apresentados ao espectador – o que dizer então do público brasileiro. É fascinante descobrir, quase um século e meio depois, a trajetória da dupla por meio da minissérie “Como um relâmpago”, da Netflix.
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O grande trunfo da produção é seu elenco. Michael Shannon e Matthew Macfadyen protagonizam a trama, que acompanha Garfield, o 20º presidente dos EUA, e Guiteau, seu assassino.
A equipe técnica também é de primeira: o criador é Mike Makowsky (do filme “Má educação”) e a dupla de “Game of thrones”, David Benioff e D.B. Weiss, assina a produção executiva. Matt Ross dirige os quatro episódios, que têm fotografia do paulistano Adriano Goldman.
A história é ambientada entre 1880 e 1881, mas a série tem um prelúdio em 1969. Ao som de “Everyday people” (pessoas comuns), de Sly and the Family Stone, assistimos a uma equipe do Museu do Departamento Médico do Exército organizando seu depósito. Em dado momento, uma caixa cai no chão, revelando um cérebro humano. “Quem diabos é Charles Guiteau?”, grita o funcionário, ao ver a etiqueta que acompanha o órgão.
A trama retrocede até o fim do século 19 justamente para responder a essa pergunta. Guiteau (Macfadyen) foi um homem delirante (coisa que nunca faltou na história americana) que atirou em Garfield (Shannon) em uma estação de trem de Washington, em 2 de julho de 1881. Detalhe: naquela altura, ele estava ocupando a Presidência dos EUA havia quatro meses. O político não morreu na hora: só sucumbiu 79 dias mais tarde.
A série começa com os dois personagens em lugares absolutamente opostos. Garfield é um homem de família, com uma mulher inteligente e participativa (papel de Betty Gilpin), meia dúzia de filhos, fazendeiro em Ohio, antigo general da União na Guerra de Secessão e congressista republicano.
Guiteau, por seu lado, aparece sujo num tribunal de Nova York, tentando fazer sua própria defesa de um caso menor. “Não somos uma nação construída inteiramente por malandros, imigrantes e livre-pensadores?”, questiona ele. A mulher da vida dele é a própria irmã, Franny (Paula Malcomson), a única que ainda acredita nas sandices do irmão. Logo ele se verá fora da casa dela, com o dinheiro roubado dos cofres da família.
O primeiro ponto alto da série acontece em Chicago, durante a Convenção Nacional Republicana. Era dado como certo que o presidente Ulysses Grant (Wayne Brett) saísse como o nome indicado para tentar um novo mandato. A longa sequência, muito bem filmada – e com lances bem engraçados – mostra como Garfield, após um discurso honesto e inteligente, saiu como o candidato republicano – após 36 votações, diga-se.
Guiteau, que não tinha interesse nenhum pela política, calhou de estar em Chicago no dia da tal convenção. Ao esbarrar em Garfield, fica obcecado por ele. A produção acompanha as tentativas, cada vez mais frustradas, desse misto de maluco e malandro entrar no “núcleo duro” do presidente.
Ainda que saibamos desde pronto como os dois personagens vão terminar, “Como um relâmpago” consegue, com grandes interpretações da dupla central, manter o interesse pela história até o fim.
“COMO UM RELÂMPAGO”
• A minissérie, em quatro episódios, está disponível na Netflix.
