Menina desaparece e seus colegas tentam bolar um plano infalível para encontrar a garota. Ao mesmo tempo, adultos quebram a cabeça para resolver o mistério. Essa é a premissa da última temporada de “Stranger things”, que chega nesta quarta-feira (26/11) à Netflix, mas serve também para a primeira, de 2016.
É curioso que a série, conhecida por reviver os anos 1980, termine agora buscando criar uma espécie de autorreferência nostálgica. Seus protagonistas, afinal, já são marmanjos.
Millie Bobby Brown tinha 12 anos quando fisgou o papel de Eleven. Hoje tem 21, casou e adotou uma criança. Noah Schnapp, o indefeso Will Byers, agora causa polêmica por defender Israel no conflito do Oriente Médio. Finn Wolfhard, que deu vida a Mike Wheeler aos 14, cresceu e dirigiu um filme.
Leia Mais
“Queríamos resgatar a sensação que as pessoas tiveram no começo. A única maneira de fazer isso era introduzir uma nova geração de crianças”, diz Matt Duffer, que escreveu a série com seu irmão, Ross Duffer.
Nos quatro episódios aos quais a imprensa teve acesso, Eleven, Will e sua trupe tentam descobrir onde está o monstruoso Vecna para matar o vilão e trancar os portais de onde escapam demônios. Mas atrasam a missão quando ele sequestra uma garotinha, repetindo o que fez lá atrás, na primeira temporada, com Will.
O ator Jake Connely, de 13 anos, é uma das novidades da última temporada de "Stranger things", interpretando o atrevido Derek
A trama, então, segue um caminho inesperado, tirando tempo de tela dos protagonistas ao se abrir a novos personagens, como o atrevido Derek Turnbow, papel do iniciante Jake Connelly.
A Netflix reforçou o desejo por autorreferência no evento que realizou domingo em São Paulo, ao fazer um desfile cheio de carros alegóricos temáticos. Na festança, que recebeu cerca de 12 mil pessoas, um dos veículos mostrava a escultura do monstro Demogorgon, o vilão da primeira temporada. Xuxa cantou parabéns para o ator Jamie Campbell Bower, o Vecna, que veio ao país bem no dia do seu aniversário.
Não significa, porém, que as figuras mais queridas da série foram engolidas por monstros ou pelo roteiro. Will agora é mais visto conforme entende sua homossexualidade, um tabu em 1987, quando se passa a história.
Gay e queer
Seu intérprete, Noah Schnapp, que também é gay, diz ter se apoiado no personagem para estudar a si próprio. “Há uma diferença entre falar sobre esse tipo de coisa nos anos 1980 e passar por isso agora, como foi comigo. Mas tentei incluir meus sentimentos na interpretação, para deixar o personagem mais autêntico.”
Figura crucial no arco de Will é Robin Buckley, a primeira personagem queer de importância na trama. Vivida por Maya Hawke, ela, que é lésbica, surgiu na terceira temporada da série, em 2019, quando obras para o público juvenil vinham sendo pressionadas pelo mercado para ter mais diversidade.
Millie Bobby Brown era adolescente quando despontou como Eleven, protagonista de 'Stranger things'. Hoje é estrela da Netflix
“Stranger things” sempre enfrentou bem a indústria. Lançada quando a plataforma tentava se firmar como criadora, não apenas agregadora de conteúdo, a série ajudou a consolidar a lógica de maratona, com episódios liberados de uma vez, provando que a Netflix poderia brigar com a televisão tradicional e com os estúdios de cinema.
Mas hoje fazer maratona não cabe mais na rotina de muita gente, e a plataforma prefere lançar a série em pedaços. É o caso dessa nova temporada, que vai ganhar mais três episódios no Natal e lançará seu último capítulo na véspera de ano-novo.
É reflexo de uma obra que se tornou muito ambiciosa. Se os capítulos raramente ultrapassavam 50 minutos, agora é difícil que tenham menos de uma hora. Na nova leva, um deles chega perto de uma hora e meia, tamanho de um filme.
Esta quinta temporada demorou três anos para ficar pronta. Quando a ambição era menor, entre o primeiro e o segundo ano da série, o público teve de esperar só um ano.
“Algumas razões (para a demora) estiveram além do nosso alcance, como a pandemia e a greve dos roteiristas”, diz Matt Duffer. Parte do público culpa a Netflix, dizendo que a plataforma errou em esticar a série só porque ela dá dinheiro.
Os irmãos Duffer, que não falam de orçamento ou lucros, defendem os chefes e dizem que tudo o que pediram foi permitido.
Peça em Londres e NY
“Stranger things” virou sucesso absoluto da Netflix. Embora não seja a série mais vista – a quarta temporada está atrás de “Wandinha”, da minissérie “Adolescência” e da sul-coreana “Round 6” –, é a franquia mais estabelecida da plataforma, com seriado de animação no gatilho e peça de teatro em cartaz na Broadway e em Londres.
A série também se tornou fenômeno de merchandising. A nova temporada já gerou waffle, pizza, maionese e até pipoca que deixa a boca gelada.
Por fim, a “Stranger things” rendeu ainda uma estrela para a Netflix chamar de sua. Millie Bobby Brown virou rosto da empresa.
“Eles investem na minha arte”, afirma a jovem atriz. (Davi Galantier Krasilchik e Guilherme Luis/ Folhapress)
“STRANGER THINGS”
Quinta e última temporada, na Netflix. Volume 1 (quatro episódios): nesta quarta-feira (26/11), às 22h. Volume 2 (três episódios): em 25 de dezembro, às 22h. Último episódio: 31 de dezembro, às 22h.
