ALERTA

Como ensinar jovens a identificar fake news e teorias da conspiração

Caso Brigitte Macron mostra urgência do tema; especialistas dão dicas práticas para pais e educadores formarem cidadãos mais críticos e conscientes

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A recente polêmica envolvendo a primeira-dama da França, Brigitte Macron, alvo de uma teoria da conspiração que alega que ela seria uma mulher transgênero, acendeu um alerta global. O caso, que resultou em um processo por difamação, ilustra a velocidade e o alcance que a desinformação pode atingir, saindo de fóruns obscuros da internet para o debate público em questão de dias. Este episódio não é isolado e expõe uma vulnerabilidade crescente, especialmente entre os mais jovens.

Para pais e educadores, a situação serve como um chamado urgente. Em um ambiente digital onde algoritmos favorecem o conteúdo chocante e as bolhas informacionais se fortalecem, formar cidadãos críticos tornou-se uma tarefa essencial. Ensinar crianças e adolescentes a navegar neste ecossistema complexo não é mais uma opção, mas uma necessidade para a saúde da democracia e o bem-estar individual.

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Por que os jovens são mais suscetíveis?

Adolescentes e jovens adultos estão em uma fase de construção de identidade e de questionamento do mundo. Essa curiosidade natural, combinada com uma imersão digital desde cedo, cria um cenário complexo. Eles consomem informações principalmente por meio de redes sociais, onde o conteúdo é apresentado de forma fragmentada e sem a hierarquia de credibilidade que existia na mídia tradicional.

Os algoritmos dessas plataformas são projetados para maximizar o engajamento, muitas vezes promovendo materiais que geram reações emocionais fortes, como raiva ou medo. Notícias falsas e teorias da conspiração se encaixam perfeitamente nesse modelo. Elas oferecem explicações simples para problemas complexos e criam um senso de pertencimento a um grupo que detém um "conhecimento secreto".

A falta de experiência de vida e um cérebro ainda em desenvolvimento, principalmente nas áreas ligadas ao controle de impulsos e ao pensamento crítico de longo prazo, também contribuem. Isso torna mais difícil para eles fazer uma pausa e avaliar a veracidade de uma informação antes de compartilhá-la, agindo muitas vezes por impulso.

O diálogo como ponto de partida

A abordagem mais eficaz para combater a desinformação começa em casa e na escola, com uma conversa aberta. Proibir o acesso ou simplesmente desacreditar o que os jovens consomem pode gerar o efeito contrário, aumentando o interesse pelo proibido e criando uma barreira na comunicação. O caminho é construir pontes, não muros.

Inicie o diálogo de forma genuína, sem tom de interrogatório. Use como gancho um meme, um vídeo viral ou uma notícia que esteja em alta. Pergunte a opinião deles: “O que você achou disso?”, “Parece real para você?”. Ouça com atenção e sem julgamentos. O objetivo inicial é entender como eles pensam e de onde vêm suas informações.

Esse espaço seguro permite que eles se sintam à vontade para compartilhar dúvidas e até mesmo crenças em informações falsas sem medo de serem ridicularizados. É a partir dessa confiança que se pode introduzir, aos poucos, o conceito de verificação e análise crítica, transformando a conversa em um exercício de aprendizado conjunto.

Ferramentas práticas para a verificação

Ensinar a "ler" a internet é como ensinar a atravessar a rua, é preciso olhar para os dois lados. O primeiro passo é sempre questionar a fonte. Quem publicou essa informação? É um portal de notícias conhecido? Um blog pessoal? Um perfil anônimo em uma rede social? Incentive a desconfiança saudável em relação a fontes desconhecidas.

Outra técnica fundamental é o cruzamento de informações. Uma notícia importante raramente será publicada por um único veículo. Se uma informação bombástica apareceu apenas em um site ou perfil, é um grande sinal de alerta. Crie o hábito de procurar a mesma notícia em pelo menos três fontes confiáveis e diferentes antes de aceitá-la como verdadeira.

Pequenos detalhes também entregam o conteúdo falso. Erros de português, títulos sensacionalistas escritos em letras maiúsculas, uso excessivo de pontos de exclamação e um design amador da página são indícios fortes de que algo está errado. Mostre exemplos concretos, comparando um site de notícias profissional com um portal de desinformação.

A manipulação não se restringe a textos. Fotos e vídeos são facilmente editados ou tirados de contexto. Apresente o conceito de busca reversa de imagens, que permite descobrir a origem de uma foto e verificar se ela está sendo usada para ilustrar um evento que não corresponde à realidade. Explique que vídeos também podem ser alterados, e que a tecnologia para isso está cada vez mais acessível.

pai e filho conversando
A abordagem mais eficaz para combater a desinformação começa em casa e na escola, com uma conversa abertaJackF de Getty Images

O fator emocional da desinformação

Grande parte do sucesso das fake news e teorias conspiratórias reside em sua capacidade de manipular emoções. Elas são desenhadas para provocar indignação, medo, raiva ou euforia. Esses sentimentos intensos sequestram nossa capacidade de raciocinar logicamente e nos impelem a compartilhar o conteúdo imediatamente, como forma de alerta ou validação social.

É crucial ensinar os jovens a reconhecer essa tática. Incentive-os a fazer uma pausa antes de compartilhar qualquer coisa que lhes cause uma forte reação emocional. Perguntas como “Por que estou sentindo isso?”, “Este post quer que eu sinta raiva de propósito?”, “Qual o objetivo de quem criou este conteúdo?” ajudam a criar uma distância crítica.

Essa autoconsciência é uma das ferramentas mais poderosas contra a manipulação. Ao entender que suas emoções podem ser um alvo, o jovem deixa de ser um receptor passivo de informações e se torna um observador ativo e crítico do ecossistema digital que o cerca.

Como iniciar uma conversa sobre fake news sem parecer um sermão?

A melhor abordagem é a curiosidade. Use um exemplo do universo dos jovens, como um vídeo viral no TikTok ou um post polêmico de um influenciador, e inicie a conversa de forma casual.

Pergunte o que eles acham do assunto, mostrando interesse genuíno pela opinião deles antes de apresentar a sua. O objetivo é criar um diálogo, não uma palestra sobre o que é certo ou errado.

Qual é o sinal mais claro de uma teoria da conspiração?

Um dos traços centrais é a alegação de que um pequeno grupo secreto e poderoso manipula os acontecimentos globais para benefício próprio. Essas narrativas costumam rejeitar qualquer evidência oficial.

Elas classificam informações contrárias como parte de um grande esquema de acobertamento e criam uma visão de mundo simplista, dividida entre "nós" (os que sabem a verdade) e "eles" (os conspiradores).

O que fazer se meu filho já acredita em uma notícia falsa?

Evite o confronto direto e não o chame de ingênuo ou tolo, pois isso pode fortalecer a crença dele como um mecanismo de defesa. O caminho é a paciência e o questionamento guiado.

Sugira uma investigação conjunta: “Interessante isso que você me mostrou. Vamos pesquisar juntos quem mais falou sobre o assunto?”. O objetivo é ensiná-lo a usar as ferramentas de verificação para que ele mesmo chegue à conclusão.

Bloquear sites e perfis de desinformação é uma solução eficaz?

O bloqueio pode funcionar como uma medida paliativa e de curto prazo, mas não resolve o problema central. A desinformação é como água, sempre encontra uma nova rachadura para vazar.

A solução mais duradoura e eficaz é investir na educação midiática. Construir o pensamento crítico é dar ao jovem um filtro interno que ele poderá usar em qualquer plataforma ou situação, hoje e no futuro.

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