RADIOGRAFIA DO CRIME

Sul de Minas tem índices mais baixos de crimes, mas não é ilha de paz

Mesmo tendo taxas de criminalidade menores no estado, região sofre com ações do novo cangaço e pressão de organização criminosa com origem em São Paulo

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Região com os melhores índices de segurança entre os maiores municípios de Minas Gerais, o Sul de Minas lida com uma criminalidade flutuante. Há uma grande integração dos criminosos com a maior facção criminosa paulista, muitos roubos mirando infraestruturas e transporte de valores, além do escoamento de bens por vias importantes como a BR-381 (Fernão Dias), também rotas do tráfico Norte-Sul. É o que mostra reportagem do Estado de Minas que, com o auxílio de especialistas, dados de ocorrências de 2024 e informações populacionais, traça um mapeamento da criminalidade nos maiores municípios mineiros.


No Sul de Minas, os crimes sexuais são mais representativos na criminalidade violenta dos municípios mais populosos do que se verificou proporcionalmente no conjunto dos 72 centros com mais de 50 mil habitantes de Minas Gerais. O estupro chega a compor 5,1% da criminalidade mais brutal, com picos em Varginha (9,6%) e Lavras (8,9%), contra 3,3% do índice geral das grandes cidades. O estupro de vulnerável atingiu um patamar de 14,2%, com picos em Guaxupé, onde o problema é maior (29,5%), e em São Sebastião do Paraíso (27%), contra 8,2% na mesma comparação estadual.


De forma geral, os 12 maiores municípios do Sul de Minas agregam os índices mais baixos de violência do estado, e por esse motivo ataques a caixas eletrônicos e bancos trazem tanto impacto para a rotina dos cidadãos. Entre essas cidades, o município de Três Corações (com 75.485 habitantes) se destaca negativamente, com taxa de 9,2 vítimas de homicídio por grupo de 100 mil pessoas, ocupando a 42ª pior posição estadual por esse critério. Alfenas, de 78.970 habitantes, com 179,8 crimes violentos por 100 mil, ocupa a 15ª posição em violência geral. As demais cidades da região avaliadas no ranking são Extrema, Guaxupé, Itajubá, Lavras, Passos, Poços de Caldas, Pouso Alegre, São Sebastião do Paraíso, Três Pontas e Varginha.


Violência com perfil variável

Especialista em inteligência de Estado e segurança pública, o coronel Carlos Júnior avalia que há algumas particularidades e não uma dinâmica homogênea na violência presente na região. “Por exemplo, em Alfenas os crimes contra o patrimônio se destacam devido ao tráfico de drogas que encontrou mercado na estrutura universitária local”, afirma. Outro componente que aflora em momentos específicos, avalia, é a influência de uma organização criminosa originária do Rio de Janeiro, uma vez que o Sul de Minas é, ao lado do Triângulo, a região com mais faccionados entre os internos do regime prisional.


“Vez ou outra há também alvos específicos de crimes como o novo cangaço. Foi o que ocorreu em abril de 2025, em Guaxupé, mirando justamente a riqueza das maiores cooperativas de café do mundo”, exemplifica o coronel Carlos Júnior. A proximidade com a divisa de São Paulo também estende os limites do tráfico de armas e drogas de facção criminosa originária do estado vizinho, levando mais recursos e poder para criminosos locais e por vezes iniciando conflitos por dominação e obediência em cidades como Varginha, Pouso Alegre e Poços de Caldas, acrescenta.


A composição da criminalidade

Os crimes violentos, conforme definição da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), abrangem extorsão mediante sequestro, e as modalidades tentada e consumada de estupro, estupro de vulnerável, extorsão, homicídio (considerando apenas as ocorrências e não o número de mortos), roubo, sequestro e cárcere privado. Dentro desse universo, os roubos representam 64,1% do total de crimes violentos nos 72 municípios mineiros com população superior a 50 mil habitantes, sendo a principal infração que pesa sobre o índice de violência.


Para o agregado dos 12 municípios da Região Sul, a taxa de incidência de crimes violentos é de 98,8 por 100 mil habitantes, enquanto a de vitimização por homicídio se estabelece em 4,8 por 100 mil habitantes. São as menores taxas das regiões de Minas Gerais, com índices também abaixo dos estaduais.


Os crimes violentos mais disseminados nos 12 maiores municípios do Sul mineiro são o roubo (53,5%), estupro de vulnerável (10,5%), tentativa de assassinato (8,1%), tentativa de roubo (5,4%) e estupro (5,1%). Para praticar esses delitos, os criminosos se valeram majoritariamente de armas de fogo (19,3%), armas brancas (13%), ameaças (8,5%) e agressão física sem armas (8,4%).


Os alvos foram vítimas principalmente nas vias de acesso público (41,6%), casas (28,6%) e postos de combustível (3,4%). Os bairros com mais crimes registrados foram o Centro de Pouso Alegre, com 4%, Centro de Poços de Caldas, com 2,1%, Centro de Alfenas, com 1,6%, São Geraldo (Pouso Alegre), com 2,3%, Jardim São Carlos (Alfenas) 0,9% e Vila Cruz (Poços de Caldas) 0,9%.

Criminalidade desproporcional

A Sejusp informou que, para municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, a sua análise de ocorrências é feita por números absolutos. Assim, no caso da Região Sul de Minas, essa metodologia abrange Alfenas (78 mil habitantes), Três Corações (75 mil), Extrema (53 mil), Guaxupé (50 mil), São Sebastião do Paraíso (71 mil), Três Pontas (55 mil) e Itajubá (93 mil).


Em termos de crimes violentos, por exemplo, Alfenas, com 142 registros em 2024, só perde para Pouso Alegre (197 ocorrências) e Poços de Caldas (151), cidades com 152 mil e 163 mil habitantes, respectivamente. Os sete homicídios de Três Corações colocam o município nivelado com a quantidade de vítimas de Varginha (136 mil habitantes) e à frente de Passos (111 mil) e Lavras (104 mil).


Onde mais se mata

Os bairros que concentraram mais vítimas de homicídios nos 12 municípios foram o São Geraldo (Pouso Alegre), com 18% das mortes, o Novo Horizonte (Itajubá), com 4%, o São Cristóvão (Pouso Alegre), com 4%, o Cidade Jardim (Pouso Alegre), com 4%, e Jardim Esperança (Poços de Caldas) com 4%. Os locais onde mais pessoas foram alvos dos assassinos foram as vias de acesso públicas (44,6%) e as casas (30,4%).

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As mortes ocorreram principalmente pelo uso de armas de fogo (48,2%) e armas brancas (44,6%). Os motivos conhecidos inicialmente foram brigas e atritos (23,3%), razões passionais (23,3%), envolvimento com drogas ou tráfico (16,3%), vingança (16,3%) e atrito familiar (14%). A maior parte das vítimas não tinha relacionamento com os assassinos (44,1%), ou eram cônjuges ou companheiros (17,6%), filhos ou enteados (8,8%), amigos ou conhecidos (8,8%), ex-cônjuges ou ex-companheiros (5,9%). 

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