BH: influencer acusado de injúria tem casa invadida; caso tem reviravolta
Funcionário no Ouro Minas mudou versão ao dizer que não houve crime racial. Influenciador deixou hotel ao ser acusado, alugou casa e foi vítima de assalto
compartilhe
Siga noO influenciador digital Igor Palácio, de 29 anos, natural de São Paulo, preso na manhã de sexta-feira (20/6) depois de ser acusado de injúria racial, é uma das vítimas que estavam em uma casa alugada e invadida por um grupo armado no Bairro Olhos D'água, na Região Oeste de Belo Horizonte, no fim da tarde deste sábado (21/6).
A informação foi confirmada ao Estado de Minas pelo advogado dele, Fabiano Lopes, que ainda rebateu a acusação de crime racial contra Igor, que teria sido cometido contra um funcionário terceirizado no Hotel Ouro Minas. Igor Palácio foi liberado após prestar depoimento e passar 14 horas na delegacia.
Ele estava hospedado no hotel após ir a um show intitulado Baile do Rei, no Mega Space, em Santa Luzia, na Região Metropolitana. A princípio, não há relação entre a invasão ao imóvel alugado por ele e um grupo de amigos e a acusação de injúria racial.
Leia Mais
A Polícia Civil disse não haver fundamentos que justificassem a ratificação da prisão em flagrante. Diferente da primeira versão, na qual afirmou à Polícia Militar ter sido chamado de “macaco”, entre outros xingamentos, o funcionário terceirizado do hotel disse em depoimento à Polícia Civil que não houve agressão de cunho racial.
Conforme o advogado, Igor e outros influenciadores paulistas que estavam no Hotel Ouro Minas deixaram o estabelecimento após seu cliente ser “acusado de um crime que não cometeu” e alugaram uma casa. “Entraram alguns homens de fuzil. Colocaram tudo no carro de uma das mulheres. Também foram levados um relógio Rolex e algumas correntes de ouro”, disse. Igor não teve nada roubado. O grupo na casa era formado por cerca de 10 pessoas, sendo algumas influenciadoras de SP.
Viaturas da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) e o helicóptero Pégasus foram empenhados para atender à ocorrência. A Polícia Militar informou que o proprietário do imóvel, localizado na Rua Nova Suíça, acionou a corporação às 17h51 via 190. O homem relatou ter flagrado uma movimentação do lado externo da casa por meio das imagens registradas por câmeras de segurança.
As armas usadas, a dinâmica do crime e o número de vítimas ainda não foram confirmados pela Polícia Militar. Até o fechamento desta edição, o registro policial não havia sido finalizado no sistema da polícia.
O que dizem a defesa e PM sobre o crime de injúria?
Segundo o advogado do influenciador, o funcionário teria feito uma falsa denúncia de injúria racial depois de ter um comportamento inadequado. “O Igor estava tendo uma relação sexual quando percebeu o funcionário olhando pela porta. Então, ele foi tirar satisfação. O funcionário deixou o quarto e o Igor foi atrás dele e deu um empurrão no rapaz. Depois, o Igor vai direto à recepção para reclamar do ocorrido”, contou Fabiano Lopes, acrescentando que não houve ofensa racial.
O funcionário terceirizado não foi localizado para comentar o caso. A reportagem também não conseguiu contato com a administração do Hotel Ouro Minas. O espaço segue aberto para manifestações.
Conforme registrado pela Polícia Militar no boletim de ocorrência, os funcionários do hotel pediram apoio a uma viatura, que fazia patrulhamento no Bairro Ipiranga, alegando que um hóspede tinha agredido física e verbalmente um trabalhador terceirizado, de 25 anos.
Aos militares, o funcionário disse que atuava como repositor de bebidas dos frigobares. Segundo contou, o protocolo de atendimento determina que se bata na porta no máximo três vezes. Não havendo resposta, a orientação é anunciar que está entrando. O repositor disse que o hóspede não respondeu e se irritou quando o viu entrando no quarto.
O jovem contou ainda que, entre outros xingamentos, foi chamado pelo influenciador de “preto fodido”, “macaco” e “desgraçado”. Ainda conforme o registro da ocorrência, o funcionário deixou o local pedindo desculpas, mas foi seguido pelo suposto agressor no corredor, momento no qual teria proferido mais ofensas e dado um soco em seu peito. “Vou encher de tiro a recepção”, disse ele, assim que chegou ao térreo, de acordo com a vítima.
Injúria racial ou racismo? Entenda a diferença
Injúria racial significa ofender alguém em decorrência de sua raça, cor, etnia, religião, origem e por ser pessoa idosa ou com deficiência (PcD). Já o racismo, previsto na Lei de Crimes Raciais 7.716 de 1989, implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo.
Desde janeiro de 2023, a injúria racial é equiparada ao crime de racismo. A alteração retirou a menção à raça e etnia de item específico do Código Penal (art. 140), que passa a se limitar a contextos de “religião, idade ou deficiência”.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Com isso, um novo artigo foi inserido na Lei de Crimes Raciais, citando “raça, cor ou procedência nacional” como modalidades do racismo e definindo pena de multa e prisão de dois a cinco anos. Na prática, por ser um crime enquadrado na Lei de Racismo, o autor será investigado. Não é mais necessário que a vítima decida se quer ou não prosseguir com a apuração.