Imagine-se nesta situação: você costuma usar sempre dois anéis no mesmo dedo. Anéis que nunca tira, por simbolizarem momentos importantes da sua vida. Até que, de repente, o dedo começa a inchar e a doer. Depois de várias tentativas, a única alternativa é correr para o hospital.

Foi o que aconteceu com Luísa Policarpo, de 23 anos, no início de fevereiro deste ano. Segundo o sargento Gobbi, do CBMMG, o sufoco vivido por Luísa não é incomum. Em 2024, quase mil pessoas foram socorridas após ficarem com anéis presos nos dedos em todo o estado de Minas Gerais.

“Eu tinha um anel, que eu ganhei de presente no meu aniversário de 15 anos e usava junto com outro, que até hoje está no meu dedo. Eu não os tirava para quase nada. Nesse dia, eu estava com o anel de 15 anos o dia inteiro, como de costume, devia ter colocado por volta de 11 da manhã. E, às uma da madrugada, quando eu fui dormir, ele não simplesmente não queria sair do dedo. Meu dedo foi inchando cada vez mais e o anel não rodava no dedo”, relata Luísa.

Registros do CBMMG mostram que casos como esse acontecem, em sua maioria, com o público feminino. Entre as orientações dos profissionais está a recomendação de evitar o uso de acessórios em dias muito quentes.

Como evitar

Luísa conta que na hora do susto, estava com a mãe em casa. As duas tentaram fazer de tudo: passaram óleo, margarina e azeite no dedo de Luísa. “Tentamos até a técnica da linha: passamos a linha embaixo do anel, e puxamos, só que estava piorando, fazendo o dedo crescer ainda mais. Foi inchando e o meu dedo doendo horrores. Parecia que ele ia cair. Chegou num ponto, que eu não senti mais o dedo, aí, a gente correu para o hospital”, relembra.


Para evitar passar pelo mesmo desespero que Luísa, o sargento deu dicas valiosas. A primeira delas é evitar usar anéis em dias muito quentes ou quando perceber que seus dedos estiverem mais inchados que o normal.


“Caso a vítima perceba que o anel ficou preso, inicialmente ela deve tentar movimentos circulares com a utilização de água e sabão ou detergente e caso não seja efetivo, é indicado que a vítima se desloque até um quartel do Corpo de Bombeiros para evitar algum tipo de inchaço ou até mesmo alguma lesão no local”, ensina Gobbi.


O sargento destaca que é sempre importante escolher o tamanho correto do anel e considerar possíveis inchaços no dedo. Além disso, ressalta que, dependendo da atividade — seja física ou profissional —, é recomendável retirar o anel ou a aliança como medida preventiva.

Muitos casos


Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2024, foram registrados 244 casos. Neste ano, já são 95, mas, em todo o estado, 370 pessoas passaram por esse sufoco.

Os bombeiros explicam que os objetos podem ser anéis decorativos, alianças e, em alguns casos, porcas e outros itens que, ao serem colocados na circunferência dos dedos, acabam ficando presos.


No dia 12 de junho deste ano, na Santa Casa de Misericórdia, em Carmo da Mata, Região Centro-Oeste de Minas Gerais, os bombeiros receberam uma solicitação da enfermaria para apoio na remoção segura de um anel preso no dedo anular da mão direita de uma jovem, também de 23 anos.


“Após várias tentativas de retirada sem êxito, a jovem acabou procurando ajuda. Os militares verificaram que o dedo afetado já se encontrava com bastante inchaço na articulação entre as falanges e a garota reclamava de dor intensa. A guarnição conseguiu cortar o anel de aço cirúrgico com o auxílio de uma micro retífica de precisão, sem causar lesões à paciente, que permaneceu aos cuidados da médica de plantão”, diz a nota do CBMMG.


Quais os riscos


Luísa conta que, chegando ao hospital, seu dedo já estava “gigante”. Numa consulta com o ortopedista, o profissional cortou o acessório com um alicate: “Ele teve que colocar uma tala embaixo porque eu não conseguia levantar o anel, por causa do inchaço. Senti muita dor”, relata.


Em relação ao tempo que é necessário para a retirada do anel, Gobbi diz que varia muito, de acordo com a gravidade da situação e a qualidade do material do adorno: “Alguns metais são mais resistentes ao corte, o que demanda uma atenção maior e consequentemente um tempo maior para a retirada. Em média, os anéis ou alianças são retirados entre dois a 10 minutos”, explica. 


O profissional relembra um fato curioso: “Em sua grande maioria, as pessoas procuram o CBMMG para a retirada de anéis, alianças. Mas já houve uma ocorrência em que a vítima colocou uma porca de grande espessura no dedo, o que demandou um tempo maior e maiores cuidados para a retirada”, relembra.


O sargento Gobbi alerta que as pessoas devem estar sempre atentas a possíveis inchaços na região, que podem dificultar a retirada do anel, interromper o fluxo sanguíneo, causar inchaço e, em casos extremos, levar à necrose. “Se a circulação for comprometida por muito tempo, pode haver danos permanentes nos tecidos do dedo e, em situações extremas, pode ser necessária até mesmo a amputação”, alerta. 

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