Um assassinato ocorrido em julho de 2021, em que um homem, Marcos Danilo dos Santos Rocha, de 25 anos, empreendedor digital, foi morto a tiros, na garagem de uma casa, em Contagem, foi finalmente esclarecido pela Polícia Civil, com a descoberta de uma verdadeira trama. A. H. M., de 42 anos, empresário da construção civil, em Lagoa Santa, é acusado de ser o mandante. O executor, um funcionário dele, seria um pedreiro. O mandante e o executor já foram identificados e estão presos.

Toda a trama foi desvendada pela Delegacia de Homicídios de Contagem, comandada pelo delegado Ítalo Fernandes. Segundo ele, crimes desse tipo, quando há um mandante, são sempre muito difíceis de esclarecer. “Somente o inquérito, onde está toda a investigação, tem 500 mil páginas”, revela o policial, que acredita que dentro de 15 dias enviará o processo para a Justiça.

Tudo começou, segundo o delegado, com a amizade entre a vítima e o mandante, que começou cerca de seis meses antes do crime. Os dois se conheceram num motoclube. A paixão pelas motocicletas acabou aproximando a dupla.

Os dois passaram a frequentar, segundo o delegado Ítalo, a casa um do outro. “As famílias se tornaram amigas, a ponto de os filhos também conviverem”, conta.

Tudo transcorria normalmente, até que o empresário pediu ao “amigo” R$ 100 mil emprestados e prometeu que pagaria tudo em, no máximo, 60 dias. A vítima não se preocupou, pois considerava o empresário um de seus melhores amigos.

“Só que o tempo passou e ao final dos 60 dias, o pagamento não aconteceu”, conta o delegado Ítalo. “O empresário pediu mais 30 dias para efetuar o pagamento, ou parte dele, com o que a vítima concordou."

Nesse tempo, a vítima passou a enfrentar problemas financeiros e pegou R$ 30 mil emprestados com o sogro. “O dinheiro que ele emprestou para o “amigo” seria utilizado para comprar os móveis da casa nova do empreendedor digital”, afirma o delegado.

Passaram-se os 30 dias e nada de o empresário pagar, nem mesmo parte do dinheiro, como havia prometido. Em dificuldades financeiras, a vítima decidiu vender sua motocicleta e pediu ajuda, por incrível que pareça, ao empresário, para realizar o negócio.

Emboscada

Foi quando, segundo o delegado, o empresário armou uma emboscada que culminaria com a morte do empreendedor digital.

“Ele chamou um funcionário de sua empresa, um pedreiro, para executar parte do plano, na verdade, para matar a vítima. Esse funcionário tinha ficha suja. Ele tinha cometido um crime, esteve preso, mas estava tentando regenerar-se. Foram-lhe oferecidos R$ 50 mil, ou seja, a metade do que o empresário devia ao empreendedor digital. O pedreiro aceitou”, conta o policial.

O empresário comprou um celular e passou a orientar o pedreiro nas negociações com a vítima. E armou um encontro entre eles, para fechar o negócio, ou seja, a compra da motocicleta. O valor acertado: R$ 34 mil. “Só que no primeiro encontro marcado, o suposto comprador se atrasou e a vítima foi embora”. Um novo encontro, para supostamente “concretizar” o negócio foi marcado para o dia seguinte”, conta Ítalo.

A casa do encontro fica no Bairro Tropical. A vítima foi até o local e entrou na garagem. Pouco depois foi surpreendido pelo pedreiro, que o matou a tiros e fugiu. O pedreiro usava uma motocicleta e uma arma que foram emprestadas pelo empresário. Logo depois do crime, ele se encontrou com o mandante, para devolver a motocicleta e o revólver.

O pedreiro, segundo o delegado Ítalo, esperava receber o dinheiro naquele momento, o que não aconteceu. O mandante acabou pedindo mais uma semana. Esse dinheiro nunca foi entregue ao executor.

O pedreiro seguiu trabalhando na empresa do mandante, mas nunca recebeu o dinheiro combinado pelo assassinato. “Ele ficou na firma até meados de 2023, quando o empresário acertou uma obra num condomínio, que exigiu a folha corrida dos trabalhadores que estariam na obra. O pedreiro tinha ficha suja, por isso saiu da empresa.

Investigações

Logo que o crime ocorreu, o delegado Ítalo Fernandes assumiu o caso e, desde então, fez um trabalho meticuloso para chegar aos matadores. Ele conta que, a princípio, não havia suspeita. “Nem mesmo de latrocínio." Segundo ele, o mandante continuou a frequentar a casa da vítima, como se fosse, realmente, amigo do morto.

Um total de 15 testemunhas foram ouvidas, até que o telefone do empreendedor digital despertou a atenção para um número registrado várias vezes, e relatava a negociação para a compra da motocicleta. E foi através dessas chamadas, que a polícia acabou chegando à história real do crime. “São páginas e mais paginas de conversas. Levantamos todos os números de telefone com quem Marcos Danilo tinha contato."

Chegaram ao pedreiro, que acabou confessando e disse o passo a passo do crime. E também que tinha cometido o crime por causa do dinheiro, que o seduziu. “Descobrimos, por exemplo, que o empreendedor tinha uma empresa em Portugal e que foi determinante para tomar a decisão de pedir a prisão preventiva dele”, diz Ítalo.

Ele continua. “Descobrimos, também, que o empresário e mandante tinha uma vida financeira desregrada. Eram muitas as viagens para o exterior e, provavelmente, foi esse o motivo de ele ter pedido o dinheiro emprestado."

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