Belo Horizonte está tingida de roxo - e agora começa a ganhar pinceladas de rosa. O cinza das construções e o céu limpo de inverno cedem espaço para a exuberância dos ipês, que explodem silenciosamente em cores e desenham tapetes no chão. Calçadas, praças e avenidas ganham tons vibrantes enquanto a cidade se veste de flor. E, de repente, a reação de quem passa é quase unânime: parar, olhar, fotografar e se encantar.
No centro da capital, o contraste é ainda mais poético. Um enorme ipê-rosa domina a paisagem da Praça da Estação. Suas flores delicadas se projetam contra o azul intenso do céu de julho e são realçadas pelo amarelo antigo do prédio do Museu de Artes e Ofícios. Nas redes sociais, fotos da árvore florida se multiplicam nos feeds, muitas com legendas apaixonadas, outras com simples emojis de coração e flores. E há quem faça questão de mapear a cidade em busca dos ipês, quase como uma caça ao tesouro.
“É fenomenal, uma coisa grandiosa. Não tem como não parar para olhar e tirar uma foto. Em São Paulo existem ipês, mas não como os daqui”, disse a professora Julia Spindel, de 36 anos, que está "turistando" na capital pela primeira vez. “Não sabia que era marca registrada de BH. É a primeira vez que venho aqui, não sabia o que me esperava. Estou encantada com a cidade, é muito arborizada. Estou acostumada com uma cidade grande visualmente poluída. Aqui é muito agradável de se estar”, relatou ao Estado de Minas.
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O encanto também domina José Luiz Carlos, de 80 anos. O mecânico e morador de BH sempre passa pela região, mas jura que nunca viu a árvore da praça tão bonita. “É maravilhoso. Passo aqui a vida inteira e nunca o vi dessa cor, desse jeito. A paisagem é maravilhosa, já andei por outros lugares e nunca vi igual. Faz parte do show da vida, pega a gente de surpresa”, elogiou.
A árvore da Praça Rui Barbosa, como é oficialmente registrada, que hoje atrai tantos olhares pela grandeza de sua copa, foi preservada durante as reformas do espaço público. O lugar ficou quase um ano fechado, cercado por tapumes, sem receber as pessoas - mas o ipê permaneceu ali, silencioso, atravessando o tempo e a poeira das obras.
Agora, após a reabertura, ele floresce como se celebrasse a nova fase da praça. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o ipê enfeita o local há cerca de 20 anos, e tem de 10 a 12 metros de altura. Em seus galhos mais altos, abriga também pequenas casas de João-de-barro - mais um sinal de que a praça voltou a ser morada.
Os ipês costumam florescer entre maio e outubro, dependendo da espécie e do clima. Em BH, é no auge da estação seca que eles mostram sua força, desafiando a aridez típica dos dias frios, como se soubessem exatamente quando a cidade precisa de um alento.
Segundo o entomologista Geraldo Wilson Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que existem cerca de 100 espécies de ipês reconhecidas, pertencentes, principalmente, ao gênero Tabebuia. Na capital mineira, há espécimes do rosa, tabaco, amarelo, roxo, branco, mirim, sete folhas, do cerrado e até verde, raro em ambientes urbanos.
De acordo com o inventário mais recente da prefeitura, publicado no portal PBH em junho de 2022, há quase 29 mil ipês na cidade, que florescem sucessivamente. O primeiro da fila é o roxo, seguido pelo rosa, que aparece a partir de julho. Os raros branco e verde vêm quase no fim da temporada, fechada pelo amarelo.
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“Eles florescem em épocas diferentes. Todos eles possuem uma vagem grande com muitas sementes que, depois do fruto seco, são dispersadas pelo vento. As flores podem durar cerca de duas semanas, ou mesmo dois dias, como é o caso dos ipês-brancos”, explica o biólogo.
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Geraldo ainda destaca que, além do espetáculo a céu aberto, as árvores desempenham papel importante para a manutenção dos polinizadores, como abelhas e beija-flores. “Além de serem bonitos, produzirem sombra e proteger o solo, mantêm os polinizadores que produzem nosso alimento”, conclui.
Ipê na Praça da Estação ao longo do dia
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice