O maior jequitibá-rosa (Cariniana legalis) já registrado e em pé no Brasil foi localizado na Reserva Biológica (Rebio) da Mata Escura, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A árvore está no município de Jequitinhonha, tem 65 metros de altura e 5,5 metros de circunferência à altura do peito (CAP), e foi descoberta pelo professor e pesquisador Fabiano Rodrigues de Melo, da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
O pesquisador afirma que, além de ser o maior exemplar da espécie jequitibá-rosa do país, o “gigante” do Vale do Jequitinhonha é também a árvore mais alta do território brasileiro fora da floresta Amazônica que se tem notícia, até então. "Ficamos espantados com o tamanho dele, pois se trata do mais alto jequitibá que conhecemos. Acredito que não exista nenhuma outra árvore desse porte na Mata Atlântica, pelos menos com registro conhecido de árvores vivas”, afirma Fabiano.
A descoberta ocorreu dentro de um programa de monitoramento da fauna e da flora, realizado por meio da parceria entre a Vale e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no âmbito de iniciativa da empresa denominada Meta Florestal.
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O professor Fabiano Rodrigues fez a descoberta em fevereiro deste ano, quando fazia uma expedição pela Reserva Biológica da Mata Escura, com o objetivo de localizar os primatas da espécie muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), um dos mais ameaçados do Brasil. Para otimizar as buscas, a equipe – composta também por monitores da reserva biológica e técnicos – usa drones equipados com câmeras térmicas.
Com a tecnologia, é possível detectar os animais na floresta e identificar os troncos das árvores “gigantes”, que retêm calor ao longo do dia. Assim, os pesquisadores localizaram o exemplar de jequitibá-rosa, em um vale da Mata Escura.
O professor Fabiano relata que começou a fazer estudos na reserva biológica do Vale do Jequitinhonha desde 2002, mas ficou 15 anos sem visitar a região, onde retornou em 2018. Em 2022, retomou o trabalho de pesquisa, fazendo o monitoramento da fauna com a tecnologia de drone que usa câmera térmica e sensor infravermelho, que detectam calor nos ambientes ocupados pelos macacos como a copa de uma árvore. E assim, foi feita a identificação do jequitibá-rosa de 65 metros de altura na reserva da Mata Escura.
O pesquisador da UFV conta que, como a região era de difícil acesso, após a descoberta da árvore gigante pela tecnologia avançada de câmeras de calor, com autorização da gerente da reserva da Mata Escura, Márcia Nogueira, vinculada ao ICIMBio, foi aberta uma picada na floresta, que permtiu a chegada até o local, por terra. “Fomos lá no pé da árvore e medimos a circunferência dela, que deu 5,5 metros, e a altura, 65 metros. Aí, claro, eu fui (pesquisei) na literatura e vi que era a árvore (da espécie jequitibá –rosa) mais alta mesmo”, detalha o pesquisador da UFV.
Importância da descoberta
Fabiano Melo chama atenção para a importância da descoberta da imensa árvore para o Vale do Jequitinhonha. “A importância da descoberta é que aquela região tem mata primária. Isso mostra muito bem como que era a Mata Atlântica original, o quanto ela era magnífica em termos de exemplares de árvores e, claro, de biodiversidade”, descreve o professor.
Para o especialista, a altura do jequitibá-rosa da Mata Escura, provavelmente, é decorrente do fato de estar em área de floresta primária, que durante séculos ficou preservada. O pesquisador reforça a importância do estudo da espécie, além da proteção de sementes.
“Essas árvores ficam num vale, em local de difícil acesso. Elas devem ter crescido muito por conta da ausência de luminosidade intensa, pois aquela é uma área de mata fechada, que fica sombreada do meio da tarde em diante”, avalia Melo. Segundo o pesquisador, é importante estudar a genética destas árvores, além de manter as sementes e proteger os exemplares. “Essas árvores têm uma estrutura genética única e estão numa condição específica, porque é muito difícil ter mata primária na Mata Atlântica. Trata-se de uma descoberta muito importante para esse bioma”, afirma.
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Para Márcia Nogueira, gerente da Reserva Biológica da Mata Escura, a descoberta do jequitibá-rosa é um prêmio ao compromisso com a preservação. "Os três anos de execução das ações da Meta Florestal, em parceria com a Vale, na Reserva Biológica da Mata Escura, têm proporcionado resultados significativos, como o monitoramento do muriqui-do-norte e levantamentos inéditos de fauna e flora, incluindo agora a confirmação do maior jequitibá-rosa do Brasil e o registro recente de uma nova espécie de opilião (aracnídeo), o Cajango ednardoi. Esses resultados evidenciam o elevado estado de conservação da biodiversidade da reserva", afirma.
Reserva tem 50 mil hectares
A Reserva Biológica da Mata Escura tem uma extensão geográfica de aproximadamente 50 mil hectares, localizada em uma área de transição entre o cerrado e a Mata Atlântica, no Vale do Jequitinhonha. A Unidade de Conservação tem cerca de mil espécies de fauna e flora já registradas.
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A reserva é uma das sete Unidades de Conservação (UCs) contempladas pelo acordo Meta Florestal Vale de Proteção, fazendo parte também do acordo de restauração inclusiva entre a Vale e o ICMBio, que tem o foco na estruturação de processos de restauração em larga escala, implementação de áreas demonstrativas e promoção de cadeias produtivas sustentáveis. Ambas as iniciativas têm vigência de cinco anos e visam fortalecer as ações de conservação e restauração ecossistêmica em unidades de conservação.