O nascimento dos gêmeos prematuros filhos da Miss Brasil 2019 Elís Miele e do pastor Flamarion Rolando, em Belo Horizonte, foi marcado por um reencontro emocionante. A médica responsável pelos cuidados dos bebês foi a mesma que cuidou do primeiro filho de Flamarion, que nasceu também prematuro, há 23 anos.

Miguel e Ester nasceram no dia 16 de julho no Neocenter Maternidade, na capital mineira, após uma transferência aérea de emergência em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. 

Segundo relatos do pai, no domingo (13/7) à noite, Elís teve alteração de pressão e sua obstetra orientou que ela fosse para o hospital. Chagando lá, ficou em observação, mas a pressão não estava baixando. Como o quadro dela não melhorava e havia o risco de os bebês nascerem prematuros, os médicos informaram que a gestante teria que ser transferida de avião para o Neocenter em BH. 

Na quarta-feira (16/7), eles chegaram à maternidade. Às 16h, Elís começou a ter um sangramento e foi solicitado um ultrassom. Durante o exame, a bolsa rompeu e os médicos marcaram uma cesariana para as 22h.

Com 35 semanas e 4 dias de gestação, os gêmeos chegaram ao mundo. Miguel nasceu com 2.600kg e apresentou icterícia, uma condição comum em recém-nascidos, caracterizada por pele e olhos amarelados devido ao acúmulo de bilirrubina. Ele precisou de tratamento fototerapia, conhecido também como "banho de luz". Já Ester, com 2.820 kg, teve dificuldades de respirar e precisou de cuidados na UTI Neonatal, mas respondeu bem ao tratamento.

Mesma pediatra

Durante a internação, ocorreu um reencontro emocionante após duas décadas. O que era apenas uma coincidência se transformou em um momento comovente para a família e a equipe médica. João Victor, de 23 anos, o filho mais velho de Flamarion, nasceu prematuro em Belo Horizonte, com apenas 900 gramas. Na época, ele foi cuidado pela pediatra Tilza Tavares. Agora, a mesma médica, hoje responsável técnica pelo Neocenter, acompanhou de perto os cuidados com Miguel e Ester. 

“Foi muito especial reencontrá-la. A pediatra Tilza, há 23 anos, cuidou do meu filho com carinho e sempre muito generosa. Vê-la depois de tempos e com o mesmo amor, carinho e dedicação é uma missão. Ela traz vida a muitos bebês”, relata o pastor.

A pediatra contou que reconheceu o pastor e ficou curiosa para saber como o João estava depois de 23 anos. “Reconheci o Flamarion no Neocenter e fiquei curiosa para saber como estava o filho mais velho dele, de quem cuidei há 23 anos. Ele tinha apenas 900 gramas e foi mais uma história que me marcou, diante de tantas que relato no meu livro: 'Pequenos Guerreiros: A Força de Vida do Bebê Prematuro'. Cuidei dele na UTI e saber que hoje ele já é pai e está saudável, é muito gratificante,” conta Tilza.

Segundo a maternidade, em celebração ao Agosto Dourado, mês de valorização e conscientização da amamentação, Elís foi orientada a fazer a extração de leite para os bebês durante a internação. O leite materno é considerado como ouro para a recuperação dos bebês prematuros. 

Os bebês tiveram alta na terça-feira (22/7). “Foi fantástico receber a alta. Ficamos sete dias na UTI, sendo bem tratados por toda a equipe. Agradeço a doutora Tilza pelo carinho e amor com a gente”, finaliza Flamarion. 

Prematuridade 

Bebês que nascem antes da 37ª semana são considerados prematuros. No Brasil, aproximadamente 340 mil bebês nascem prematuros por ano, segundo o Ministério da Saúde (MS).

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) existem diferentes graus de prematuridade, classificados de acordo com a idade gestacional no nascimento, sendo elas: entre a 34ª e 36ª semana e seis dias, o bebê é considerado prematuro tardio; de 32 a 33 semanas e seis dias, prematuro moderado; entre 28 e 31 semanas e seis dias, muito prematuros; e prematuros extremos são os nascidos antes de 28 semanas.

Quanto menor a idade gestacional, maiores são os riscos de não sobreviverem. 

Em todos os casos, a prematuridade requer cuidados especiais em unidades de terapia intensiva neonatal, com atenção para a temperatura corporal, alimentação e respiração. O acompanhamento médico e o suporte familiar são fundamentais para o desenvolvimento saudável do bebê prematuro.

A história dos bebês prematuros não termina na alta da UTI. Ela pode acompanhar para a vida toda. Além do desconforto respiratório, as sequelas mais comuns são retinopatia da prematuridade, que afeta a visão; paralisia cerebral, com comprometimento motor; hemorragia peri-intraventricular, com rompimento de vasos em algumas áreas de cérebro; deficiência auditiva; entre outras.

Apesar dos desafios, a medicina tem avançado no cuidado com prematuros e muitos se desenvolvem e crescem com saúde. “Mesmo com todas as dificuldades, inclusive as que podem vir no futuro, os bebês prematuros são pequenos guerreiros. Como uma pessoa tão frágil, tão indefesa pode ter uma força tão grande para viver? Um adulto não dá conta de passar pelo que o prematuro passa. E a gente vê ali, nos plantões, a força que esses bebês têm”, conta a pediatra. 

Para evitar nascimentos antes do tempo, a pediatra explica que o pré-natal bem acompanhado é fundamental.

O pré-natal é a principal forma de prevenir um parto prematuro. Nessas consultas, são pedidos exames, ultrassons, além de ser feita a medição do tamanho e peso. As informações são essenciais para avaliar as condições da mãe e do bebê, saber se a gravidez é de risco e determinar a necessidade de fazer exames mais específicos. O acompanhamento é fundamental para as condições de risco da gestação, mas também para o rastreio da prematuridade”, explica Tilza.

Pequenos Guerreiros 

Histórias inspiradoras, como a de Elís, Flamarion, Miguel e Ester, fazem parte do livro Pequenos Guerreiros – A força de vida do bebê prematuro, escrito pela pediatra Tilza Tavares em 2017. A obra narra casos reais de famílias que enfrentaram o nascimento prematuro com coragem, fé e esperança.

“O Neocenter foi a primeira UTI neonatal pura em Belo Horizonte. A ideia do livro foi, justamente, retratar o fruto do nosso trabalho, o nosso dia a dia com os prematuros e suas famílias.” 

João Victor, que teve sua história narrada no livro, agora vê seus irmãos repetirem o mesmo caminho de força e superação. Após a internação, Flamarion levou para Governador Valadares (MG) uma edição do livro com uma dedicatória especial. Segundo Tilza, “o livro também retrata a vida de João Victor e a caminhada de luta dos bebês prematuros, que demonstram uma bonita teimosia pela vida”.

Segundo a pediatra, a motivação por trás da obra foi lançar luz sobre uma realidade pouco visível e, ao mesmo tempo, oferecer conforto às mães e famílias que enfrentam esse momento que, muitas vezes, chega de maneira repentina e intensa.  

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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