Mudanças climáticas ampliam alerta de incêndios em Minas
Com queda nas ocorrências, mudanças climáticas devem atrasar o período crítico de queimadas em áreas verdes e números podem subir
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Siga noMinas Gerais enfrenta a estiagem, iniciada em abril, com um alerta diferente em 2025. Dados do Corpo de Bombeiros (CBMMG) mostram que o número de incêndios em vegetação registrados no estado no primeiro semestre reduziu 41,8% ante ao mesmo período de 2024: passando de 9.611 para 5.598. A queda, no entanto, pode estar relacionada com o deslocamento da época crítica que, normalmente, vai até outubro, mas pode chegar com atraso devido às mudanças climáticas.
O alerta cresce a partir de agora. Na noite de sábado, um incêndio de grandes proporções tomou conta do Parque da Serra do Rola-Moça, na região metropolitana. Até a tarde de ontem, ao menos 61 pessoas atuavam no combate às chamas, prejudicado pelo vento forte e a topografia acidentada.
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“O que caracteriza o período de estiagem preocupante é justamente as mudanças climáticas. Aumento na temperatura e na incidência dos ventos, diminuição da umidade relativa do ar e a falta de chuvas. Isso faz com que a vegetação se torne mais seca e mais propensa aos incêndios florestais, ou seja, havendo um início de foco, a tendência é que ele cresça, se alastre de forma mais violenta e rápida e se torne um grande incêndio florestal”, explica o capitão Warley de Paula, do CBMMG.
Na Grande BH, a redução também é notável: de 2.002 ocorrências no primeiro semestre de 2024 para 1.331 este ano. Na capital, a queda foi de 445 para 328. Apesar de 2024 ter sido um ano atípico, com alto número de incêndios, 2025 é o de menor incidência desde 2021, segundo balanço do Corpo de Bombeiros.
A queda, na avaliação do militar, pode ser resultado da variabilidade climática, já que 2025 tem sido atípico, com algumas chuvas no período seco, o que minimiza os danos na temporada de incêndios. “Essa semana já teve chuva, o que, provavelmente, tem feito com que os números tenham sido menores. Porém, pode ser que o período só esteja sendo deslocado. Ao invés da fase crítica entre junho e outubro, ela venha a se estender um pouco mais, entrando em novembro e dezembro, o que já aconteceu em outros anos”, disse Warley.
Conforme o bombeiro, incêndios florestais são causados por ação humana ou natural - mas essa última, frisa o capitão, apenas por queda de raios, e a própria chuva apaga o fogo nesse caso. Naturalmente, em períodos secos, já haveria incêndios, mas a ação humana aumenta significativamente as ocorrências.
Na prevenção e combate, os bombeiros envidam esforços em capacitação e investimentos em recursos tecnológicos para localizar focos de calor e mensurar áreas queimadas. A corporação também lança mão de preparação de brigadas florestais para atuação em conjunto, além de reforçar as equipes de campo com pessoal das áreas administrativas no período mais crítico. “A gente torce que os números continuem baixo, principalmente nas unidades de conservação, mas sempre nos preparamos para o pior”, enfatiza Warley de Paula.
Em casos de incêndios criminosos, que crescem principalmente entre o fim de agosto e início de outubro, o militar orienta a população a acionar rapidamente os bombeiros para que as chamas sejam logo apagadas. As pessoas também devem evitar comportamentos que propagam o fogo, como acender fogueiras em acampamentos e não apagá-las adequadamente. Lotes devem ser capinados ao invés de queimados.
Prevenção
Em áreas de vegetação, os bombeiros atuam com ações preventivas e mapeiam os locais com histórico de incêndios. O projeto “Alerta Verde”, por exemplo, busca fiscalizar e notificar proprietários dos terrenos para fazerem a manutenção adequadamente.
Para evitar tristes estatísticas como as de 2024, o Corpo de Bombeiros planeja intensificar ações já testadas e que deram bom resultado, como a implantação de bases operacionais avançadas em Unidades de Conservação (UCs) no período crítico. As cinco instaladas viabilizaram redução de cerca de 60% da área queimada em pelo menos seis áreas. O destaque ficou para a base na Área de Proteção Ambiental Estadual Cochá e Gibão, no Norte de Minas, recordista de incêndios nos últimos 11 anos. Em 2024, a queda foi de 83,5%.
Agora, uma base será criada na Floresta Estadual do Uaimii, em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, para atender a cidade histórica, além do Santuário do Caraça (Caeté), da Serra do Gandarela (Rio Acima), e da Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA Sul RMBH), cortada por mananciais de duas grandes bacias hidrográficas: os rios São Francisco e Doce. A área é responsável pelo abastecimento de aproximadamente 70% da população da capital e 50% dos moradores da Grande BH.
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Para aprimorar o combate à incêndios, a Sala de Coordenação Operacional do CBMMG, na Cidade Administrativa, terá novos recursos tecnológicos, como o serviço de internet via satélite. Outra inovação é a criação de um sistema de informações geográficas com um software de geoprocessamento que permite monitorar focos de calor e verificar os recursos mais próximos do local atingido e agilizar o combate.