Invisível: qual a constelação que não pode ser vista de BH
"Mesmo que seja só uma estrelinha, todas as outras aparecem em algum momento do ano. Mas a Ursa Menor, nenhuma chance", afirma o astrônomo Matheus Palhares
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Siga noEm meio às 88 constelações oficialmente reconhecidas pela União Astronômica Internacional, apenas uma delas permanece eternamente oculta aos céus de Belo Horizonte. A Ursa Menor, famosa por abrigar a Estrela Polar - referência do Hemisfério Norte - é a única que, em nenhuma época do ano, pode ser vista da capital mineira. E o motivo é um só: a própria Terra está no caminho.
A explicação é simples, mas fascinante. Quem esclarece o mistério é o astrônomo Matheus Palhares, coordenador do Núcleo de Astronomia do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. "A Ursa Menor não aparece aqui porque estamos no Hemisfério Sul. O formato esférico da Terra impede que vejamos qualquer parte dela. Assim como os americanos, por exemplo, não conseguem ver o Cruzeiro do Sul", explica.
A posição geográfica de BH determina não apenas essa ausência, mas também o que é possível observar no céu ao longo do ano. Das outras 87 constelações reconhecidas, ao menos um fragmento é visível da capital mineira. "Mesmo que seja só uma estrelinha, todas as outras aparecem em algum momento do ano. Mas a Ursa Menor, nenhuma chance", afirma Matheus.
Poluição luminosa: o vilão das estrelas
Ainda que o céu de Belo Horizonte ofereça um cardápio generoso de constelações, há um inimigo persistente dificultando essa contemplação: a poluição luminosa. "A iluminação urbana é o principal fator que atrapalha a observação das estrelas. As luzes da cidade acabam ofuscando o brilho mais tênue dos astros", explica o astrônomo.
Outros fatores, como a poluição atmosférica e a umidade, também influenciam, mas são as luzes artificiais - postes, prédios, carros - que mais interferem no espetáculo celeste. "Por isso, em lugares mais afastados e escuros, como em áreas rurais ou no alto de montanhas, é possível observar muito mais estrelas a olho nu".
O céu de BH: o que podemos ver
Embora a Ursa Menor não apareça por aqui, há muitas outras constelações marcantes visíveis nos céus de Minas. "O Cruzeiro do Sul é emblemático para nós, pois é uma constelação polar do Hemisfério Sul", destaca Palhares. Outras visíveis incluem Escorpião - que domina o céu de inverno -, Centauro, Órion (com as famosas Três Marias), e todas as constelações zodiacais. "As constelações do zodíaco passam praticamente todas pelo céu de BH ao longo do ano", completa.
A visibilidade de cada constelação depende da estação. Durante o inverno, por exemplo, Escorpião e Centauro são mais visíveis. No verão, constelações como Órion e Touro se destacam. Já nas madrugadas mais limpas do outono e da primavera, é possível encontrar constelações mais discretas, com ajuda de aplicativos ou telescópios.
A invisibilidade da Ursa Menor em BH é um exemplo fascinante de como a posição geográfica molda nossa visão do cosmos. "Na Bahia, por exemplo, já conseguimos ver parte da Ursa Menor. Quanto mais ao norte, mais visível ela se torna. Já no Sul do Brasil, como em Porto Alegre, outras constelações do Norte, como Girafa e Cefeu, desaparecem completamente", explica.
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Planetário PUC Minas: onde o céu cabe na sala
Para quem quer ver o céu de Belo Horizonte, ou mesmo o de Nova York, o Planetário da PUC Minas é uma das melhores portas de entrada para a astronomia. Ali, é possível fazer uma "viagem" pelas estrelas sem sair da cidade. "Simulamos o céu de qualquer lugar do mundo, em qualquer época do ano. Se alguém quiser ver a Ursa Menor, por exemplo, a gente mostra como ela aparece no Hemisfério Norte", conta Matheus.
Anexo ao Museu de Ciências Naturais, o Planetário oferece sessões comentadas, vídeos temáticos e experiências imersivas que conectam ciência, cultura e história. "Temos sessões sobre astronomia indígena, as constelações vistas pelos Tupi-Guarani, e até sobre como as estrelas foram usadas na navegação pelos oceanos", destaca.
O ingresso para visitar o Museu e o Planetário custa R$ 32, com meia-entrada válida. Quem quiser visitar apenas um dos dois espaços paga R$ 20. O funcionamento é de terça-feira a sábado, das 9h às 17h.
Um museu de ciência viva
O Museu de Ciências Naturais da PUC Minas é uma atração por si só. Com o maior acervo de fósseis da América do Sul, abriga réplicas de dinossauros, minerais, esqueletos e exposições interativas. E vem novidade por aí: "Estamos montando uma nova coleção chamada Fenômeno Humano, que vai contar a história da evolução do homem na Terra. A ideia é mostrar como o ser humano também evoluiu na forma de olhar para o céu", antecipa o astrônomo.
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Além das visitas, o Núcleo de Astronomia promove eventos, observações noturnas com telescópios e palestras abertas ao público, em parceria com os grupos Gaia e Grupo de Astronomia e Astrofísica da PUC
Museu de Ciências Naturais da PUC Minas e Planetário
- Av. Dom José Gaspar, 290 - Coração Eucarístico, Belo Horizonte
- De terça-feira a sábado, das 9h às 17h
- Ingressos: R$ 32 (museu + planetário) ou R$ 20 (individual)
- Mais informações: https://museu.pucminas.br/planetario/
Observações no Espaço do Conhecimento UFMG
O Espaço do Conhecimento UFMG, localizado na Praça da Liberdade, também oferece, este mês, observações noturnas e solares para todos os públicos a partir de 6 anos.
Nos sábados 23/8 e 30/8, das 19h às 20h45, ocorre a observação noturna dos astros, com retirada on-line de 105 senhas a partir das 17h30. Já nos domingos, 24/8 e 31/8, das 11h às 12h30, acontecem as observações solares. A retirada de 90 senhas, também on-line, pode ser feita a partir das 10h.
A cada 15 minutos, um grupo de 15 pessoas tem acesso ao terraço para observar nos telescópios e tirar suas dúvidas com os mediadores que acompanham a atividade.
Os ingressos custam R$ 14 e R$ 7 (meia) e podem ser comprados pelo link: www.ufmg.br/espacodoconhecimento/descubra/terraco-astronomico/.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Juliana Lima