INVESTIGAÇÕES

Morte de gari: mesmo com histórico, assassino confesso segue réu primário

De acordo com o MP, Renê da Silva tem registros em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ele, porém, não foi condenado

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Mesmo com registros policiais por violência doméstica no estado de São Paulo e envolvimento com crimes de homicídio culposo e lesão corporal no Rio de Janeiro, Renê da Silva Nogueira Junior, assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes, segue como réu primário.

As implicações da vida pretérita foram informadas pelo Ministério Público na Central de Audiência de Custódia, durante sessão que converteu a prisão em flagrante em preventiva. Questionado sobre o histórico, o advogado de defesa Dracon Luiz Cavalcante Lima afirmou que, mesmo com as afirmações, é necessário esperar. “Já pedi a certidão do processo para ver em qual pé está. Mas o Renê nunca foi condenado por nada, é réu primário”, afirmou o delegado.

Renê admitiu o crime em depoimento à Polícia Civil. Com a confissão, o suspeito terá a pena reduzida caso seja condenado pela Justiça. Conforme relatório acessado pela reportagem, ele afirmou que não havia tomado remédios de bipolaridade, andava armado por ter medo do caminho e não prestou socorro porque não imaginou ter acertado alguém com o tiro.

Dracon foi nomeado após a antiga defesa de Renê abandonar o caso por “foro íntimo”, conforme divulgado na segunda-feira (18). A decisão veio após a divulgação de imagens de câmeras de segurança, que flagraram Renê guardando a arma usada no crime, após negativas do suspeito de ter cometido o crime.

Histórico de Renê

Durante a audiência de custódia, o MPMG informou que, apesar de não haver antecedentes criminais em Minas Gerais, Renê possui registros em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com a ata da audiência, a que o EM teve acesso, o primeiro caso se trata de uma ação penal pela prática de crime de lesão corporal grave contra uma mulher.

Já no estado fluminense, o empresário responderia por lesão corporal contra uma ex-companheira, além de ameaça contra a ex-sogra. A informação foi confirmada à reportagem pelo chefe da divisão de homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PCMG, Álvaro Huertas. Além disso, o registro de antecedentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro, aponta que o homem também teria envolvimento em uma ocorrência de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, envolvendo um atropelamento.

Ao Estado de Minas, o advogado relatou que fez a solicitação de certidões de nada consta e aguarda os resultados. Porém, em conversa com o investigado, Renê teria afirmado que as acusações de violência doméstica contra ex-companheira em São Paulo não são verdade, mas admitiu a ocorrência do atropelamento.

Renê "crucificado"

Para o advogado de defesa, a opinião pública atrapalha o caso. “[Renê] foi acusado de muita coisa, mas crucificaram muito ele. Bateram muito nele, mas será que ele nunca fez nada de bom? Será que não tinha nada de bom a oferecer quando foi contratado aqui em Belo Horizonte?”, questionou. 

O suspeito trabalhava há uma semana em uma empresa de Betim, na Grande BH, quando cometeu o crime. Em depoimento à Polícia Civil, disse que portava arma no trajeto por não conhecer a rota e considerar perigoso o caminho.

Em relação aos próximos passos da defesa, o advogado se limitou a dizer que não vai procurar inocentar seu cliente, mas sim conseguir uma pena justa para o que teria sido cometido por ele. "Achei importante mostrar quem ele realmente é. Além disso, Renê reconheceu o erro e assumiu sua responsabilidade", disse o advogado.

“A família do gari e o Ministério Público querem a condenação dele. Eu também quero, porque ele tem que pagar pelo erro dele. Agora, não adianta o MP pedir 30, 40, 50 anos para uma pessoa que poderia não ter feito se a outra tivesse cumprido a parte dela. Por que a moça não deixou ele passar? Temos que ver o motivo que o levou a atirar, se foi só aquilo. Ninguém tira a arma para ninguém se não foi agredida verbalmente”, argumentou Dracon.

O Ministério Público fixou que o inquérito sobre as investigações do assassinato de Laudemir seja concluído até 31 de agosto. Atualmente, o inquérito está com "tramitação direta" entre a delegacia e o MPMG. Sendo assim, não há necessidade de deferimento do pedido por uma juíza: o próprio parecer já fixa o prazo para a conclusão do inquérito.

Como foi o crime?

  • Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
  • Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
  • Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
  • Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
  • O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
  • No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
  • Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais.
  • Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH

Quem é o suspeito?

  • Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.
  • Colaborador em empresa de alimentos; desligado após repercussão.

  • Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).

  • Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.

  • Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)

  • Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.

O que dizem as investigações até o momento?

A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados na sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas no assassinato de Laudemir.

Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.

Apesar do procedimento interno, o delegado Saulo Castro afirmou, em coletiva de imprensa, disse que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular. "Estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional", disse.

Na ocasião, a corporação acrescentou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais "não necessariamente" a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido.

Um dos pontos centrais da investigação é o horário de chegada de Renê à empresa onde trabalhava em Betim, na Grande BH. Câmeras de segurança da empresa inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a perícia da Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após um circuito de segurança na rua capturar o momento em que o gari foi baleado no Bairro Vista Alegre, às 9h07. 

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Na quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio.

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