Em uma jornada de dois dias, desafiamos os limites da Serra do Cipó (dia 1)
Equipe do EM revela paisagens únicas, riscos e cuidados em viagem pelo Parque Nacional da Serra do Cipó, acampando em um dos destinos mais procurados de Minas
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Siga noJaboticatubas e Santana do Riacho – A água que brota nos montes da Serra do Cipó corre tão límpida que expõe cardumes cruzando o fundo pedregoso da Cachoeira do Capão dos Palmitos. De longe, forma um espelho que reflete a grandiosa cadeia de serras rochosas na Lagoa Dourada, onde corre mansa, abrindo-se em lagos cercados pela vegetação baixa de campos rupestres. Mas, pelo caminho, também despenca veloz de precipícios rochosos e cânions atingidos apenas com habilidade e escaladas. Aventuras e contemplação que terminam quando a água chega até as vilas rurais encravadas nas montanhas mineiras, onde um prato de frango caipira e suco de frutas refrescante aguardam os visitantes de um dos atrativos mais tradicionais do estado, na Região Central de Minas.
Seguindo caminhos das águas como este, sete pontos de acesso que cercam o Parque Nacional da Serra do Cipó se consolidaram como bases para roteiros de travessias, com novos desafios e perspectivas da unidade de conservação. A reportagem do Estado de Minas cruzou um desses roteiros, guiada pela empresa de educação e meio ambiente Eco Vivência, e mostra, em duas reportagens a partir de hoje, a beleza selvagem por 25 quilômetros da travessia da Portaria Areias até São José da Serra. No primeiro dia de jornada, seguiremos até o acampamento para pernoite na área da Lagoa Dourada. Na próxima edição, sempre acompanhados de guia, completaremos o roteiro até o destino.
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Atrações e surpresas em todos os sentidos
Dos sete pontos de referência para as travessias, três são nos acessos ao Parque Nacional da Serra do Cipó: Portarias Areias (Jaboticatubas), Retiro e Alto Palácio (Santana do Riacho). Os demais ficam em pequenos povoados com gastronomia típica, hospedagem e outras atrações: Cabeça de Boi (Itambé do Mato Dentro), Serra dos Alves (Itabira), Altamira (Nova União) e São José da Serra (Jaboticatubas).
“Em todos os roteiros, há as grandes atrações e os atrativos do caminho, geralmente cachoeiras. Cada travessia é um momento de superação, e de contemplação também. As pessoas que conhecem melhor o parque, depois o defendem, além de levar lições importantes da vivência em um acampamento, produzindo a própria comida, levando equipamentos. Tudo isso é muito edificante e recompensador”, avalia o educador e ambientalista Marcelo Rocha, da Eco Vivência, que será nosso guia nos dois dias dessa jornada.
Para as travessias, o mais importante, de acordo com a gestão do parque, é entrar em contato para solicitar autorização, ocasião em que o visitante terá acesso a informações e alertas sobre o trajeto. O limite é imposto de acordo com a capacidade máxima da área de camping dos abrigos, de 30 visitantes por pernoite. A indicação é sempre começar a trilha pela manhã. “Todos os roteiros percorridos no parque são feitos por meio do Projeto Travessias, de monitoramento e manutenção, em sintonia entre o parque e os caminhantes. Outros trajetos estão sendo implementados”, anuncia o chefe da unidade de conservação, Renato Diniz Dumont.
Muitas das trilhas se iniciam ou passam por áreas além dos limites da unidade, mas sempre que os visitantes cruzam a reserva é preciso ter autorização, salienta o chefe do Parque Nacional. “Não temos gestão total das travessias, por se tratarem de caminhos que vão além dos limites da unidade e ainda em implementação. Mas emitimos autorização (dentro do parque) por meio do e-mail da administração, lembrando que travessias são em geral caminhos antigos e rotas já abertas, e muitas das vezes já usados por moradores locais e caminhantes”, destaca Dumont. De maio a julho é quando o parque recebe mais visitantes, cerca de 5 mil pessoas mensalmente.
Algumas travessias estiveram fechadas no início do mês de julho, mas os acessos foram restabelecidosno início da segunda quinzena.
Equipando-se para dormir ao ar livre
Como a travessia prevê pernoite em acampamento selvagem, a mochila cargueira precisa ser preparada com barraca, saco de dormir, isolante térmico, agasalhos, alimentação suficiente, água e sistemas de purificação – muitos bebem de fontes da serra, sem filtragem ou adição de purificantes, mas há riscos. Com isso, o peso sobre as costas facilmente ultrapassa os 25 quilos, exigindo um bom condicionamento físico ou serviços de carregadores. O posicionamento da carga na mochila é fundamental para não sobrecarregar as costas e a coluna.
Antes de sair, o ambientalista Marcelo ajuda nessa distribuição. Botas resistentes são importantes, mas nem mesmo isso é garantia. Uma das botas usadas na travessia perdeu a sola no caminho pedregoso e teve de ser substituída por um tênis comprado na Serra do Cipó. Por ser inadequado para a missão, o uso do calçado resultou em ferimentos nos pés, escorregões, deslizes nas pedras e terminou com a destruição do par.
Caminhos reabertos
Após um período de suspensão temporária, entre os dias 8 e 16 de julho, a administração do Parque Nacional da Serra do Cipó reabriu os principais atrativos acessados pela Portaria Alto Palácio. O fechamento preventivo teve como objetivo garantir a segurança dos visitantes durante a realização de ações técnicas de manutenção e prevenção em áreas de grande circulação, além de manejo de um animal silvestre reintroduzido no ambiente, que vinha se aproximando de uma das trilhas.
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