Entre cachoeiras e montanhas: rumo o cânion do Rio Jaboticatubas (dia 1/2)
Atrações e desafios no 1º dia cruzando a Serra do Cipó: paisagens deslumbrantes, banhos de cachoeira, nascentes e uma surpresa natural a cada etapa vencida
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Siga noJaboticatubas e Santana do Riacho – Aventurar-se pelas travessias que cortam áreas do Parque Nacional Serra do Cipó é percorrer um caminho de paisagens deslumbrantes e surpreendentes, em uma viagem também de desafios e autoconhecimento. O roteiro percorrido pela reportagem do Estado de Minas, que neste primeiro dia segue até a área da Lagoa Dourada, antes do destino final em São José da Serra, começa na portaria Areias da unidade. Lá, agentes da reserva verificam as autorizações da equipe.
É hora de o nosso guia nessa jornada, o ambientalista Marcelo Rocha, da Eco Vivência, tomar a frente. Os primeiros passos são no plano, por um trecho de cerrado, mas em breve a trilha já começa a ganhar altitude. Com a elevação, o solo muda e passa a ser coberto por pedras soltas e blocos de rochas em meio aos quais os campos rupestres e sua baixa vegetação passam a predominar, adaptados a essa difícil condição.
A formação vegetal domina 84% do parque e, por não ter árvores muito frondosas, torna a exposição ao Sol um desafio preocupante. Há risco de profundo desgaste e até insolação, por isso é recomendável usar chapéu ou boné, filtro solar, roupas leves e protegidas.
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Percorreremos três quilômetros até dois caminhos que se abrem contornando mata densa que abriga nascentes do Ribeirão Areias. Uma placa indica a Cachoeira Capão dos Palmitos, à esquerda; outra, a Lagoa Dourada, à direita. Não dá para perder a oportunidade de conhecer a queda d'água.
O caminho até a parte mais alta da cachoeira tem cerca de 1,5 quilômetro – e é o mesmo trajeto do retorno à trilha principal. Na área, o ribeirão forma poços largos onde muitos aproveitam para se banhar e a mata mais fechada ajuda a proteger do Sol. A água desce por uma cachoeira de cerca de 20 metros até um poço maior, onde o nível fica na cintura dos banhistas, em mergulhos acompanhados por pequenos lambaris em cardumes.
A descida da água rente à pedra cria uma ducha onde os visitantes podem ficar de pé, com as costas apoiadas. Um local cercado de árvores que fornecem sombra e galhos para pendurar mochilas. A água fria revigora os ânimos. Importante para a subida de volta até o caminho para a Lagoa Dourada.
“O caminho é quase todo pelo Ribeirão Areias, que tem muitos poços e quedas menores, onde se pode nadar ou se banhar. É um manancial muito importante para o parque, porque ele se junta depois da Cachoeira do Capão com o Rio Mascate, e vai formar o Rio Cipó quando encontrar o Rio Bocaina, dentro da unidade”, conta o ambientalista Marcelo Rocha, que conduz a travessia.
Naquelas margens, foi documentada em 1998 a existência da Lychnophora rupestris, um arbusto de folhas pequenas que contornam seus ramos. Pode chegar a até 3 metros de altura e desabrochar pequenas flores de tom lilás. É endêmica da região, segundo o Instituto Estadual de Florestas, e está ameaçada, sobretudo pela fragmentação do seu hábitat.
Imagens para ficar na memória
Tão únicas quando essa espécie da flora são as formações no caminho adiante. Com o Ribeirão das Areias correndo pelo vale, suas águas ficam escondidas pela mata ciliar. Mas, em pequenos pontos, o reflexo do Sol brilha nas poças e no curso, atraindo o olhar para a mata que protege o manancial.
Mais à frente, três quilômetros depois da placa, pequenas árvores ilhadas em uma grande mancha de areia formam um paisagismo curioso e atraente. Adiante, aparecem outras, cercadas por extensões bem delimitadas de pedras de quartzo. Também parecem obra de um paisagista excêntrico.
Ao chegar mais perto, o som contínuo do ribeirão lembra da sua passagem e brechas na mata já permitem vê-lo. Com a proximidade, as promessas do guia Marcelo sobre as atrações pelo caminho se tornam realidade e se abrem longas sequências de cascatas, pequenas quedas, duchas e poços suficientes para mergulho e até nado.
Histórias para vencer a subida
Seguindo em frente, são mais seis quilômetros em terreno exposto. O Sol aquece a mochila e em pouco tempo o suor percorre praticamente todo o corpo. Mas, nos planos de Marcelo, a passagem pelo Vale do Ribeirão das Areias guarda um local estratégico para descanso, no interior úmido e ameno de uma encosta de mata de galeria. Vários pequenos filetes de água e córregos translúcidos passam por esse capão. Água importante para refrescar e recuperar as energias.
“Há uma pequena gruta perto da água das nascentes. Mas, depois da subida, a gente não segue mais o Ribeirão das Areias. O nosso objetivo passa a ser nos aproximar da Lagoa Dourada, que é no Rio Jaboticatubas. Antigamente, os campos desse planalto tinham muito capim dourado, mas quase tudo foi colhido para fazer artesanato. Quando o vento batia, o movimento do capim parecia um lago dourado”, conta Marcelo, ajudando a equipe a se distrair um pouco do esforço contínuo exigido pela subida forte para vencer 200 metros de desnível em três quilômetros.
Além dos limites do Parque Nacional
Vencer o planalto é exaustivo, mas revela uma grande recompensa. A essa altura, já estamos fora dos limites do Parque Nacional Serra do Cipó. No alto, ainda se caminha em linha reta por um quilômetro até começar a descida. São mais 1.700 metros até finalmente chegar à área de acampamento, muito plana, com capim rente e muitas árvores para fornecer sombra e abrigo.
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Por toda essa área aberta se encontram sinais de fogueiras demarcadas por pedras, o que mostra ser aquele um local muito procurado em determinadas épocas do ano. Hora de montar acampamento e descansar, sob o espetáculo inigualável do céu estrelado, para o segundo e último dia de jornada, que reserva paisagens deslumbrantes e desafios por entre paredões rochosos à beira de quedas d'água antes do merecido descanso, comida mineira para recompor as forças e várias atrações locais. Mas isso é assunto para a próxima edição. Agora, barraca preparada, é hora de dormir.
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