Presidente da Funed explica recuo na produção de vacinas contra meningite
Ministério da Saúde afirma que os estoques estão garantidos para atender à demanda nacional
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Siga noLaura Scardua e Alexandre Carneiro
A Fundação Ezequiel Dias (Funed) informou a intenção de descontinuar a transferência de tecnologia para produção das vacinas contra a meningite C, prevista em aliança estratégica com a multinacional biofarmacêutica GlaxoSmithKline Biologicals S.A. (GSK), em vigor desde 2009. Por meio do mesmo comunicado, publicado na quinta-feira (21/8), a entidade também notificou a desistência na produção da vacina meningocócica ACWY, acordada em 2022 com a mesma empresa e com a Fundação Oswaldo Cruz. As vacinas seriam fornecidas ao Ministério da Saúde para uso no Sistema Único de Saúde.
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De acordo com comunicado enviado pela Funed ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em 22 de julho deste ano, diversos fatores motivaram a interrupção na transferência de tecnologia para a produção da vacina contra a meningite C e o recuo na produção da meningite ACWY. Entre eles, segundo a fundação, estão a necessidade da construção de uma nova fábrica para produção da proteína CRM197 — conjugada nas vacinas —, assim como da infraestrutura necessária para extração dos polissacarídeos, formulação, envase, embalagem e controle e garantia da qualidade. Além disso, a contratação de mão de obra de “altíssima qualidade”.
“A Funed está há 17 anos [em transferência] e não produz meningite C, sempre comprou a vacina da GSK e o máximo que fez foi embalar”, apontou o presidente da Funed, Felipe Attiê, ao Estado de Minas. Ele explicou que não havia — e ainda não há — estrutura para produção de vacinação meningocócica, que caracterizou como cara, trabalhosa e de baixo rendimento.
A interrupção da transferência de tecnologia da vacina contra a meningite C está prevista para ocorrer a partir de fevereiro de 2026, de acordo com a fundação. Já a finalização do contrato tripartite de transferência da meningite ACWY aguarda trâmites internos no Ministério da Saúde.
Custos e prejuízo
A entidade, junto à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), informou que essas implementações custariam cerca de R$ 2 bilhões. No caso da produção da vacina contra meningite ACWY, a Funed ficaria responsável pela produção e fornecimento da proteína CRM197 para a Fiocruz, o que custaria cerca de R$ 1 bilhão, conforme a Funed. O custo também seria inviável, informou a fundação.
“Tais custos nunca foram explicitados pela GSK para a Funed até que esta gestão passou a pesquisá-los e exigi-los”, afirmou a fundação no comunicado à pasta do governo federal. Ao Estado de Minas, o presidente da Funed, Felipe Attiê, afirmou que foi na gestão dele que a dimensão dos custos envolvidos foi descoberta e, em maio deste ano, que ele teria recebido as informações sobre os custos.
Sobre possíveis prejuízos, Attiê afirmou que não haverá, visto que não foram recebidos investimentos nem feitos repasses de valores à empresa. “A única coisa que nós recebemos é a compra das vacinas pelo Ministério da Saúde”, disse.
Remodelagem da Funed
A Funed também anunciou o início de um “processo de avaliação profunda e abrangente da sua estrutura atual, com o objetivo de modernizar suas operações e potencializar seu desempenho.” De acordo com a fundação, a iniciativa tem como objetivo aprimorar o portfólio de medicamentos, agilizar a contratação de serviços e produtos e otimizar o parque industrial.
Para isso, a entidade contratou a Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), que realizará um processo de diagnóstico complexo, integrado e abrangente da estrutura.
Outro lado
O Estado de Minas solicitou à GSK um posicionamento. Em nota, a empresa afirmou que “tem dedicado esforços significativos nesta parceria com a Funed, que envolve a absorção de tecnologia e investimentos a serem feitos pela entidade para viabilizar a produção local.”
A GSK também informou que, após a comunicação da Funed quanto à rescisão unilateral do contrato, comunicou ao Ministério da Saúde que o abastecimento das vacinas está “seguro, evitando prejuízos para a população.” A empresa reafirmou o compromisso de dar continuidade à transferência de tecnologia da vacina ACWY à Bio-Manguinhos/Fiocruz.
Ministério da Saúde
De acordo com a Funed, o comunicado “visa possibilitar que o Ministério da Saúde se prepare com segurança para evitar um eventual desabastecimento destas vacinas no futuro.” A fundação e a Secretaria de Estado de Saúde se afirmaram à disposição da pasta para colaborar no processo de transição do fornecimento dos imunizantes.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que não depende da Funed para o fornecimento das vacinas meningocócicas C e ACWY no Sistema Único de Saúde (SUS). “Após a Funed comunicar que não conseguiu concluir o processo de transferência de tecnologia, o Ministério buscou laboratórios produtores, garantindo a aquisição direta das doses e a oferta para este e para o próximo ano.”
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De acordo com a pasta, os estoques estão garantidos para atender à demanda nacional. “Em 2025, até o momento, foram enviadas 3,4 milhões de doses da vacina meningocócica ACWY e 4,5 milhões da meningocócica C aos estados. Minas Gerais recebeu 460 mil doses da ACWY e aplicou 288 mil até o momento, e 445 mil da meningocócica C, com 215 mil doses aplicadas até agora”, informou o ministério.