Coração nas alturas, corpo firme para abraçar a família, pés seguros em direção ao futuro e, na cabeça, o sonho de ver um mundo de paz, em busca de harmonia e disposto ao entendimento. Hoje, Dia dos Pais, o Estado de Minas conta a história de dois mineiros e um pernambucano “duros na queda”. Homens que enfrentaram surpresas do destino, superaram os revezes, deram a volta por cima e se dizem prontos para aproveitar o domingo com filhos, netos e demais entes queridos.

Natural de Santo Antônio do Rio Abaixo, na Região Central de Minas e morador de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Nelson da Silva Pereira, de 54 anos, ainda sente uma ligeira dor na clavícula, resultante da queda de uma mangueira frondosa. Especialista em poda de árvores de grande porte, ele caiu de uma altura de sete metros.

“Poderia ter morrido ou estar agora numa cadeira de rodas. Felizmente, minha família cuidou de mim”, afirma Nelson, casado com Laudiene da Silva Pereira, pai de Leandro da Silva Pereira, de 25, e Danrley Nunes, de 24, e vovô coruja de Lorenzo, de um ano e três meses.

Já em Contagem (RMBH), o almoço festivo será na residência do casal Aguinaldo Roberto de Azevedo, de 57, pastor evangélico, e Sirlene de Andrade Azevedo, com a presença dos quatro filhos e cinco netos. Vítima de um câncer agressivo, Aguinaldo enfrentou com firmeza uma cirurgia e o calvário da quimioterapia. Concluída essa última etapa, se encontra bem e tranquilo, mantendo a fé, a esperança e o bom humor. “Quando a gente recebe um diagnóstico de câncer, perde o chão, mas, graças a Deus e aos médicos, vou passar o domingo com minha família. E muitos outros domingos virão.”

Quatro décadas separam Nelson e Aguinaldo do pernambucano do Recife Argemiro Alexandre de Araújo, que chegou a Minas há 35 anos, com a mulher e seis filhos, em busca de melhores condições de vida e novos horizontes. Aos 97, o quase centenário de boa prosa se sentia temeroso de estar doente e impossibilitado do aconchego dos filhos. “O melhor da vida é viver. E ficar perto de quem a gente gosta”, destaca Argemiro, enquanto recebe um abraço da filha Marinês de Araújo. “Meu pai é como se diz: enverga, mas não quebra”, avisa a filha de 50, que prometeu fazer o almoço comemorativo. 

 CHURRASCO PARA REUNIR A FAMÍLIA E COMEMORAR 

Do quintal da casa de Nelson da Silva Pereira dá para ver o Morro da Quitéria, montanha coberta de árvores com o azul do céu fazendo bela moldura e o canto de pássaros compondo a trilha sonora. Nesse bonito cenário, ele brinca com seu xodó, o neto Lorenzo, de um ano e três meses, filho do primogênito, Danrley, e de Estefany Suelen. “Quando a gente passa algum ‘perrengue’, só mesmo o carinho familiar para nos ajudar”, diz Nelson, casado com Laudiene da Silva Pereira, que olha com ternura para o marido.

Nelson está temporariamente “afastado” do serviço. Ao fazer uma poda, caiu de uma mangueira. “Sempre trabalhei com toda segurança (cinto, cordas, óculos, luvas, protetor para o ouvido e outros equipamentos), mas, naquela vez, a base da escada girou antes de eu prender o cinto na corda que envolvia o tronco. Deus me deu o livramento, pois eu poderia ter morrido ou ficado paraplégico. Meu braço ficou na tipoia por um longo tempo.”

Agora, são águas passadas, embora o episódio tenha deixado muitas lições. “Passei a valorizar mais os pequenos gestos, procurar ficar perto da esposa e dos filhos e, agora, do Lorenzo”, afirma Nelson ao levantar a criança nos braços juntamente com o filho.

Ao olhar para a criança, o mineiro conta que começou a trabalhar muito cedo, aos 12 anos. “Tirava pedra numa pedreira, numa fazenda.” Aos 18, teve a carteira assinada numa empresa, e, depois, conseguiu nova ocupação. “Já fiz poda numa altura de 25 metros”, recorda-se.

Mudando de assunto e ambiente, e trocando a copa das árvores pela copa e a cozinha, a família traz à mesa a leveza das comemorações de domingo. O encontro promete ser animado na casa dos sogros de Danrley. “Vai ter um churrasco lá e vamos nós todos”, avisa Nelson.

OLHOS NO FUTURO COM A SAÚDE RENOVADA

Já em Contagem (RMBH), a família do pastor evangélico Aguinaldo Roberto de Azevedo, de 57, tem motivos de sobra para fazer deste Dia dos Pais uma data inesquecível. Vítima de um câncer muito agressivo (adenocarcinoma de cólon estágio 3), Aguinaldo foi operado, fez quimioterapia e está bem. “Meu pai é duro na queda. No período das sessões de quimioterapia, continuou trabalhando. Engraçado é que viveu uma situação diferente de muitas pessoas. Em vez de ficar debilitado, engordou alguns quilos”, conta, com satisfação e alívio, o filho caçula, Davi Andrade de Azevedo, de 32, estudante de arquitetura e urbanismo.

O tratamento foi no Hospital Mater Dei (unidade Contorno, em BH). “Primeiramente, houve a cirurgia de retirada do tumor, com o cirurgião oncológico, dr. Mário Gissoni Júnior. Depois, a oncologista dra. Renata Arruda e equipe atuaram na quimioterapia. Ambos profissionais importantíssimos para todo esse processo de muita eficácia e sucesso, abaixo de Deus!”

Natural de Itabirinha, no Leste de Minas, Aguinaldo chegou a BH com um ano de idade. Casado com Sirlene de Andrade Azevedo, formou uma família que sempre se reúne para refeições. Além de Davi, marcam presença Jonathas, de 35, pai de Liz, de um ano, hoje residente no interior do estado; Samara, de 34, mãe de Sofia, de 11, e Aurora, de cinco meses; e Débora, de 33, mãe de Ana Clara, de 9, e Laura, de 3. Ele é pastor da Igreja Assembleia de Deus e coordenador de uma regional com 19 igrejas.

Uma grata coincidência une ainda mais o casal. Aguinaldo e Sirlene nasceram no mesmo dia – 25 de outubro de 1967 – em cidades mineiras, “com uma diferença de cinco minutos”, conta Davi, certo de que, neste domingo, a saúde de Aguinaldo tornará a festa dos pais mais feliz. E o pedido do pastor é por um mundo melhor: “Que o povo tenha paz, empatia, harmonia. E cessem as guerras e demais conflitos”.

“NADA MELHOR DO QUE VIVER”, ENSINA UM QUASE CENTENÁRIO

Cada palavra pronunciada por Argemiro Alexandre de Araújo, de 97, soa como lição de vida. Vida prática, de experiências, sem teorias, genuinamente de quem provou do doce e do amargo. Impossível ficar indiferente ou desatento ao ouvi-lo narrar suas andanças pelo Brasil, dos erros e acertos, das dificuldades e do momento certo de parar com alguns excessos. O resumo da história surge como música. “Não tem nada melhor na vida do que viver. A vida é um progresso”, garante com prazer na voz.

Nascido em Recife (PE) e morador durante muitos anos de Afogados da Ingazeira, no sertão do estado nordestino, Argemiro teve uma primeira união conjugal antes de formar nova família e se mudar para Brasília (DF). Em meados da década de 1980, em busca de melhores condições de trabalho e vida, veio com a mulher e seis filhos para Santa Luzia (RMBH). Bem-humorado, não sabe exatamente o número de netos que tem, e costuma se surpreender quando, ao passar numa rua, alguém o chama de “vô”. Responde, mas costuma ficar “sem saber direito” de quem se trata.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Na última quinta-feira, um susto. Uma forte de cabeça tirou o sossego de seu Argemiro, que mora sozinho numa casa próxima à da filha. “Fiquei todo duro, sem conseguir me mexer direito”, conta o pernambucano reproduzindo a cena. Conseguiu chamar a filha, ela escutou, e foram direto para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Pensei assim: se chegou a hora, não tem jeito. Mas sou ‘grande’, tenho amor no coração.”

A consulta mostrou que não era nada grave. O susto é a deixa para Argemiro falar do seu marca-passo e de um mal que o acometeu quando jovem, no tempo da lida na roça. Um dia, do nada, começou a sentir uma coceira no corpo que deixou a pele coberta de feridas. Foi ao médico, e tomou, segundo ele, 52 injeções. No final das contas, havia contraído a doença conhecida como fogo selvagem. A recomendação médica era passar também uma pomada diariamente, o que o rapaz fazia após banho de rio. “E melhorou logo?”, pergunta o repórter. “Só melhorou mesmo depois que uma mulher buscou umas folhas no mato e me benzeu.”

Argemiro diz que já bebeu muito, fumou, jogou sinuca e decidiu, de repente, mudar de vida. Foi ali um divisor de águas. Hoje, só quer sossego e cuidar das suas codornas. “Como cinco ovos por dia... já comi sete!”, avisa. E para que tanto ovo de codorna? A resposta... bem... ele prefere manter em segredo.

compartilhe