“Até então não temos nenhum indício coletado, pelo menos na parte criminal, de participação da delegada nesse crime”, afirmou o delegado da Polícia Civil de Minas Gerais Álvaro Huertas em coletiva nesta terça-feira (12/8).
Ele se refere ao homicídio do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, cujo suspeito é Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47, marido da delegada Ana Paula Balbino. O trabalhador foi morto a tiro enquanto trabalhava no Bairro Vista Alegre, Região Oeste da capital mineira, nessa segunda-feira (11/8). O suspeito foi preso no dia do crime.
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O delegado Huertas afirmou que é preciso confirmar se a arma utilizada no crime é a mesma que foi entregue pela delegada quando a polícia foi à casa dela. Huertas destacou que é de ciência da corporação que o calibre de ambas é o mesmo — 380 —, mas que é preciso haver uma investigação.
Caso seja confirmada que a arma é a mesma, o delegado explicou que seria necessário ainda investigar se houve permissibilidade para Renê usar o artefato ou se ele pegou sem o consentimento da esposa. Huertas afirmou que uma possível participação da delegada só será confirmada se ela tiver permitido que o marido usasse.
“Até agora não existe nenhum indício que direcione a sua permissibilidade, até porque a arma não foi encontrada no local, foi encontrada em sua residência, no local que ela disse que estaria (...)”, disse o delegado.
De acordo com o delegado e porta-voz da PCMG Saulo Castro, a delegada Balbino foi ouvida e, em um primeiro momento, disse que seu marido não tinha acesso a esse armamento e que portanto ela desconhecia qualquer envolvimento em qualquer crime.
“Importante ressaltar que estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional”, disse Castro.
Suspeito
Suspeito de cometer o crime, Renê da Silva Nogueira Júnior era vice-presidente de vendas em uma empresa no ramo alimentício. Ele foi desligado da empresa no dia seguinte à repercussão do crime. Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".
De acordo com o boletim de ocorrência, ao ser abordado, o suspeito disse à polícia que "não participou do episódio e que sua esposa é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais, que o veículo abordado estaria em nome da servidora". Ainda segundo o registro policial, ele teria dito ainda que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio".
Renê foi preso pela Polícia Militar e encaminhado para o Ceresp Gameleira depois de ter prestado depoimento no Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante a noite de segunda e madrugada desta terça-feira. O suspeito foi localizado entrando no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia na tarde dessa segunda, onde foi abordado.
O crime
Laudemir foi atingido por um disparo de arma de fogo no abdômen na manhã de segunda-feira. O crime foi registrado na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h. Testemunhas relataram que a vítima e seus colegas recolhiam o lixo quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para que um carro, da marca BYD, pudesse passar.
Nesse momento, o homem teria abaixado a janela e gritado para a motorista que, se alguém encostasse em seu veículo, ele iria matar. Depois das ameaças, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o suspeito tivesse calma e o orientaram a seguir o caminho. Mesmo assim, o homem, conforme as testemunhas, desceu do carro alterado e atirou contra eles, atingindo Laudemir.
A vítima chegou a ser socorrida por populares. Ele foi encaminhado ao Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Região Metropolitana de BH, mas não resistiu.
*Com informações de Alexandre Carneiro, Ivan Drummond e Ramon Lisboa