Uma câmera de segurança flagrou o gari Laudemir de Souza Fagundes, de 44 anos, momentos depois de ser baleado no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte (MG), na segunda-feira (11/8). A vítima foi atingida por um disparo de arma de fogo e morreu no Hospital Santa Rita, para onde foi levado.
Durante a tarde do dia do crime, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) prendeu um homem reconhecido por testemunhas como o autor do disparo fatal. Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, está detido desde então e teve a prisão preventiva determinada hoje (13/8).
Na gravação, é possível ver o momento em que o carro identificado como um BYD Song Plus vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo então para por instantes, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via. Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do barriga e cai no chão. Ele é amparado por um colega que segura a cabeça da vítima.
Como foi o crime?
O gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, foi morto com um tiro na barriga na manhã dessa segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), ele trabalhava na coleta de lixo com outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário Renê da Silva Nogueira Júnior.
De acordo com testemunhas, Renê baixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.
Em depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.
Ao Estado de Minas, o gari Tiago Rodrigues, que presenciou o assassinato do colega, relatou que o suspeito agiu com frieza durante todo o ataque. Segundo ele, Renê não parecia estar fora de si. “Ele estava frio, sem sentimento. Não tem essa de ‘fora de si’. Assim que atirou, ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido e foi embora”, contou.
Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.
O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.
A vítima foi socorrida e levado ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Grande BH, onde morreu.
Suspeito foi preso na academia
Horas após o crime, a PM localizou e prendeu Renê no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte. Segundo a corporação, a identificação do suspeito foi possível graças a informações de uma testemunha que lembrou parte da placa do veículo, além da análise de imagens de câmeras de segurança, que revelaram os demais caracteres e confirmaram o modelo do carro.
De acordo com o boletim de ocorrência, ao ser abordado na entrada da academia, Renê negou participação no crime e afirmou que a esposa dele é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais. Disse ainda, segundo o registro, que o veículo está registrado em nome dela e que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio".
O boletim relata que a arma supostamente usada no crime pertence à esposa do suspeito e foi apreendida pela PM. Mais tarde, já com Renê na delegacia, os policiais foram até a casa da delegada, que entregou o armamento, devidamente registrado, de forma espontânea.
Em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira (12/8), a Polícia Civil confirmou a suspeita de que a arma utilizada — uma pistola calibre .380 — pertence à esposa de Renê, que é delegada da corporação. O armamento foi enviado à perícia, que tem prazo legal de dez dias para concluir o laudo e confirmar se foi de fato usado no crime. A polícia também apura junto à Polícia Federal se o suspeito possuía porte de arma, informação que, até o momento, não foi confirmada.
A corporação destacou ainda que o fato de a arma estar registrada em nome de outra pessoa não implica automaticamente sua participação no crime. Só se configura coautoria caso haja indícios de coação ou autorização para o uso do armamento. No caso, trata-se de uma arma registrada em nome de uma delegada de polícia, autorizada a possuí-la em razão da carreira. Até o momento, não há indícios, do ponto de vista criminal, de envolvimento da delegada nesse homicídio.
Quem é o suspeito de matar gari?
Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos é o principal suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes. Ele foi desligado da empresa onde trabalhava no dia seguinte à repercussão do crime.
No perfil dele no Instagram, desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".
No próprio perfil profissional, se define como “líder, com boa capacidade de comunicação e motivação de equipes diretas e indiretas, com prática no acompanhamento e desenvolvimento de profissionais”. Ele ainda se apresenta como um profissional com “excelente capacidade de negociação e de construir relacionamento por meio de engajamento, resolução de problemas e comunicação eficaz”.
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Marido de uma delegada da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), Renê tem formação em Administração e Marketing pela PUC-Rio e Universidade Estácio de Sá. Também é detentor de dois MBAs: um em Gestão de Projetos, pelo Ibmec, e outro em Bens de Varejo e Consumo, pela USP.