Centenas de pessoas saíram às ruas do Centro de Montes Claros, neste sábado (16/8), para acompanhar o cortejo do Império do Divino Espírito Santo, uma das atrações das Festas de Agosto, promovidas na cidade há quase dois séculos. Os festejos prosseguem até este domingo (17/8).
A manifestação folclórica tem como protagonistas os grupos de catopês, marujos e caboclinhos, formados, na grande maioria, por trabalhadores simples que, neste período, deixam seus afazeres para se dedicar aos desfiles e apresentações, que atraem milhares de moradores e visitantes.
Neste domingo (17/8), às 10 horas, os grupos folclóricos vão se reunir no Encontro de Ternos, na Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, no Bairro Morrinhos. O evento também deverá contar com a participação de representantes de congados de outras cidades mineiras.
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Dominado pela cor vermelha, o cortejo do Império do Divino Espírito Santo saiu da Praça do Automóvel e passou pelas ruas Dom João Pimenta e Camilo Prates, Praça Doutor Carlos e Rua Governador Valadares, até chegar à Igrejinha do Rosário (Praça Portugal) no Centro da cidade.
Com a mistura de ritmos, animação e colorido de suas roupas e fitas, os catopês (roupas brancas e vermelhas), marujos (vestimentas azuis e vermelhas) e caboclinhos (no tom vermelho) receberam os aplausos dos moradores e visitantes, que aproveitaram a beleza das manifestações folclóricas para vídeos, fotos e selfies.
Os grupos folclóricos foram precedidos pelo cortejo do Império Divino propriamente dito, que, pela tradição, teve um um casal (de crianças) representando o Imperador e a Imperatriz - a festeira foi Celeste Carvalho Brant Maia. Ao final, houve o desfile da Banda de Música da 11ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que inovou, colocando no seu repertório a composiçao "Oração da Família", do Padre Zezinho.
Nos dois dias anteriores, o público acompanhou os cortejos de Nossa Senhora do Rosário (quinta-feira) e de São Benedito (sexta-feira). Neste domingo, às 16 horas, haverá o desfile de encerramento das festas, com todos os cortejos e grupos de dançantes, mas em um trajeto diferente: sairá da Praça da Matriz e passará pela avenida Oswaldo Cruz, Rua Carlos Gomes, Praça Doutor Carlos, Ruas Doutor Santos, Dom Pedro II e Camilo Prates, Praça Doutor Carlos novamente e Rua Governador Valadares, até chegar à Igrejinha do Rosário (Praça Portugal).
Festival folclórico
As Festa de Agosto de Montes Claros também contam com uma programação cultural, o Festival Folclórico, com apresentações musicais, mostras artísticas e barraquinha de comidas típicas, na Praça da Matriz, no Centro da cidade. O Solar dos Sertões, localizado na praça e administrado pela Organização Não-Governamental (ONG) Centro de Agricultura Alternativa (CAA), também conta com uma programação cultural dedicada ás tradições folclóricas.
Na noite dessa sexta-feira (15/8), uma das atrações do Palco Arena, no espaço central da Praça da Matriz, foi a apresentação Grupo Fitas de Tradições Folclóricas. Formado por jovens voluntários, o Grupo Fitas realiza um permanente trabalho de pesquisa cultural e de criação artística, estudando e reinterpretando manifestações culturais tradicionais dos quatro cantos do Brasil, como o jongo, o carimbó, as danças gaúchas, o candomblé, o xaxado e o maracatu.
A companhia de dança folclóricas, que está comemorando 20 anos de fundaçãoo, conta com a parceria do Colégio Marista São José, de Montes Claros, onde mantém seu camarim e realiza seus ensaios, além de promover oficinas de dança folclórica com os alunos do educandário. O Fitas já se apresentou em diversas cidades e festivais folclórico de Minas Gerais, do Brasil e da América Latina.
Para a noite deste sábado, foram programadas a apresentações da Guarda Nossa Senhora do Rosário (palco Arena), Grupo Calango Baila e Sérgio Pererê (palco principal).
Na noite de domingo, no encerramento do Festival Folclórico e das Festas de Agosto de 2025, haverá as apresentações do Grupo Folclórico Saruê/Unimontes (palco Arena), de Edu Lemos e do Grupo Quatrocidade no palco principal da Praça da Matriz.
Festas narradas em livro
As Festas de Agosto de Montes Claros serão narradas um livro que está sendo organizado pelo pesquisador, historiador e antropólogo João Batista Almeida Costa, professor aposentado da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A obra – ainda a ser lançada, tem o título “Agosto, Festa de Catopê, seus ventos, suas cores, suas fitas” e será doada para escolas do município.
O professor João Batista Almeida Costa explica que o livro reunirá arte com desenhos relativos aos catopês e com pequenos textos de pessoas da cidade que vivenciam as Festas de Agosto e narram suas memórias e entendimentos sobre os catopês.
“O nosso objetivo é que estudantes leiam os pequenos textos sobre as festas e se encantem pelas manifestação. A festa de catopê, do ponto de vista cultural e simbólico é o momento mais importante da sociedade montes-clarense. Pois, durante o evento, é possível sentir e espalhar pela cidade o nosso orgulho, o nosso sentimento de pertencimento das Festas de Agosto”, afirma o organizador do livro.
Antiguidade das Festas e origem dos negros
As Festas de Agosto de Montes Claros são divulgadas como uma manifestação que surgiu há 186 anos. A divulgação oficial é baseada no “Montes Claros, sua história, sua gente, seus costumes”, do historiador Hermes de Paula, que informa que o primeiro registro oficial de realização da festividade no município é de 1839. No entanto, o pesquisador e historiador João Batista Almeida Costa afirma que existem indícios de que a tradição tem mais do que 186 anos.
Ele afirma que em seus relatos, o botânico e naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que passou em Montes Claros em 1817, no mês de agosto, descreve ter encontrado pelas estradas e ruas negros, aos domingos, “batendo tambor e dançando batuques”. Almeida Costa salienta que Saint-Hilaire, ao passar pelo Arraial de Nossa Senhora dos Formigas e de São José das Formigas (antigos nomes da atual Montes Claros), conheceu os tambores que tocariam na Festa de Nossa Senhora do Rosário.
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O historiador e antropólogo salienta que a manifestação folclórica da Festa dos Catopês surgiu por iniciativa dos negros, devotos de Nossa Senhora do Rosário. Ele destaca que, inicialmente, eram realizados somente os festejos dos catopês (de origem africana), antes de surgirem os grupos de caboclinhos (representação indígena) e de marujos (de tradição portuguesa).
“A festa dos catopês de e Montes Claros têm um vínculo com os rituais reais da região do Banto da África, onde, no período da colheita. Lá, se fazia os festejos pela colheita. Tinham os rituais em que o rei se afastava e alguém era coroado rei e as pessoas saíam fazendo festas pelas estradas que levavam as comunidades. E aí então, essa é a razão dos catopês dançarem para cima no tom maior, enquanto as congadas de Minas Gerais dançam para baixo chorando a escravidão e tocam no tom menor”, explica Almeida Costa.