A defesa de Renê da Silva Nogueira Júnior, autor confesso da morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, passou a ser conduzida pelo criminalista Dracon Luiz Cavalcante Lima. O advogado foi oficialmente habilitado no processo nessa quinta-feira (21), após a renúncia da equipe de defesa anterior.
Dracon é conhecido no cenário jurídico da capital por atuar em casos de grande repercussão, incluindo a defesa de uma mulher condenada por matar a síndica do prédio onde morava e o caso do fisiculturista Allan Guimarães Pontelo, assassinado em uma boate.
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O advogado explicou que foi procurado por amigos de Renê, depois que a defesa anterior deixou o caso. “Ele está sendo crucificado sem que o inquérito policial seja concluído. Achei importante mostrar quem ele realmente é. Além disso, Renê reconheceu o erro e assumiu sua responsabilidade”, disse Dracon.
Dracon relatou que já visitou Renê na prisão, onde segundo ele o empresário enfrenta dificuldades, incluindo ameaças, necessidade de medicação e acompanhamento médico. “Ele está tentando se adaptar, mas enfrenta contratempos. Estamos trabalhando para garantir que tenha acesso aos cuidados necessários”, afirmou.
A mudança na defesa aconteceu justamente no momento em que o Ministério Público de Minas Gerais analisava o pedido da Polícia Civil para prorrogar, por 30 dias, o prazo de conclusão do inquérito sobre o homicídio de Laudemir Fernandes. O MPMG emitiu parecer fixando a prorrogação em 10 dias.
No dia 14/8, a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, fabricante do carro do suspeito visto no local do crime, e à operadora Claro. O objetivo é rastrear as rotas percorridas pelo suspeito no dia e horários próximos ao homicídio.
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Em 18/8, após a divulgação de imagens de câmeras de segurança que mostravam o empresário guardando a arma usada no crime, a defesa de Renê comunicou que não atuaria mais no caso. Os advogados alegaram “foro íntimo” como motivo para se afastarem.
Como foi o crime?
- Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
- Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
- Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
- O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
- Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
- Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
- O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
- No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
- Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
- Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais.
- Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH
Quem é o suspeito?
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Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.
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Colaborador em empresa de alimentos; desligado após repercussão.
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Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).
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Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.
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Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)
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Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.
O que dizem as investigações até o momento?
A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados na sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas no assassinato de Laudemir.
Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.
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Apesar do procedimento interno, o delegado Saulo Castro afirmou, em coletiva de imprensa, que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular. "Estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional", disse.
Na ocasião, a corporação acrescentou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais "não necessariamente" a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido.
Um dos pontos centrais da investigação é o horário de chegada de Renê à Fictor Alimentos LTDA, em Betim, na Grande BH, onde ele trabalha. Câmeras de segurança da empresa inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a perícia da Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após um circuito de segurança na rua capturar o momento em que o gari foi baleado no Bairro Vista Alegre, às 9h07.
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Na quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio.