Morte de gari: indiciado pediu que esposa não entregasse arma à polícia
Renê da Silva Nogueira Júnior enviou mensagem à esposa, delegada da PCMG, enquanto estava sendo abordado pela PMMG no dia da morte de Laudemir
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Siga noRenê da Silva Nogueira Júnior, indiciado pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, pediu que sua esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, não entregasse sua arma de uso pessoal à polícia.
O artefato, calibre .380, foi usado no homicídio da vítima e na ameaça à motorista do caminhão de coleta, na manhã de 11 de agosto. O casal foi indiciado na última sexta-feira (29/8), o empresário por homicídio duplamente qualificado, ameaça e porte ilegal de arma de fogo e a servidora do Governo de Minas Gerais por porte ilegal de arma de fogo, por ceder e emprestar o armamento.
Após análises do aparelho celular do indiciado, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu que às 16h27, após ser detido pela Polícia Militar de Minas Gerais em uma academia na Avenida Raja Gabaglia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, Renê enviou uma mensagem para a esposa. No contato, o homem afirma: “Não pega a outra [calibre .380]. Entrega a nove milímetros”.
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Para a PCMG, o homem tinha o objetivo que a esposa ludibriasse as forças policiais e impedisse a completa investigação dos fatos. No entanto, Ana Paula não respondeu o marido. Ao não ter um retorno, Renê enviou uma nova mensagem para a delegada. “Amor, eu não fiz nada. Estava no lugar errado, na hora errada”.
Dezoito dias depois da morte de Laudemir de Souza Fernandes, a PCMG finalizou o inquérito que investigou as circunstâncias do crime. Os detalhes sobre o crime foram repassados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) durante coletiva de imprensa. No dia seguinte aos fatos, em 12 de agosto, a corporação já havia afirmado que o depoimento das testemunhas, colegas de Laudemir, já indicavam que o empresário seria responsável pelo disparo.
De acordo com o delegado Evandro Radaelli, o indiciamento de Renê foi baseado nas informações repassadas em oitiva de testemunhas, no próprio interrogatório do investigado, análises das imagens colhidas no local dos fatos, na empresa em que o homem trabalhava e em sua casa. Além disso, a quebra do sigilo telefônico e telemático do aparelho celular e do carro que o empresário dirigia no dia, também forneceram dados para a conclusão do inquérito.
Fascínio por armas
Além da comprovação do envolvimento do empresário na morte de Laudemir, as investigações indicaram que Renê tem "fascínio" por armas de fogo e o "poder" que o armamento o concedia. De acordo com o Radaelli, durante análises feitas no aparelho celular do investigado foram encontradas imagens em que ele exibe diversas armas.
Em alguns vídeos, o homem aparece fazendo disparos. Ainda segundo o chefe da investigação, o artefato não é o mesmo usado no crime registrado no Bairro Vista Alegre. Além disso, o homem também demonstrava “interesse” pelo cargo ocupado pela esposa. Em uma das fotos, ele chegou a exibir o distintivo da mulher.
“Acreditamos que na situação em que ele disparou contra o Laudemir ele estava sim demonstrando um poder, porque ele julgou que a pressa que ele tinha era mais importante que o trabalho que os garis realizavam na coleta de resíduo”, afirmou o delegado Evandro Radaelli.
Qual o envolvimento da delegada?
Assim como o marido, a delegada Ana Paula foi indiciada. Ela poderá responder judicialmente por porte ilegal de arma de fogo, conforme previsto na lei de desarmamento por ter cedido ou emprestado sua pistola de uso pessoal para o companheiro. Durante coletiva de imprensa, para apresentação dos resultados das investigações, o delegado Evandro Radaelli afirmou apenas que a servidora permitia e tinha ciência que Renê usava sua pistola de uso pessoal, não chegando a citar a de uso profissional da corporação.
Segundo o delegado Matheus Moraes, após a quebra do sigilo telefônico do acusado, foi possível analisar a conversa do casal. Ele explica que em algumas mensagens, em datas anteriores ao crime, ficou claro que Ana Paula consentia com o uso da arma pelo companheiro. Caso seja condenada, a delegada poderá pegar de 2 a 4 anos de prisão. Além disso, caso haja o entendimento pela Justiça, a pena pode ser ampliada em 50%, por ela ser servidora pública.
“Nós apuramos que ela [Ana Paula] tinha ciência que ele andava armado de forma habitual e que consentia com tal comportamento. Nós analisamos preteritamente todas as conversas que eles tiveram”, informou Moraes.
Durante o depoimento prestado logo após sua prisão em flagrante, Renê afirmou que ligou para a esposa na manhã do dia 11 de agosto, por volta das 8h40, informando que o trânsito estava ruim. Segundo ele, a próxima ligação teria ocorrido às 14h, quando avisou que tinha saído para passear com os cachorros. Por fim, Renê disse ter entrado em contato novamente com a esposa assim que foi abordado pelos policiais militares.
Ao longo das investigações, a PCMG não conseguiu confirmar se a delegada sabia, ou não, que o marido matou uma pessoa a caminho do trabalho. Ainda segundo Matheus Moraes, no dia do crime diversas mensagens trocadas entre os dois foram excluídas e eles teriam passado a se comunicar por ligação via aplicativo de mensagem. O delegado explica que o conteúdo das chamadas não é possível ser acessado, mesmo com a quebra do sigilo telemático.
“Há várias mensagens apagadas no celular dele e isso dificultou essa conclusão da ciência dela, ou não, da prática criminosa. Porém, alguns áudios foram recuperados, o que possibilitou que chegássemos à conclusão que ela tinha ciência do porte de arma”, afirma.
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O que acontece agora?
- O resultado das investigações e indiciamento do suspeito serão enviados ao Ministério Público de Minas Gerais;
- Após o recebimento dos documento, o MPMG tem até dez dias para denunciar, ou não, o indiciado à Justiça;
- Além dos crimes relatados na conclusão do inquérito o MPMG pode acusar o homem por outros delitos;
- A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira vai continuar afastada, por motivos de saúde;
- A Corregedoria da PCMG continua as investigações administrativas contra a servidora.