GARIMPO

PF investiga transações em torno de Diamante gigante

Agentes passam pente-fino em documentos para detectar eventual relação de compradores com possível desvio de pedra preciosa em Minas Gerais

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As transações comerciais envolvendo o segundo maior diamante do Brasil são averiguadas pela Polícia Federal (PF) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) para identificar se compradores teriam relação com as suspeitas de desvio da pedra preciosa. O diamante foi retido pela PF e a ANM, em 27 de agosto, precisamente na data em que receberia o lacre do Certificado do Processo Kimberley (CPK) e estaria, assim, apto a ser exportado, como mostrou com exclusividade a reportagem do Estado de Minas.


A empresa Diadel Mineração revelou ao mundo a existência do segundo maior diamante do Brasil, afirmando ter extraído a pedra do Rio Douradinho, em Coromandel, no Alto Paranaíba. Mas a PF e a ANM investigam se a real origem seria o garimpo da Carbono Mineração, no Rio Araguari, na cidade de mesmo nome, no Triângulo Mineiro.


Em 29 de julho, às 14h28, o delegado Rodrigo Paschoal Fernandes, da Delegacia de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, encaminhou à ANM o ofício 290.871/2025, requisitando acesso total a informações como essa no processo CPK do diamante “e as providências tomadas” pela agência em Minas Gerais.


A nota fiscal de exportação e o invoice de venda (nota de venda em dólares) estão entre os documentos em verificação e que podem indicar atividades suspeitas sobre a compra e a venda, se ocorreram de forma regular ou se têm alguma relação com as suspeitas de desvio.


Quando foram veiculadas as primeiras imagens da pedra nas redes sociais e se ouviu falar que já haveria compradores, correram até imagens de conhecidos negociantes, um deles ostentando o diamante dentro de um avião e mostrando cenas de garimpos em Coromandel.


A primeira relação de documentos a que a PF teve acesso foi a necessária para a entrada no processo de CPK. São documentos declaratórios da própria empresa. Alguns meramente burocráticos, como o contrato social, mas que podem demonstrar relação entre sócios com outras atividades que permitam rastrear ações suspeitas.


Garimpeiros


Outro braço da investigação é o referente a todos aqueles que tiveram contato com o diamante, como foi mostrado na edição de ontem (4/9). O objetivo é cruzar as versões e os movimentos de cada envolvido e essa relação foi requisitada pela ANM, a partir do ofício nº 34.432/2025/SFI-ANM/ANM de 29 de agosto.


A verificação procura identificar se as versões de localização das pessoas e suas ações nos dias após a descoberta da pedra são verdadeiras e se podem ser confirmadas por testemunhos e registros. A identificação das pessoas envolvidas deve ser feita em até dois meses. A investigação busca garimpeiros e outros trabalhadores que alegam ter encontrado a pedra.


Outras informações avaliadas são os vínculos de trabalho com a empresa, participação na produção, valores já recebidos, comprovação de que estavam no local de extração no dia e hora do suposto encontro. Isso é importante, porque o processo de mineração é manual e assim é preciso que a polícia saiba a identidade dos operadores e garimpeiros.


No caso dos trabalhadores, a investigação procura saber se há relações entre as empresas Diadel Mineração e Carbono Mineração, intermediários e compradores da pedra preciosa. Algum fator possa ligar garimpeiros ou funcionários aos dois locais, algum vínculo ou atividade em comum.

Registros fotográficos


A polícia busca por comunicações, recebimento de valores ou transações entre os investigados para um cruzamento das informações com as histórias sustentadas pelos envolvidos. As versões de localização nos dias dos fatos precisam ser confirmadas e confrontadas. O mesmo ocorrerá com a guarda do diamante desde a mineração.


Essa checagem visa saber com quem a pedra esteve. Também busca descobrir por quanto tempo e em quais locais ela foi mantida. Entre os elementos centrais da investigação estão os registros fotográficos. A reportagem do EM mostrou que metadados, testemunhos técnicos e as relações da Diadel são pontos essenciais.


Os agentes consideram cruciais os registros de pesagem do diamante. As empresas produtoras precisam manter um controle diário de produção. Esse controle inclui fotos da gema e de sua pesagem ainda na mina. Esses arquivos têm metadados que indicam data, hora e até coordenadas geográficas da captura das imagens.


Equipamentos


Em caso de dúvida, os equipamentos usados podem ser apreendidos. Câmeras, celulares e computadores podem ter seus dados recuperados. As autoridades exigiram também planilhas mensais de produção. Elas devem conter informações detalhadas do local de extração, dia, hora e registros de pesagem assinados por um responsável técnico.


A localização da cava é um ponto-chave na investigação. Testemunhos e vídeos indicam que o garimpo da Diadel em Coromandel estaria paralisado ou funcionando de forma esporádica. Em vídeos e por testemunhos, o que se sabe é que foram mostrados apenas montes de cascalho, com vegetação que indica se tratar de processamento antigo.


Os investigadores buscam verificar se o volume de cascalho processado condiz com o declarado. Eles também avaliam as condições físicas do local, como cortes recentes ou antigos no terreno e a presença de erosão no local onde teria sido feita a extração do diamante.


A pesagem e a assinatura do responsável técnico são avaliadas para verificar a legalidade do processo. O Certificado do Processo de Kimberley, feito pela ANM, é sustentado por um diário de mina. Nesse documento, a empresa declara a produção e os volumes processados. Se surgirem inconsistências, o profissional responsável pode ser chamado a depor.


Rigor

A Polícia Federal informou que "não compartilha qualquer informação sobre investigações em curso. O que for passível de divulgação será feito em momento oportuno no site da corporação”. A ANM informou que "acompanha a situação com rigor, atuando em conformidade com os princípios administrativos para assegurar a lisura do processo. Por razões de segurança e para a proteção de todos os envolvidos, os detalhes permanecem sob sigilo”.


Existem várias inconsistências na história do diamante. A venda de uma gema de tal valor, avaliada em dezenas de milhões de reais, ocorreu sem publicidade. Negociadores brasileiros não foram contatados, o que contraria a prática de leilões para maximizar o lucro. A transação teria sido fechada por um valor entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões.


Especialistas estimam que o diamante poderia valer até R$ 50 milhões. O preço abaixo do mercado e a falta de publicidade sugerem uma tentativa de concluir o negócio rapidamente, antes que a origem da pedra fosse questionada.


Movimento intrigante


A atividade da mina da Diadel em Coromandel também intriga os investigadores. Relatos locais indicam que a operação era intermitente e foi paralisada logo após a descoberta. O padrão seria o oposto: intensificar o trabalho para encontrar mais gemas. A reação da empresa após a intervenção da PF e da ANM foi considerada suspeita.


Em 27 de agosto, quando a gema foi retida, a Diadel protocolou a desistência do Certificado do Processo Kimberley. Embora a ANM afirme que não houve desistência, o registro do ofício no sistema da agência indica um recuo estratégico. A medida pode ter sido uma tentativa de evitar que a certificação fosse formalmente negada. Com a pedra apreendida e um prazo de 60 dias para apresentar documentação, a situação da mineradora se complica.

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A Diadel e seu sócio-administrador, Carlos César Manhas, não se manifestaram sobre o tema. A consultoria que faz as movimentações do CPK para a Diadel informou não ter autorização para co mentar o caso. Manhas já foi condenado por receptação de diamantes da Reserva Indígena Roosevelt, do Cinta Larga, em Rondônia, em 2002. A Carbono Mineração também não respondeu à reportagem.


A investigação busca rastrear todo o caminho da pedra, desde a extração até a tentativa de exportação. O objetivo é identificar todos os envolvidos no que pode ser um dos maiores casos de desvio de gemas da história recente do Brasil.

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