BH: síndica do JK deixa cargo e assembleia vai eleger nova gestão
Edifício tradicional fará assembleia na próxima terça (30/9) para escolher novo síndico e discutir reformas, mas moradores criticam transparência e horário
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Siga noMaria das Graças, de 78 anos, ocupou o cargo por mais de quatro décadas. Internada no Hospital Felício Rocho, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, desde 20 de agosto, segundo Faiçal Assrauy, advogado que representa o Edifício JK, ela continua em estado grave. O motivo da internação não foi divulgado.
Durante o afastamento, a administração do Edifício ficou sob o comando do síndico em exercício, Manoel Gonçalves de Freitas. Segundo a convocação oficial assinada por ele: “A Assembleia Geral Extraordinária foi convocada justamente por conta desse afastamento.”
O encontro foi marcado em duas sessões, às 10h e 10h30, no auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), localizado no próprio condomínio, na Rua dos Guajajaras, 1268. Além de eleger o novo síndico, a assembleia irá discutir medidas de modernização e acessibilidade.
Entre as ações escritas na ata de convocação estão a ratificação de novas regras de circulação de animais de estimação nas áreas comuns, autorizando que sejam conduzidos apenas na coleira, sem necessidade de serem carregados no colo.
Também será votada a implantação de cadastro eletrônico de moradores, a autorização para uso de contratos digitais de locação, a modernização do sistema de iluminação e do controle de visitantes e a reforma da garagem, que poderá ter parte de seu uso ampliado a terceiros para gerar receita.
A assembleia também discutirá a busca de parcerias públicas e privadas para viabilizar tanto a modernização dos elevadores dos blocos A e B quanto a adequação ao Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Esse documento é exigido para garantir segurança contra incêndio, mas ainda não foi obtido pelo condomínio. A proposta é que os investimentos não gerem custos adicionais aos condôminos.
Outro item que gera controvérsia é a ratificação de todos os atos da administração até agora. Para os moradores que deram entrevista, essa medida funcionaria como uma espécie de aval automático a decisões anteriores, sem discussão transparente.
Reclamações dos moradores
Apesar das promessas de avanços, o Estado de Minas entrevistou três moradores do Edifício JK, todos sob a condição de anonimato que contestam a escolha do horário da reunião, marcada para a manhã de um dia útil, o que pode limitar a participação dos condôminos e questionam se realmente terá melhorias. Todos não querem se expor por temer represálias da administração.
Um deles disse que a convocação surpreendeu os condôminos: “Foi marcado para o dia 30 de forma inesperada. Nós estamos surpresos e preocupados. Não houve tempo para nós organizamos para formar uma chapa ou mais de uma para ter uma eleição mais justa".
O morador reforça que a saída da atual síndica traz um alento, porém, desde que haja alternância de pessoas, "se forem manter quem já está lá, não temos expectativas de mudança".
Outra moradora disse que sequer recebeu comunicação oficial: “Ainda não recebi nenhum aviso, fiquei sabendo pelo Instagram. Como todas as assembleias realizadas desde que estou aqui. Somos informados sempre em cima da hora e em dias e horários que quase ninguém pode participar. E com essa nova eleição, não acho que as cosias vão mudar, mas tomara que eu esteja errada".
Já a terceira moradora acusou a atual administração de autoritarismo e crítica a ata da reunião. “A administração é marcada por falta de transparência e atitudes autoritárias. Temos elevadores quebrados quase todos os dias e não há aprovação do Corpo de Bombeiros. Essa assembleia parece um cavalo de Troia: falam em modernização, mas querem aprovar todos os atos anteriores sem prestação de contas”.
Segundo os moradores, eles pediram para que a reunião fosse feita em outro horário ou até mesmo no final de semana, mas não foram ouvidos. Questionado sobre a demanda dos condôminos, o advogado respondeu que a data da Assembleia respeitou a vontade da coletividade, sendo que qualquer dia, ou hora, desagradaria uma minoria. "A data também respeitou a pesada logística, já que a estrutura deve estar preparada para centenas de condôminos", afirmou Faiçal.
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Sobre a denúncia dos moradores dos prédios não ter aprovação do Corpo de Bombeiros, mesmo estando incluindo na ata da reunião a adequação do AVCB, a reportagem entrou em contato com órgão para confirmar se a denúncia procede e aguarda retorno. O espaço segue aberto.
Ação contra má conservação
Em 2024, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou uma ação civil pública contra Maria das Graças e Manoel Gonçalves de Freitas Neto. Eles são acusados de adotar condutas “omissivas e comissivas” que teriam causado a deterioração de um bem tombado, além de negligenciar medidas de conservação de significativo interesse ambiental e cultural.
Na mesma ação, o órgão solicitou o afastamento cautelar dos denunciados de suas funções por 120 dias. No entanto, o pedido foi negado pela juíza, permitindo que ambos continuassem em seus cargos. Em sua decisão, ela destacou a ausência de indícios de risco iminente ou de urgência que justificassem a medida, considerando ainda que não havia manifestação da defesa.
A audiência de instrução e julgamento está agendada para 7 de outubro.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice