Conceição Evaristo recebe título Doutora Honoris Causa pela UFMG
Escritora foi condecorada com a mais alta honraria concedida pela universidade. "Emoção muito grande", afirmou
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Siga noA escritora belo-horizontina Conceição Evaristo recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de Doutora Honoris Causa, a mais alta honraria acadêmica. A cerimônia de nomeação lotou o auditório da reitoria, no Campus Pampulha, na noite desta segunda-feira (29/9).
Maria da Conceição Evaristo de Brito, de 79 anos, é a 22ª pessoa em toda a história da universidade a receber o título honorífico, numa listagem que inclui o ex-presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e o escritor José Saramago (1922-2010) — até então o único Doutor Honoris Causa indicado pela Faculdade de Letras.
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Em suas palavras, Conceição se diz emocionada com o recebimento do título, especialmente vindo da maior universidade mineira, e que às vezes se vê pensando: “que estou vivendo uma ficção”. Crescida na antiga favela do Pindura Saia, na região Centro-Sul da capital, a escritora fez a vida no Rio de Janeiro, para onde se mudou por razões profissionais.
“(Vir a Minas) traz toda a minha história de vida, minha infância, minha vida profissional. E mais do que isso. Me dá a certeza de que o que me traz aqui é a literatura. É a literatura que tem me conduzido até aqui”, conta.
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HOMENAGENS
Antes da recente nomeação, Conceição recebeu o mesmo título honorífico pelo Instituto Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS), pela Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O título honoris causa é concedido a personalidades que se destacam por suas contribuições à ciência, à cultura, à educação ou às humanidades de forma geral. A honraria é entregue independentemente da pessoa ter ou não formação acadêmica.
Conceição, contudo, construiu forte legado como pesquisadora, sendo mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com a dissertação “Literatura negra: uma poética da nossa afro-brasilidade” (2009), e doutora em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com a tese “Poemas malungos: cânticos irmãos” (2011).
Com uma vida dedicada às salas de aula, como estudante e professora, Conceição avalia que o recebimento do título Doutora Honoris Causa expressa um propósito que defende: a educação como um direito de todos.
“A gente percebe hoje, com as ações afirmativas, como a face da universidade mudou. Eu acho que uma universidade pública empenhada na educação em todas as áreas do conhecimento é um setor que a nação brasileira precisa reconhecer e precisa sustentar urgentemente. Não há como pensar um Estado democrático se não pensar numa educação democrática”, defende.
RECONHECIMENTO
A outra grande faceta da obra de Conceição é a literatura. Tanto que, no ano passado, a escritora foi nomeada imortal da Academia Mineira de Letras (AML), sendo a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na entidade, sucedendo a professora Maria José de Queiroz. Sua primeira obra lançada individualmente, o romance Ponciá Vicêncio (2003), foi prestigiada pouco após o lançamento, vindo a ser selecionada para o vestibular da UFMG em 2008 e 2009.
Outras obras de destaque da biografia da escritora são os romances Becos da memória (2006) e Canção para ninar menino grande (2022). Por Olhos d’água (2014), Conceição recebeu um Prêmio Jabuti no ano seguinte, na categoria contos e crônicas, vindo a ser novamente premiada como personalidade literária na edição de 2019.
A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, explica que o manifesto que motivou a nomeação de Conceição Evaristo ao título de Doutora Honoris Causa considerou o impacto deixado em todas as suas obras e pesquisas. O regimento geral da universidade estabelece que o título honorífico só é entregue após a aprovação, por voto secreto, de ao menos dois terços do Conselho Universitário e da congregação.
“A obra dela tem um valor inestimável. Não apenas para as gerações mais novas, mas para toda a literatura brasileira. É um reconhecimento nacional e internacional, e nos orgulha muito pela oportunidade de prestar essa homenagem”, relata a reitora.